Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Escolhida presidente interina da Petrobras pelo Conselho de Administração da nesta quarta-feira (15), a diretora executiva de Assuntos Corporativos, Clarice Coppetti, é a única diretora da companhia que foi nomeada diretamente por indicação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Sua escolha para o cargo tem a ver principalmente com esse vínculo, já que o resto da diretoria foi nomeado por indicação do próprio Jean Paul Prates, que renunciou ao cargo nesta tarde depois de ter sido demitido por Lula em uma reunião no Palácio do Planalto, na noite de terça-feira.

Os outros diretores da companhia são todos ligados ou ao próprio Prates, ou ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ou à Federação Única dos Petroleiros, a FUP. Nenhum deles teria condições políticas de assumir a empresa no novo contexto, em que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o da Casa Civil, Rui Costa, terão mais poder sobre as decisões.

O racha entre os representantes de Silveira na petroleira – conhecidos como "Silveirinhas"- e os aliados de Prates é tão profundo que, na mesma reunião em que Clarice foi nomeada, o presidente do conselho, Pietro Mendes, pediu a destituição dos dois homens fortes do CEO demissionário: o diretor-financeiro Sérgio Caetano Leite e o assessor João Paulo Madruga.

Não é comum o conselho destituir diretores ou mesmo assessores, mas a iniciativa de Pietro – principal aliado de Silveira na Petrobras e desafeto declarado de Prates – demonstra o tamanho da indisposição entre eles.

Do primeiro escalão da Petrobras, Clarice Coppetti é a única contra quem o grupo de Silveira não tem o que opor, uma vez que ela é da confiança do próprio presidente da República.

Ligação com PT e 'Lula Livre'

Economista de formação, Coppetti é casada com Cezar Alvarez, ex-assessor palaciano de Lula que foi nomeado para a divisão de Comunicações do gabinete de transição em 2022.

Quando o petista cumpria pena pela condenação na Lava-Jato, Clarice foi a representante do movimento “Lula Livre” na Itália e articulou o apoio de juristas e personalidades do país europeu à campanha pela soltura do petista.

A ligação histórica com o PT e a solidariedade enquanto o presidente estava na prisão em Curitiba rendeu a ela a diretoria, criada em abril do ano passado em meio às mudanças que a gestão Prates conduziu no organograma, substituindo a Diretoria de Relacionamento Institucional e Sustentabilidade.

Segundo fontes da equipe do blog, na diretoria Clarice recebe um salário de R$ 130 mil, mais bônus. A área cuida da publicidade da companhia, além da gestão de pessoas, segurança, meio ambiente, saúde e segurança e tecnologia da informação.

Na gestão de Jair Bolsonaro, o setor esteve na mira do presidente, que tentou intervir pessoalmente na área, indicando pessoas e sugerindo contratações. Isso porque o órgão, apesar de contar com um orçamento menor do que outras áreas da petroleira, tem maior flexibilidade de gastos pela diversidade de serviços - o que aumenta seu capital político.

Além disso, é considerada uma área estratégica por estar ligada à imagem da Petrobras.

O apadrinhamento por Lula garantiu prestígio a Clarice na cúpula da Petrobras. É atribuída à executiva a nomeação de Clodiana Brescovit, próxima do PT do Rio Grande do Sul, para a Diretoria Financeira da Saúde Petrobras. A associação, responsável pelo plano de saúde dos funcionários da companhia, tem 261 mil beneficiários.

Nas gestões anteriores do PT, a nova presidente interina da Petrobras foi vice-presidente de Tecnologia e Informação da Caixa Econômica Federal entre 2004 e 2011. Pela atuação no cargo, chegou a ser alvo de sanções do Tribunal de Contas da União (TCU).

Na ocasião do julgamento da corte contábil, Clarice e outros integrantes da Caixa foram condenados a pagar multas por “ato praticado com grave infração à norma legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial” na ocasião da manobra fiscal, incluindo a então presidente do banco, Maria Fernanda Coelho, e outros vice-presidentes.

No caso específico da economista, a decisão se baseou em uma resolução aprovada pela Caixa em 2010, da qual foi uma das signatárias como vice-presidente e que permitiu a manipulação do balanço dois anos depois, com a anuência da cúpula do banco estatal.

Na mesma decisão, o TCU decidiu não proibir que Clarice e os outros arrolados no processo assumissem cargos comissionados ou de confiança no futuro. A restrição ficaria sujeita às regulações das próprias estatais, como no caso da Petrobras. A economista recorreu da decisão do tribunal e conseguiu anular a multa em 2019.

Quando seu nome foi sugerido, a área de governança apontou ressalvas à nomeação justamente em função desse histórico, mas elas foram ignoradas pela cúpula.

O escândalo da Caixa não foi o único enrosco envolvendo a economista. Em 2006, Clarice chegou a depor na CPI dos Bingos para esclarecer a quebra de sigilo bancário pela Caixa dos dados de Francenildo Santos Costa, caseiro que ganhou notoriedade ao expor a participação do então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, em reuniões com lobistas.

Na ocasião, Clarice foi convocada para esclarecer a possível participação do setor de tecnologia, comandado por ela, no vazamento dos dados do caseiro – o que ela sempre negou. O escândalo levou à demissão de Palocci, um dos homens fortes de Lula, e do dirigente do banco, Jorge Mattoso.

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