Amizade de Ziraldo e Luis Fernando Verissimo foi marcada por 'admiração mútua' e 'encontros divertidos'

Quando nasceu o filho de seu amigo Chico Caruso, o pai do Menino Maluquinho foi ao hospital levando uma caixa de lápis de cor

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Os amigos Ziraldo, Luis Fernando Verissimo e Zuenir Ventura Leo Martins

O Menino Maluquinho tinha a sua turma: Juju, Bocão, Carolina, Lúcio, Junim... E Ziraldo, pai do moleque, também tinha a dele. Morto neste sábado (6), aos 91 anos, o cartunista e ícone da literatura infantil foi amigo do peito de algumas das figuras mais ativas da cultura nacional das últimas décadas, como o escritor Luis Fernando Verissimo, o jornalista Zuenir Ventura e os irmãos cartunistas Paulo e Chico Caruso.

Em 2015, as histórias de Ziraldo, Zuenir e Verissimo inspiraram o musical “BarbarIdade”, sobre a velhice, escrito por Rodrigo Nogueira. Recolhido desde 2021 por problemas de saúde, Verissimo, de 87 anos, não pôde conversar com o GLOBO, mas sua esposa, Lucia, fala pelos dois. Ela diz que o mineiro e o gaúcho “tiveram uma longa amizade, marcada por admiração profissional mútua, encontros divertidos e viagens pelo Brasil e pelo exterior”. Lucia se lembra bem de uma dessas viagens:

— Em visita à Alemanha Oriental, em plena Friedrichstrasse (centro de Berlim), Ziraldo defendeu a guia que nos acompanhava e estava sendo retida por ter com ela um jornaleco proibido — recorda Lucia. — Ele se recusou a cruzar a fronteira de volta caso ela não fosse liberada. Falou tanto, em português, que acabou conseguindo. Enfim, foram muitos anos de colaboração profissional e amizade carinhosa.

Na época da viagem, a Alemanha Oriental vivia sobre uma ditadura comunista. Ziraldo também combatia o autoritarismo no Brasil. Foi um dos fundadores do jornal O Pasquim, símbolo da resistência cultural às arbitrariedades do regime militar. O pai do Menino Maluquinho também irritava políticos com suas charges — alguns ligavam para ele logo cedo para reclamar.

A jornalista Fernanda Verissimo, filha do criador do Analista de Bagé, se lembra outra história de Ziraldo no além-mar.

— No final dos anos 90, morei dois anos em Moçambique. Havia desenhos de Ziraldo por várias paredes da capital, Maputo. Acho que ele tinha passado por lá depois da Independência (1975), levado pela embaixada brasileira. Lá, ele deixou não só arte, mas também uma lembrança muito afetuosa entre os moçambicanos que o conheceram — conta Fernanda.

Padrinho

Em 1979, Ziraldo passou a dividir página de charges do Jornal do Brasil com Chico Caruso. Em março de 1981, quando nasceu o ator Fernando Caruso, filho de Chico, Ziraldo publicou no JB um desenho do colega segurando um bebê para justificar a ausência dele naquele dia.

— Ele foi ao hospital no mesmo dia em que o Fernando nasceu levando uma caixa de lápis de cor Johann Faber, que promete substituir por uma de Caran d’Ache, uma marca francesa — lembra Eliana Caruso, esposa do cartunista. — Ziraldo fez parte da nossa vida. Fernando o amava muito e tinha todos os livros dele. Ele se vestia de Menino Maluquinho e um dia fez Ziraldo assinar todos os livros.

Convite do aniversário de Fernando Caruso desenhado por Ziraldo — Foto: Arquivo pessoal

Ziraldo desenhou o convite da festa de 18 anos de “Fernandinho”, que chamou de “meu afilhado”. O ator publicou uma homenagem ao cartunista nas redes sociais. “Como uma criança que tinha fogo no rabo e vontade de abraçar o mundo com as pernas, Ziraldo sempre foi uma enorme influência. Minha primeira coleção — coleção mesmo — foram os quadrinhos do Menino Maluquinho. Hoje leio os livros pra minha filha. Vão-se as canetas, ficam os desenhos. Celebre Ziraldo, abra seus livros, faça a borboleta continuar voando! No mais espero ter crescido pra virar um cara legal”, escreveu.

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