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A Petrobras perdeu R$ 34 bilhões na Bolsa em valor de mercado ontem, após a saída de Jean Paul Prates do comando da empresa, segundo levantamento da Elos Ayta Consultoria. As ações ordinárias da estatal, com direito a voto, encerraram em queda de 6,78% e as preferenciais (sem voto) em baixa de 6,04%. O desempenho da estatal ainda puxou para baixo o Ibovespa, que recuou 0,38%, aos 128.027 pontos, em um dia de forte alta nas principais bolsas do mundo.

Mas se todo esse estrago com o mau humor dos investidores no mercado financeiro era previsível, por que o presidente Lula resolveu trocar o comando da Petrobras agora?

A resposta está na velocidade da expansão dos investimentos da Petrobras, um tema considerado importante para o governo no Planalto. Nos bastidores, o presidente reclamava a ministros e auxiliares próximos que Prates fazia “corpo mole” por ser excessivamente alinhado com o mercado financeiro.

Lula já tinha decidido indicar Magda Chambriard, para o lugar de Prates desde abril. Ela havia se reunido com o presidente nos últimos dias e prometeu acelerar projetos que o governo considera “estruturantes”, como a retomada da Refinaria Abreu e Lima e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, além de investimentos em gás e fertilizantes.

Na prática, ela assumirá o posto com a missão de acelerar obras e projetos, em uma agenda Lula para a Petrobras. Desde que assumiu, em janeiro de 2023, o presidente vinha cobrando a retomada desses projetos, que considera geradores de emprego e renda. Além de cobrar a volta da política de conteúdo local, com maior presença de componentes e obras nacionais nas encomendas da Petrobras.

Lula quer que a petroleira aposte na construção de navios em estaleiros nacionais, à semelhança do que já foi feito em seus dois primeiros mandatos e naufragou no governo de Dilma Rousseff. A construção de novas refinarias e sondas, por exemplo, foi interrompida em consequência do escândalo de corrupção detonado pela Lava-Jato, há dez anos, e os investimentos em fertilizantes foram suspensos na gestão de Michel Temer por serem considerados antieconômicos.

‘Visão nacional’

Ontem, Magda, que é engenheira, foi funcionária de carreira da Petrobras por mais de 20 anos e dirigiu a Agência Nacional do Petróleo (ANP) no governo de Dilma Rousseff, reuniu-se por duas horas com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Ele foi o principal desafeto de Prates e contou com o apoio do ministro da Casa Civil, Rui Costa, para convencer Lula a substitui-lo.

Na conversa, a executiva ouviu que é preciso dar ênfase à “visão nacional” na petroleira e rapidez nos desembolsos da companhia. A ordem é tirar os investimentos do papel o quanto antes, segundo integrantes do governo a par da conversa.

Silveira reforçou no encontro que o governo tem interesse em ver o atual plano bilionário de investimentos efetivamente cumprido. Há preocupação no governo sobre o ritmo de execução dos projetos aprovados. Magda e Silveira falaram ainda sobre o mercado de gás e o avanço da exploração na Margem Equatorial, projeto que envolve a prospecção na Foz do Amazonas.

Aval de Silveira e Costa para nomear

Magda foi escolhida com o avali dos ministros Silveira e Costa. Fontes próximas a ela dizem que a engenheira não tem perfil de "rainha da Inglaterra", mas apesar do apoio dos ministros que combateram Prates, ela sabe que não terá “carta branca” para escolher a diretoria e os principais cargos da empresa. Prates teve e as nomeações eram um dos focos de tensão com Silveira.

Magda terá voz na definição de nomes para compor a cúpula da empresa, mas fará apenas “sugestões” para o quadro de diretores, que deve ser reformulado. Segundo integrantes do governo, os nomes terão de passar pelo crivo de Silveira e Costa.

O movimento marca o avanço da influência dos dois na companhia. A Petrobras é formalmente vinculada ao Ministério de Minas e Energia. Até então, Prates tinha a prerrogativa de apontar a maior parte dos nomes que representam a União no conselho, incluindo o presidente do colegiado. Prates tinha autonomia para escolher auxiliares, diretores e gerentes.

A Casa Civil já está fazendo informalmente um diagnóstico do perfil dos atuais diretores e quais trocas devem ser mais imediatas. Embora o nome de Magda tenha que passar por uma série de trâmites para cumprir as regras de governança da Petrobras, como análise pelo Comitê de Pessoas e pelo Conselho de Administração, o governo quer colocá-la no cargo o mais rápido possível.

Um dos cargos na mira é o de Carlos José Nascimento Travassos, diretor de Engenharia, que centraliza a contratação de empreiteiras e estaleiros, diante de relatos de atraso na ampliação da exigência de conteúdo local nos projetos.

