Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Informações da coluna

Por Johanns Eller

Uma obscura empresa de serviços aeroportuários com origem nos Emirados Árabes Unidos recebeu pagamentos de mais de R$ 1 milhão no cartão corporativo da Presidência da República no governo Jair Bolsonaro, tornando-se o terceiro maior fornecedor de serviços do Planalto na gestão passada.

Sem grande expressão mundial, a iJet Global DMCC ficou atrás apenas de uma rede de hotelaria (1,4 milhão de reais) e outra de supermercados (R$ 1,1 milhão).

Os pagamentos à iJet Global foram feitos entre outubro de 2019 e novembro de 2021, período em que Bolsonaro viajou em missão oficial a 12 países.

Os gastos foram compilados pela organização sem fins lucrativos Fiquem Sabendo a partir do Projeto Cartão Corporativo, financiado pela organização americana MuckRock.

De acordo com a Casa Civil de Lula, a iJet forneceu “serviços de apoio de solo às aeronaves que se encontravam à disposição das comitivas presidenciais em solo estrangeiro”.

O ministério comandado por Rui Costa não explicou os critérios adotados na contratação da empresa e nem em quais viagens ela serviu o ex-presidente.

Mas, no intervalo em que estão concentrados os primeiros desembolsos, de outubro de 2019 a fevereiro de 2020, o ex-presidente da República visitou oito países, entre eles os Emirados Árabes Unidos, a iJet Global recebeu R$ 948.014.

Mais adiante, em novembro de 2021, o cartão corporativo da Presidência pagou mais R$ 104,9 mil à iJet Global pelo serviço de bordo fornecido pela companhia durante uma viagem ao Bahrein naquele mês.

Por lei, as despesas relacionadas ao apoio de solo, comissária aérea, seguro viagem internacional e entre outras são de responsabilidade da Presidência. Já os custos com as viagens presidenciais ao exterior ficam a cargo do Itamaraty.

A partir do histórico de gastos com cartão corporativo na gestão Bolsonaro é possível identificar que outras companhias que prestam esse tipo de serviço também foram contratadas pela Presidência, mas nenhuma com a frequência e nem pelos valores recebidos da iJet.

Mais recentemente, em novembro de 2022, a companhia sofreu sanções dos Estados Unidos. Segundo o Departamento de Tesouro americano, a empresa transportou para a Rússia drones de origem iraniana que seriam usados na Guerra na Ucrânia. Ainda segundo as autoridades dos EUA, a empresa teria sedes em Dubai, nos Emirados Árabes; Damasco, capital da Síria; nas Ilhas Baleares, na Espanha e em Malta.

Depois das restrições impostas pelos americanos, a iJet parece ter desaparecido do mapa: o site atualmente está fora do ar e suas redes sociais deixaram de ser atualizadas.

Quem permanece ativo na internet é o CEO da companhia, o empresário de origem emiradense Adnan Branbo, que atua como influencer coach no TikTok. Com 26 mil seguidores na plataforma, ele costuma falar sobre táticas de negociação em vídeos que acumulam milhões de visualizações.

No LinkedIn, se apresenta como advogado com PhD em Direito Comercial em Harvard e diploma de legislação aérea internacional pela Associação Internacional de Transportes Aéreos (Iata). Procurado por meio das redes sociais, Branbo não retornou até o fechamento desta reportagem.

A partir da plataforma Internet Archive, uma iniciativa sem fins lucrativos que armazena registros da web, é possível aferir que o site da iJet Global ficou brevemente acessível no início de fevereiro deste ano.

No material disponível, a companhia diz ter atuado em mais de 1.500 aeroportos em 195 países pelo mundo – mais do que os 193 Estados reconhecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Afirma ainda que embora a companhia tenha sido “estabelecida recentemente” (em 2014, no caso) a equipe “tem anos de experiência na indústria”.

A iJet também registrou no site fazer parte de entidades como a Associação Europeia de Aviação Corporativa e a Associação de Aviação Corporativa de Malta. Mas a empresa não consta na lista de integrantes dessas entidades.

Também não há registros da atuação da iJet Global em sites especializados desde a fundação até as sanções dos EUA.

Há apenas uma menção em um catálogo de uma feira do setor aéreo em Dubai, organizada em abril de 2018. A empresa aparece entre centenas de expositoras e mesmo assim em um pequeno anúncio que cita a origem emiradense e destaca serviços de solo e de bordo.

Em função do histórico nebuloso da empresa, nós questionamos a Casa Civil sobre os critérios e procedimentos adotados para a contratação de empresas de serviço de apoio de solo.

Em resposta, a pasta informou que os esclarecimentos deveriam ser prestados pelo Gabinete de Segurança Institucional (GSI).

Nós procuramos o ministério chefiado pelo general Marcos Antonio Amaro dos Santos na última segunda-feira e cobramos informações sobre o contrato. Mas apesar da insistência da equipe do blog, não houve resposta até o fechamento desta reportagem.

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