Andreas Kisser, a frente do Sepultura que anunciou o fim da banda nesta sexta-feira, conta que a morte de sua esposa Patrícia Perissinotto — em decorrência de um câncer — foi uma triste experiência que o fez repensar os planos de vida, o que incluía a continuidade da mais famosa banda de heavy metal brasileira, sob os olhos do mercado internacional. Junto ao difícil quadro da companheira, Kisser descobriu que muito pouco (ou quase nada) se falava sobre cuidados paliativos e menos ainda se discute sobre suicídio assistido frente a casos delicados de saúde.
— Essa parada do Sepultura é uma consequência desse processo que passei com minha esposa por conta do câncer. Essa coisa da discussão do cuidado paliativo que da dignidade a quem está sofrendo vai muito além da morfina — afirmou Kisser ao GLOBO em referência ao time de especialistas que é necessário para oferecer dignidade aos pacientes que estão frente a um tratamento de alguma doença incurável. — Essa porta gigante que se fechou com a partida da minha esposa levou uma parte gigante minha, mas abriu outras coisas que estavam dormindo. Eu me tornei outra pessoa. Notei que respeitar a finitude dá uma ressignificação maior a tudo. Não só à vida, mas à carreira, ao que é o Sepultura ou às possibilidades que surgem após a essa parada.
Após os 18 meses da chamada turnê de despedida, o guitarrista deve dar ainda mais tração ao movimento “Maetricia”— cuja ideia é discutir o luto de maneira aberta — e ainda realizar mais uma edição do Patfest, atração musical que arrecada fundos à Comunidade Compassiva, grupo que leva cuidados paliativos a comunidades de baixa renda. Neste ano, as atividades relacionadas a essas ações arrecadaram cerca de R$ 57 mil para a causa.
O momento pessoal, ele conta, resvalou em um período mais tranquilo da banda, de organização e de colhida de louros do álbum “Quadra”, lançado em 2020 pela atual formação do quarteto e que foi muito elogiado.
— Essa era o momento de fazer isso (encerrar a banda), houve épocas do Sepultura era uma zona. Estivemos nos últimos tempos tão focados, tão tranquilos, que vamos acabar em paz. Não seremos vítimas de uma consequência qualquer que poderia acabar com a banda — explica.
Com o fim da derradeira das turnês, Kisser ainda tem planos dentro da música, mas não quer restringir-se ao heavy metal em novas empreitadas. Ele, inclusive, já tocou ao lado de ídolos brasileiros de outras freguesias, caso de Zé Ramalho e da dupla Chitãozinho & Xororó. E, diante desse currículo diverso, promete seguir na trilha da experimentação.
— Quero me dedicar mais ao violão, é o que eu estudo. Fiz um disco com a Céu e com o Pupilo, foi fantástico. Já faço isso, mas agora vou ter mais espaço (na agenda).