RIO — Lançado mundialmente na sexta-feira, “Quadra” , o 15° álbum em 35 anos de carreira do Sepultura , surpreendeu até quem se julga conhecedor da banda. Uma série de críticas positivas — e não só de veículos especializados em heavy metal — chamaram a atenção novamente para os roqueiros brasileiros mais bem-sucedidos no cenário internacional. Desde 1996, o grupo teve que lidar com o trauma da saída do fundador e figura de frente, o vocalista e guitarrista Max Cavalera .
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— Não me lembro na carreira do Sepultura de ter tido uma resposta tão forte a um disco... não sei o que aconteceu! — brinca o guitarrista Andreas Kisser, integrante do Sepultura desde 1987. — Esse é um disco especial, o terceiro com a mesma formação, na mesma gravadora. É um disco em que a gente usou elementos de tudo que já fez na carreira, mas com a atitude e as ideias de hoje.
Junto com o baixista Paulo Jr. (único integrante desde a fundação), o vocalista americano Derrick Green (que entrou em 1997) e o baterista Eloy Casagrande (na banda desde 2011), Andreas montou todo o conceito e as canções de “Quadra”, disco que surgiu a partir de seus interesses por numerologia e da leitura de um livro: “Quadrivium: As quatro artes liberais clássicas da aritmética, da geometria, da música e da cosmologia”, organizado pelo inglês John Martineau.
— A quadra é um território demarcado por quatro linhas, onde existe um conjunto de regras e onde o jogo acontece — explica o guitarrista, que de repente se viu investigando “o porquê de a gente defender certas ideias que a não sabe nem de onde vieram”. — A gente tem fã no Irã, tem fã no Iraque, todos vestindo camisas pretas, mas cada um com suas características culturais. Acho que a gente deveria respeitar, não atacar as diferenças. As pessoas hoje estão tão afundadas nos seus próprios conceitos...
Estereótipos, segundo Andreas Kisser, estão sendo usados cada vez mais para provocar ódio — mas isso não é algo que ele considere novidade.
— Desde que eu nasci, em 1968, o Brasil é um país inacreditável. Saímos de uma ditadura, passamos por Tancredo Neves, Sarney, Collor... e Itamar Franco! Até parece que o Brasil virou outro país, mas ele sempre foi assim — argumenta Andreas. — O que há agora é que as pessoas saíram do armário, a gente consegue ver quem é quem. Para mim, há realmente um retrocesso de retórica, de conquistas, mas isso faz parte da democracia. A gente não pode ficar na ilusão de que o Brasil é esse país bonzinho que recebe todo mundo de braços abertos.
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Organizado matematicamente, “Quadra” tem quatro grupos de três canções cada, que se distribuem perfeitamente pelos quatro lados de um LP duplo:
— Para o lado A, a gente trouxe um pouco mais do old school , do thrash metal da época do “Beneath the remains” ( álbum de 1989 ) e do “Arise” ( de 1991 ). O lado B é mais da percussão brasileira, da coisa grooveada, que a gente usou a partir do “Roots” ( de 1996 ). O lado C é mais instrumental, uma vertente que o Sepulltura explorou desde o primeiro disco que eu fiz com a banda, em 1987 ( “Schizophrenia” ). É também o lado mais de rock progressivo. E o D é o Sepultura mais melódico, com umas músicas mais arrastadas.
Em 18 de março, o Sepultura começa turnê por Estados Unidos e Canadá com as bandas americanas Sacred Reich, Crowbar e Art of Shock . Junho e julho, eles excursionam pela Europa. Já agosto e setembro devem ser dedicados a shows pela América Latina e Ásia.
— O Brasil, a gente está querendo deixar para o fim do ano ou para 2021. É só ter um pouco de paciência, a gente vem com tudo — promete.
Sem polêmicas
O Sepultura só não tem tempo para pensar em polêmicas, como a de uma possível volta de Max. A saber: Gloria Cavalera, mulher e empresária do músico, veio recentemente às redes sociais para dizer que um retorno jamais vai acontecer.
Andreas comenta:
— A gente está aqui há 35 anos porque sempre vive o momento intensamente, porque não está preso ao passado.