Outro que pode ser substituído é o advogado-geral da Petrobras, Marcelo de Oliveira Mello. No Executivo, haveria interesse também na troca do atual diretor de Governança, Mário Spinelli, mas sua saída requer um acordo com minoritários, em um processo mais complexo.

‘Maldição da Petrobras’

Ontem mesmo, dois nomes ligados a Prates foram demitidos pelo Conselho de Administração. Em reunião extraordinária, o colegiado aprovou a saída de Prates do comando e a destituição do diretor Financeiro, Sergio Caetano Leite, e do gerente de Relações Institucionais, João Paulo Madruga.

Os dois eram nomes de confiança de Prates. Não foi uma reunião amena. Os representantes dos acionistas minoritários se queixaram da demissão de Prates e reclamaram da forma como o governo, acionista controlador, conduziu a troca no comando. Uma das fontes resumiu a interferência do governo na empresa como “uma maldição”.

Enquanto a guinada na empresa não se concretiza, Clarice Coppetti, diretora de Assuntos Corporativos, foi nomeada para assumir a presidência da estatal em caráter interino.

E por que o mercado não aprovou?

Com a notícia da demissão de Prates na noite de terça-feira, antecipada pela colunista do GLOBO Malu Gaspar, os papéis da companhia já iniciaram o dia com turbulência. As ações chegaram a cair 9,57%, na mínima do dia, e a entrar em leilão na B3, mecanismo da Bolsa para quando há oscilação muito forte nas cotações ou a divulgação de fato relevante sobre a empresa enquanto o pregão ainda está em andamento.

Apesar de Magda Chambriard, indicada para assumir o comando da empresa, ter experiência no setor e ter sido funcionária de carreira da Petrobras, a leitura do mercado é que a troca evidencia maior risco de ingerência política na companhia e mudanças no plano de investimentos.

— Não se sabe qual é o potencial de mudança que pode acontecer. Os três pontos-chave que o mercado fica de olho na Petrobras são a distribuição de dividendos, os investimentos e o preço dos derivados no país — diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

O Citigroup disse em nota que a demissão de Prates marca uma deterioração na governança da Petrobras e Magda chega com pressão para acelerar a expansão dos investimentos da estatal, o que pode resultar em menores dividendos.

Por outro lado, o Goldman Sachs destacou em relatório que a atual governança da estatal impede mudanças significativas por uma nova diretoria. O banco reconhece, no entanto, que a saída de Prates retoma os ruídos sobre intervenção política.

Para a XP Investimentos, a mudança repentina na gestão traz incerteza. “Os investidores estão particularmente preocupados com conflitos de interesse em temas como distribuição de dividendos, política de preços, planos de investimento, passivos fiscais contingentes, e outros. Embora não esperemos mudanças significativas nos dividendos e planos de capex (despesas de capital) a curto prazo, reconhecemos que a incerteza aumenta consideravelmente a percepção de risco”, escreveram os analistas em relatório.

“Não é preciso dizer que isso é negativo, e acreditamos que os investidores começarão novamente a precificar maiores riscos de interferência política na empresa”, afirmou o BTG Pactual em relatório.

Uma preocupação do mercado, destacou o banco, é que Prates era visto como um “forte defensor” da remuneração aos acionistas, então a postura de Magda em relação a esse assunto será importante para tranquilizar os investidores.

O BTG reiterou a sua recomendação de compra para as ações, no entanto, e afirma que essa troca não deve ameaçar a distribuição de dividendos em 2024 e 2025 de forma significativa.

O Jefferies, banco de investimentos americano, afirmou que a troca indica maior intervenção política na empresa.

Prates negou atrasos e Haddad ficou fora

Na reunião com Lula na terça-feira, Prates negou a demora nos projetos e afirmou que eles têm prazo de maturação. Ontem, fez um balanço de sua gestao ao se despedir da equipe na estatal. A decisão de Lula, porém, já estava tomada desde a crise dos dividendos extraordinários da compahia. Prates defendia que metade dos R$ 43,9 bilhões fosse distribuído aos acionistas.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também era a favor do pagamento, já que parte dos recursos vai para os cofres da União. O conflito se tornou público pelo próprio Prates, que se absteve de votar na reunião do Conselho de Administração, na qual Lula havia ordenado que os representantes da União votassem pela retenção dos dividendos. Desta vez, Haddad optou por se manter fora das discussões sobre a troca no comando da Petrobras.

Segundo aliados, Lula nunca perdoou Prates por se abster. Só esperou para demiti-lo porque não queria fazer pressão sobre os principais desafetos do executivo, Silveira e o ministro da Casa Civil, Rui Costa. Na época, ele também não tinha ainda um substituto. Ele acabou optando por Magda ao ser convencido não só por Costa como por Jaques Wagner (PT-BA), que já havia defendido o nome dela para a Petrobras durante a transição de governos.

Mais recente Próxima Regras e disputas na Petrobras indicam que não será tão fácil para Magda fazer o que Lula quer na estatal
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