Cultura
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Por — Rio de Janeiro

O que você faz quando uma série de declarações antissemitas o tornam uma estrela pop tóxica e o fazem perder gravadora, contratos milionários, possibilidades de shows e cerca de US$ 1,5 bilhão de sua fortuna? Se você se chama Kanye West, não há dúvida: dobra a aposta.

Lançado no último sábado depois de muitas idas e vindas, “VULTURES 1”, álbum com o cantor de R&B Ty Dolla $ign, pode ser resumido pela 15ª de suas 16 faixas, “Problematic”, na qual Kanye admite: “quando falo o que penso, rolam umas ações judiciais e umas mudanças de mobiliário”. Ou então, se optarmos pelo mais infeliz dos versos da faixa: “não sou racista, é uma preferência”.

Não parece ser casual que “VULTURES 1” (o primeiro de uma prometida série de três discos) saia quase 20 anos depois de “The college dropout”, álbum de estreia de Kanye West, que o projetou como um sopro de inovação em um rap que se esgotava entre repetições gangsta.

Depois de três lançamentos que soavam mais como manifestos do que discos de fato — “Ye” (2018), “Jesus is King” (2019) e “Donda” (2021) —, ele reuniu alguns de seus melhores colaboradores (ao menos, os que ainda se dispuseram a ficar do seu lado) para produzir um álbum coeso, reconectando-se com as qualidades que fizeram dele um pilar do rap — mas sem arredar pé de suas insustentáveis convicções.

Kanye mal espera “VULTURES 1” começar para informar, na faixa de abertura “Stars”, que manteve “alguns poucos judeus” na sua equipe. Em “Carnival” (que nesta quinta-feira estava no primeiro lugar do Top 50 — Mundo do Spotify), ele se esbalda no mau gosto ao perguntar: “Como posso ser antissemita se eu f* uma cadela judia?”. E ao encerrar o disco com “King”, gaba-se: “Louco, bipolar e antissemita / e ainda sou o Rei”.

Artista que cultivava a fama de impulsivo até que soaram os primeiros alertas quanto à saúde mental, e que começou uma insólita aproximação com o ex-presidente Donald Trump antes de se ligar a supremacistas brancos (neonazistas) como Nick Fuentes e o assassino condenado Varg Vikernes (do projeto musical norueguês Burzum, a quem chegou a homenagear numa primeira proposta de capa para “VULTURES 1”), Kanye leva para o disco o seu desgoverno disfarçado de afã em lutar contra tudo e contra todos. E avisa, a todo momento, que não vai mudar.

O que não quer dizer que o álbum não tenha seus bons momentos — afinal, Kanye West, que já foi parceiro de Paul McCartney, é, em sua essência, um artista impossível de ser ignorado, mesmo que a distância entre posar de antissemita e ser um antissemita diminua a cada dia.

Capa do álbum 'VULTURES 1', de Kanye West e Ty Dolla $ign — Foto: Reprodução
Capa do álbum 'VULTURES 1', de Kanye West e Ty Dolla $ign — Foto: Reprodução

Hoje bem mais um brilhante curador do que um inovador, ele consegue montar uma faixa empolgante como “Back to me”, extraindo o melhor da perícia verbal dos rappers Freddie Gibbs e Quavo — por mais irresponsável e infantil que seja aquilo que é dito, é irresistível acompanhar o fluxo de versos e a engenharia das provocações.

O poder do rap – para o bem e para o mal — está todo ali, ainda mais se acompanhado das batidas perfeitas, como as de “Paperwork”, que o americano pegou da “Montagem faz macete 3.0”, dos DJs brasileiros de funk Roca e Vitinho Beats.

O reconhecimento de suas vulnerabilidades também é uma arma a que Kanye West recorre em “VULTURES 1”, seja ao mostrar-se enternecido pelo fato de a sua filha North estar crescendo muito rápido (em “Talking”) ou ao sacar, em “Hoodrat”, uma gravação do célebre pugilista Mike Tyson falando sobre a sua pessoa: “sem dúvida ele tem alguns problemas mentais, muitos líderes têm. A questão do delírio, ‘eu sou um deus.’” E por falar nas esferas superiores, o rapper de “Jesus is king” agora se diz, em “Carnival”, “um novo Jesus, que transforma água em champanhe”.

Já no bom R&B “Burn”, Kanye avança em seu muito questionável discurso ao perguntar: “Quem não se diverte com a minha dor?” Isso, só para concluir: “Queimei oito milhões (de dólares, acredita ele) para me livrar dos meus grilhões”.

Removido da Apple Music

Mas nem tudo saiu como ele lutou para saísse em “VULTURES 1”: Ozzy Osbourne barrou um sample de “Iron man”, do Black Sabbath, em “Carnival” (alegando que não queria ter nada a ver com um antissemita) e, supostamente, por queixas da família da cantora Donna Summer, “Good don’t die” foi retirada do Spotify na tarde de quarta-feira, já que tinha uma interpolação não creditada (e adulterada) da música “I feel love”. Na quinta-feira à tarde, o álbum inteiro foi removido da Apple Music e do iTunes. “Carnival”, que estava no primeiro lugar das paradas desse serviço de streaming, no entanto foi adicionado novamente como single ao Apple Music e ao YouTube Music.

Mesmo que almejando mais uma vez a glória conquistada em meio à adversidade – como foi em álbuns como “808 & heartbreak” (2008) e “My Beautiful Dark Twisted Fantasy” (2010), obras decisivas do pop, que Kanye produziu em períodos de tormentas emocionais —, “VULTURES 1” desta vez não aponta para saídas. Apenas esbarra em velhos muros que a humanidade deveria há muito ter derrubado.

Cotação: Ruim

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