Ziraldo sempre foi inimigo do autoritarismo. Morto neste sábado (6), aos 91 anos, o pai do Menino Maluquinho foi um dos fundadores do jornal O Pasquim, símbolo da resistência cultural às arbitrariedades do regime militar. Ele também irritava políticos com suas charges — alguns ligavam para ele logo cedo para reclamar.
Numa viagem à Alemanha Oriental, que vivia sob uma ditadura comunista, Ziraldo defendeu a guia turística que o acompanhava, que fora retida por carregar um jornal proibido. Quem conta essa história é Lucia Verissimo, esposa do escritor Luis Fernando Verissimo. O mineiro e o gaúcho mantiveram uma "longa amizade, marcada por admiração profissional mútua, encontros divertidos e viagens pelo Brasil e pelo exterior".
— Ele se recusou a cruzar a fronteira de volta caso a guia não fosse liberada. Falou tanto, em português, que acabou conseguindo — recorda Lucia. — Enfim, foram muitos anos de colaboração profissional e amizade carinhosa.
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A jornalista Fernanda Verissimo, filha do criador do Analista de Bagé, se lembra outra história de Ziraldo no além-mar.
— No final dos anos 90, morei dois anos em Moçambique. Havia desenhos de Ziraldo por várias paredes da capital, Maputo. Acho que ele tinha passado por lá depois da Independência (1975), levado pela embaixada brasileira. Lá, ele deixou não só arte, mas também uma lembrança muito afetuosa entre os moçambicanos que o conheceram — conta.
Em 2015, as histórias de Ziraldo, Verissimo e do jornalista Zuenir Ventura inspiraram o musical “BarbarIdade”, sobre a velhice, escrito por Rodrigo Nogueira.