O general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, afirmou em seu depoimento à Polícia Federal ter dito a Jair Bolsonaro em mais de uma ocasião que não foi encontrada nenhuma prova de fraude nas urnas eletrônicas.
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Fontes envolvidas com a investigação relataram que, no depoimento de quase oito horas prestado na última sexta-feira (1), o general também contou ter se manifestado contra iniciativas golpistas de Bolsonaro, tanto em reuniões com o próprio presidente quanto em discussões reservadas no Ministério da Defesa.
O ex-comandante, que depôs como testemunha, confirmou ainda ter participado da reunião em que Bolsonaro discutiu com comandantes das Forças uma minuta de golpe, como relatou em delação premiada o ex-ajudante de ordens do então presidente da República, o tenente-coronel Mauro Cid.
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Freire Gomes atuou como comandante do Exército entre março e dezembro de 2022, período no qual as Forças Armadas e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entraram em pé de guerra por conta do sistema eletrônico de votação.
Mas, conforme informou o blog à época, a fiscalização realizada pelas Forças Armadas no processo de votação organizado pelo TSE não encontrou nenhuma irregularidade nas eleições durante o primeiro turno. As conclusões do trabalho não foram apresentadas ao público, mas foram descritas a Bolsonaro pelo Ministério da Defesa.
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O então presidente, porém, não autorizou a divulgação dos resultados naquele momento, segundo relatos feitos por três generais (dois do alto comando) a fontes da equipe da coluna à época.
De acordo com o relato de um deles, ao ser informado das conclusões do trabalho – que avaliou uma amostra de ao menos 385 boletins de urna e um projeto-piloto com uso da biometria para testar 58 aparelhos – o presidente da República disse que os militares deveriam se esforçar mais, porque as informações não batiam com o que ele próprio soube a respeito do assunto.
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O relatório só foi divulgado em 9 novembro de 2022, após a apertada vitória de Lula nas urnas, sem conseguir confirmar as suspeitas de fraude lançadas por Bolsonaro.
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“Vamos aguardar o relatório do Exército, pra gente saber o que eles vão trazer. É importante para nós. Mas não temos nada na mão, por enquanto”, afirmou na ��poca o presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, um dia antes da divulgação do documento, ao ser questionado se a legenda pretendia questionar o resultado das urnas.
O PL acabou contestando o resultado de mais de 250 mil urnas sem apresentar provas de irregularidades, o que levou a legenda a ser condenada pelo TSE a pagar uma multa de R$ 22,9 milhões por litigância de má-fé, ou seja, por acionar a Justiça de forma irresponsável.
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Além das Forças Armadas, a Controladoria-Geral da União (CGU) também atuou na fiscalização do processo eleitoral – e, assim como os militares, não chegou à conclusão que Bolsonaro queria para impedir a posse de Lula.
“Presidente, um ponto importante. Eu recebi o relatório da última fiscalização da CGU, e eu não tive coragem de mandar, porque o relatório estava horrível, uma merda, não falava nada com nada. Eu não entendi nada do relatório”, disse o então-ministro-chefe da CGU Wagner Rosário a Jair Bolsonaro, na reunião em que foi discutida a trama golpista, em julho de 2022. O comentário se referia à primeira etapa do sistema eletrônico de votação, envolvendo o código-fonte das urnas.
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A CGU só concluiu a fiscalização do processo eleitoral em um relatório de dezembro de 2022, que veio a público após a equipe da coluna obter acesso ao documento via Lei de Acesso à Informação.
“No âmbito de atuação da CGU como entidade fiscalizadora, considerando o escopo de ação definido pela Controladoria e os instrumentos de fiscalização disponíveis na Resolução TSE nº 23.673/2021 (que trata dos procedimentos de fiscalização e auditoria do sistema eleitoral), não foram verificadas inconsistências no sistema eletrônico de votação entre as situações previstas e as verificadas pelas equipes”, concluiu o relatório, que não foi divulgado pela CGU nem por Bolsonaro.
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A Controladoria-Geral da União tem status de ministério e foi chefiada até 31 de dezembro de 2022 pelo auditor Wagner Rosário, homem de confiança de Bolsonaro.
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Rosário atualmente é controlador-geral do Estado de São Paulo na gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), também aliado de Bolsonaro.
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Freire Gomes depôs na condição de testemunha e como ajudou no aprofundamento da apuração, integrantes da Polícia Federal avaliam que a postura colaborativa afasta o risco de o ex-comandante ser acusado de prevaricação, como querem militares bolsonaristas em retaliação ao general.
Ele foi o último dos ex-comandantes a prestar depoimento à PF depois da operação Tempus Veritatis, que revelou uma série de evidências da participação de Jair Bolsonaro, ex-ministros e oficiais das Forças Armadas em uma tentativa de golpe de Estado.
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Procurada pela equipe da coluna, a defesa de Freire Gomes informou que não se manifestaria. Wagner Rosário não comentou.