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Por , Especial para O GLOBO

Sandra Hüller é o grande destaque da atual temporada cinematográfica. A atriz alemã foi indicada ao Oscar por sua performance em “Anatomia de uma queda” (dirigido pela francesa Justine Trier e que concorre a cinco estatuetas, incluindo melhor filme) e estrela de “Zona de interesse” (longa-metragem de Jonathan Glazer igualmente finalista de cinco categorias do Oscar). Curiosamente, ao terminar o curso de teatro, decidiu que não começaria a carreira profissional em um palco da capital de seu país: preferiu se juntar aos integrantes de uma companhia de teatro de Jena, pequena cidade da região de Turíngia, onde cresceu.

— Felizmente, minha estreia não aconteceu em um grande palco de Berlim, ou algo parecido. Em espaços grandiosos, os erros são mais perceptíveis, e alguns podem matar uma carreira. E eu tinha muito medo do escrutínio dos outros, da opinião pública — contou Sandra durante o Festival de Roterdã, aonde foi promover “Zona de interesse”, que já tem sessões de pré-estreia nas salas brasileiras e estreia oficial na quinta-feira (15).

Recebida como estrela na cidade holandesa, onde também participou de um (concorrido) encontro com o público, Sandra se vê novamente sob os holofotes, agora amplificados pelo brilho das indicações e prêmios que seu trabalho nos dois longas-metragens vem conquistando. No Festival de Cannes, onde o filme de Justine ganhou a Palma de Ouro, e o de Glazer, o Grande Prêmio do Júri, ela estava acompanhada de um time. Como ela, que também concorre aos prêmios Bafta, o Oscar britânico, pelos dois filmes, tem lidado agora com a atenção pública?

— Ainda não estou acostumada — contou a atriz de 45 anos. — Encaro isso de formas distintas, porque as circunstâncias são diferentes. Primeiro de tudo, todos nós vamos morrer, então é melhor aproveitar (sorri). Mas, às vezes, me pego rindo de todo esse entusiasmo que percebo à minha volta. Vou passear com o meu cachorro perto da minha casa e ouço algumas pessoas gritando “parabéns!” na minha direção. Gente que nunca vi antes! Rio disso, mas gosto.

Sandra é um talento familiar em seu país há anos: ganhou o Urso de Prata de melhor atriz em Berlim com o drama “Requiem” (2006), de Hans Christian Schmid, e flertou com a popularidade internacional com a comédia “Toni Erdmann” (2016), de Maren Ade, uma das sensações de Cannes naquele ano, e que a transformou em um rosto conhecido fora da Europa. Mas precisou passar por um teste, como qualquer outra atriz, que escolheria a intérprete de Hedwig Höss, a mulher do oficial nazista de “Zona de interesse”. Um projeto que inicialmente rejeitou.

— Como acontece em casos de produção estrangeira que faz seleção de elenco em outro país, eles não informam o nome do diretor ao candidato. Recebi apenas algumas páginas de roteiro com diálogos de uma discussão de um casal. Comecei a pressionar e uma pessoa da produção me disse que o diretor era o Jonathan e que o filme falava de uma família que morava perto do campo de Auschwitz. Imediatamente disse: não, não, não. Tive uma reação física, não queria fazer parte daquilo, ou interpretar aquela mulher — recordou Sandra.

Vizinha de Auschwitz

A ideia do Holocausto visto pela perspectiva da família feliz de um oficial nazista a assustava e a confundia. Levemente inspirado no livro homônimo de Martin Amis, o roteiro de Glazer descreve o cotidiano do comandante Rudolf Höss (Christian Friedel) e de Hedwig (Sandra) no lar que construíram para eles e os filhos ao lado do campo de concentração na Polônia anexada. Ali eles fazem planos para o futuro, indiferentes ao som de tiros e gritos e da fumaça das câmaras de gás que vêm do terreno ao lado.

— Quando finalmente conheci o Jonathan, tivemos várias conversas sobre isso. Descobri que ele tinha as mesmas inseguranças e dúvidas que eu sobre aquela história. Ele não queria contar uma história já vista inúmeras vezes antes no cinema. Os personagens e os seus atos não poderiam ser glorificados, não podiam ter emoções, como muitas vezes vemos em filmes — disse a atriz, em cartaz num teatro da Alemanha com uma versão de “O anjo exterminador”, de Luis Buñuel.

Sandra diz que interpretar Hedwig não a agradava, mas ela “queria fazer parte daquele processo”:

— Levei um seis meses para dizer sim ao projeto. Acho que o que ficou dentro de mim foi a urgência de falar sobre o fascismo, como ele é criado. Os desenvolvimentos políticos nos dias de hoje avançam lentamente, mas nos conduzem de volta a esse fenômeno. Jonathan trabalhou pesquisando seis anos sobre aqueles personagens, inspirados em pessoais reais, tentando abordá-los com a responsabilidade que o tema demanda e criar uma história única. Ele tornou importante, para mim, falar abertamente sobre o fascismo histórico e contemporâneo.

Em uma das sequências mais perturbadoras de “Zona de interesse”, Hedwig recebe roupas usadas que um funcionário do campo acaba de trazer, possivelmente retiradas dos judeus assassinados naquele dia. Ela distribui algumas peças entre as empregadas da casa e sobe com um casaco de peles para o quarto. Lá, ela o experimenta e, ao checar seus bolsos, encontra um batom. Ato contínuo, senta-se na cômoda para aplicá-lo, alheia ao caminho do cosmético até ali.

— Normalmente, tento criar alguma conexão com os personagens que interpreto. Pode ser um segredo, compartilhado apenas com seu parceiro ou com o diretor. Mas, no caso de Hedwig, senti que essa ligação seria impossível. Ela não valia a pena — lamentou a atriz. — Então, por causa da raiva que sinto por esse tipo de pessoa, e a sua ignorância, não permiti que Hedwig tivesse qualquer emoção, senso de beleza ou de amor. Porque isso é impossível para quem tem consciência de que seres humanos são assassinados ao lado de sua casa. Então eu me concentrei em sua fisicalidade.

Com Sandra, a escritora que tenta provar sua inocência na morte do marido em “Anatomia de uma queda”, a abordagem foi oposta (e a partir daqui tem spoiler):

— Todo mundo tem uma teoria para culpá-la ou absolvê-la do crime. A própria Justine me disse a pior coisa que se pode dizer para quem queria saber da verdade: “Interprete-a como se ela fosse inocente”. Eu nem precisava desse conselho. Eu só queria defendê-la, acontecesse o que acontecesse, porque achei o roteiro muito inteligente e amava a personagem. Só que eu não poderia fazê-la totalmente simpática para o espectador.

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