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Pouco mais de duas semanas após o acidente de helicóptero que matou Ebrahim Raisi, no final de maio, o anúncio dos candidatos aprovados para a sucessão do presidente iraniano surpreendeu pela presença de um nome: Masoud Pezeshkian, um médico alinhado aos reformistas, e que havia sido barrado da disputa de 2021, que levou Raisi ao poder. Com 16,3 milhões de votos, Pezeshkian derrotou o ex-chanceler Saeed Jalili no segundo turno, realizado nesta sexta-feira. O “doutor”, como é chamado pela imprensa local, precisou brigar para “certificar” suas credenciais reformistas, e para quebrar a apatia geral do eleitorado. Nem sempre com sucesso garantido.

Vindo do Azerbaijão Ocidental e um dos mais vocais representantes da etnia azeri, a segunda mais numerosa do Irã, Pezeshkian estudou medicina nos anos finais do reinado de Mohammad Reza Pahlevi, e foi para as linhas de frente na guerra Irã-Iraque (1980-1988), onde atuou como médico e como combatente. Após o fim do conflito, que deixou cerca de um milhão de mortos, se tornou cirurgião cardíaco e assumiu a direção da Escola de Medicina da Universidade de Tabriz em 1994.

Mas além do sucesso profissional, aquele ano marcaria sua vida pessoal e política de maneira definitiva: ele perdeu a mulher e um de seus filhos em um acidente de carro. Pezeshkian tomou a decisão de jamais se casar novamente, e de criar sozinho os outros três filhos do casal — dois meninos e uma menina —, algo que criou em torno de si uma aura de compaixão e resiliência, especialmente depois de entrar na vida pública.

No final dos anos 1990, em meio à expectativa por mudanças criada após a inesperada eleição do reformista Mohammad Khatami à Presidência, o “doutor” assumiu o posto de vice-ministro da Saúde, e se tornaria titular da pasta em 2001, quando Khatami foi reeleito, novamente com uma votação considerável, 77,1%.

Iranianas mostram os dedos marcados com tinta depois de votarem no segundo turno da eleição presidencial no Irã — Foto: RAHEB HOMAVANDI / AFP
Iranianas mostram os dedos marcados com tinta depois de votarem no segundo turno da eleição presidencial no Irã — Foto: RAHEB HOMAVANDI / AFP

Não foi um período simples, e ele era alvo recorrente de ataques de parlamentares conservadores e da própria base do governo: em 2003, sobreviveu a um processo de impeachment no Majlis, o Parlamento iraniano, no qual foi questionado sobre o uso de recursos do Banco Mundial para melhorar a qualidade dos serviços de saúde no país. Também foi acusado de permitir o declínio dos padrões acadêmicos na formação de médicos, e de não implementar políticas adequadas de tratamento para o elevado número de usuários de drogas, uma das maioires questões de saúde pública no país até hoje.

A chegada do populista Mahmoud Ahmadinejad ao poder, em 2005, o jogou para a oposição. Eleito deputado pela região de Tabriz, em 2006, o “doutor” se tornou uma voz contra a repressão do governo contra a dissidência. Em 2009, ano em que a reeleição de Ahmadinejad foi questionada nas ruas pelo chamado “Movimento Verde”, fez duros discursos no plenário, e não raro era interrompido por deputados governistas. Ele foi eleito cinco vezes consecutivas para o Legislativo, e chegou a ocupar a vice-presidência da Casa entre 2016 e 2020.

Pezeshkian tentou concorrer à Presidência outras duas vezes: em 2013, quando desistiu no início da disputa, e em 2021, quando não foi aprovado pelo Conselho dos Guardiões. Mas ao receber sinal verde para concorrer em 2024, ele passou a ser alvo de escrutínio não apenas do campo conservador, contra quem concorreu nas urnas, mas também dos próprios eleitores que poderiam votar no dito reformista.

O “doutor” esteve ao lado de Khatami e de suas tentativas de modernizar o Irã e de melhorar os laços com o exterior, e na oposição defendeu figuras como o candidato derrotado por Ahmadinejad em 2009, Mir Hossein Moussavi, símbolo do Movimento Verde — durante a campanha, Pezeshkian usou a imagem e o nome de Moussavi, uma decisão criticado pela família do candidato, que está em prisão domiciliar desde 2011 e que defendeu o boicote à votação.

Ele defendeu o acordo internacional sobre o programa nuclear do país, firmado pelo moderado Hassan Rouhani em 2015 — um dos arquitetos do plano, o ex-chanceler Javad Zarif, integrou sua campanha —, é crítico das políticas sobre o uso do véu, e apoiou os protestos iniciados após a morte da jovem Mahsa Amini, em 2022. Contudo, assim como ocorreu com Moussavi, parentes dos mais de 500 mortos na repressão estatal criticaram o uso dos nomes de seus filhos, sobrinhos e irmãos como uma arma eleitoral do reformista.

Apoiadores durante comício do candidato reformista à Presidência do Irã, Masoud Pezeshkian, em Teerã — Foto: ATTA KENARE / AFP
Apoiadores durante comício do candidato reformista à Presidência do Irã, Masoud Pezeshkian, em Teerã — Foto: ATTA KENARE / AFP

O maior “porém” em torno de Pezeshkian foi sua própria presença nas cédulas. Para muitos dos que se opõem ao regime, incluindo os que sofreram na pele a violência nas ruas e prisões, e que viram seus candidatos barrados pelas autoridades eleitorais no passado, qualquer votação na República Islâmica é ilegítima. Aliado à apatia relacionada à falta de melhorias econômicas e políticas no país, isso explica os baixíssimos níveis de comparecimento às urnas, os piores desde a Revolução de 1979.

Além de aceitar concorrer, Pezeshkian foi criticado por defender a manutenção do regime, por homenagear a Guarda Revolucionária — inclusive usando um uniforme no Parlamento — e por prestar lealdade ao líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Em março, ele sugeriu que só não foi desqualificado da disputa por causa da intervenção direta de Khamenei. Sua defesa das minorias étnicas, especialmente dos azeris e dos curdos, é apontada como um fator de risco para a estabilidade nacional, embora ele prometa governar o Irã para todos. Para quebrar as resistências, o "doutor" usou, além de suas credenciais alinhadas ao reformista, seu passado dedicado à administração pública, sua história de vida e a ausência de acusações de corrupção, algo raro na política iraniana.

Para analistas, a escolha por Pezeshkian, um reformista “conhecido” do regime, e que não deve questionar a autoridade de Khamenei se eleito, foi uma tentativa do líder supremo de mostrar algum tipo de “pluralidade” na disputa, depois dos vetos amplos e quase irrestritos de 2021, e de impulsionar o comparecimento às urnas. Taxas abaixo dos 50%, como nas últimas votações, levantariam questões sobre a legitimidade da República Islâmica, especialmente no exterior — em um discurso às vésperas do primeiro turno, Khamenei pediu que os iranianos fossem às urnas para “mandar uma mensagem aos inimigos”.

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