'Eu me tornei outra pessoa', diz Andreas Kisser, guitarrista do Sepultura, sobre morte da mulher, de câncer, em 2022

Guitarrista conta que perda de Patrícia Perissinotto mudou sua visão de mundo sobre vida, carreira e o Sepultura

Por — São Paulo


O guitarrista do Sepultura, Andreas Kisser, durante o show com a Orquestra Sinfônica Brasileira Mauro Pimentel/AFP

Andreas Kisser, à frente do Sepultura que anunciou o fim da banda nesta sexta-feira (8), conta que a morte de sua esposa Patrícia Perissinotto — em decorrência de um câncer — foi uma triste experiência que o fez repensar os planos de vida, o que incluía a continuidade da mais famosa banda de heavy metal brasileira, sob os olhos do mercado internacional. Junto ao difícil quadro da companheira, Kisser descobriu que muito pouco (ou quase nada) se falava sobre cuidados paliativos e menos ainda se discute sobre suicídio assistido frente a casos delicados de saúde.

— Essa parada do Sepultura é uma consequência desse processo que passei com minha esposa por conta do câncer. Essa coisa da discussão do cuidado paliativo que da dignidade a quem está sofrendo vai muito além da morfina — afirmou Kisser ao GLOBO em referência ao time de especialistas que é necessário para oferecer dignidade aos pacientes que estão frente a um tratamento de alguma doença incurável. — Essa porta gigante que se fechou com a partida da minha esposa levou uma parte gigante minha, mas abriu outras coisas que estavam dormindo. Eu me tornei outra pessoa. Notei que respeitar a finitude dá uma ressignificação maior a tudo. Não só à vida, mas à carreira, ao que é o Sepultura ou às possibilidades que surgem após a essa parada.

Andreas e a mulher, Pat Kisser — Foto: Reprodução

Após os 18 meses da chamada turnê de despedida, o guitarrista deve dar ainda mais tração ao movimento “Maetricia”— cuja ideia é discutir o luto de maneira aberta — e ainda realizar mais uma edição do Patfest, atração musical que arrecada fundos à Comunidade Compassiva, grupo que leva cuidados paliativos a comunidades de baixa renda. Neste ano, as atividades relacionadas a essas ações arrecadaram cerca de R$ 57 mil para a causa.

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Em setembro do ano passado, Kisser voltou a assumir a guitarra do Sepultura no Rock in Rio, quando o grupo abriu o Palco Mundo ao lado da Orquestra Sinfônica Brasileira, após a perda de Patrícia, em junho.

— Foi duro para quem ficou também, como o Paulo (Xisto, baixista do Sepultura), pois a Patricia era praticamente uma irmã para ele, mas os shows foram incríveis. Vamos juntando os cacos — disse o guitarrista, à época.

Maior nome do rock nacional sob a mira do mercado global, o Sepultura anunciou nesta sexta-feira, em coletiva em São Paulo, sua derradeira turnê. O grupo, que comemora 40 anos de fundação em 2024, lançou 15 discos e realizou 10 turnês mundiais. Antes do encerramento das atividades, que Kisser chamou de uma “parada”, a banda fará uma turnê ao longo de 18 meses e percorrerá 40 cidades de diferentes partes do mundo. O início da tour derradeira deve ser no dia 1 março, com datas no Brasil. A discussão sobre a interrupção nas atividades tem sido levada internamente há pelo menos dois anos, contaram integrantes da banda.

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