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Benedict Cumberbatch em cena de 'A incrível história de Henry Sugar' — Foto: Divulgação
Benedict Cumberbatch em cena de 'A incrível história de Henry Sugar' — Foto: Divulgação

Muito antes de “O fantástico Sr. Raposo” (2009), animação inspirada no livro homônimo de Roald Dahl (1916-1990), a obra do escritor britânico já andava no radar de Wes Anderson. “A incrível história de Henry Sugar”, que faz parte do mais novo trabalho do diretor americano (é o primeiro de uma série de quatro filmes curtos que entraram na grade da Netflix) é a materialização de um projeto que nasceu há quase 20 anos, quando o texano conheceu a família do autor de histórias infantis mundialmente consumidas, como “A fantástica fábrica de chocolate” e “Matilda”.

— Cresci amando os livros de Dahl, e “A incrível história de Henry Sugar e outros contos” era um dos meus favoritos, mas nunca consegui encontrar a maneira ideal de adaptá-lo para o cinema — contou Anderson durante o Festival de Veneza, onde o média-metragem inspirado no conto que dá nome à coletânea foi exibido em sessão especial. — Os herdeiros de Dahl seguraram os direitos de adaptação para mim, mas só recentemente entendi que a chave era preservar a linguagem de Dahl, e só então criar algo em torno de suas palavras, junto com atores.

Um dos sete contos da antologia lançada em 1977, “A incrível história de Henry Sugar” chega ao público em um momento em que a linguagem de Roald é questionada e vetada. Em fevereiro, a editora Puffin Books, subsidiária da Penguin Random House, que publica a obra de Dahl, anunciou que havia reeditado os livros do escritor, eliminando trechos ou expressões “ofensivos” ao público infantil, com a justificativa de um esforço por uma linguagem mais inclusiva.

Diretor Wes Anderson no Festival de Cannes de 2023 — Foto: Zoulerah NORDDINE / AFP
Diretor Wes Anderson no Festival de Cannes de 2023 — Foto: Zoulerah NORDDINE / AFP

Editora voltou atrás

O nome do escritor já vinha sendo alvo de polêmicas no Reino Unido, por Dahl ter usado de expressões consideradas antissemitas em artigos publicados em jornais nos anos 1980. Criticada por exercer uma espécie de censura, a editora voltou atrás e anunciou que lançaria no final do ano a coleção infantil original de Dahl com os textos clássicos, mantendo, portanto, referências à aparência física, à saúde mental, ao gênero ou à raça dos personagens consideradas desagradáveis.

— Compreendo as motivações por trás das críticas aos livros de Dahl, mas não vejo por que alguém deveria alterar a obra de um autor que não está mais entre nós, só para agradar a uma certa sensibilidade — reagiu o cineasta. — Uma pintura de Renoir, por exemplo, deve ser corrigida? Eu diria imediatamente que não. O que está feito está feito, alguém comprou, está em um museu. Não gosto nem da ideia de que o artista modifique suas obras, por mais que entenda os motivos. O público também participa de uma obra de arte, e ele sabe disso.

“A incrível história de Henry Sugar” narra a aventura do personagem-título, interpretado por Benedict Cumberbatch, um homem muito rico que encontra um velho caderno empoeirado em uma vasta biblioteca doméstica. Nele, um médico indiano (Dev Patel) descreve uma de suas descobertas, considerada uma maravilha clínica: um homem (Ben Kingsley) que aprendeu a “ver sem usar os olhos”. Sugar decide aprender tal habilidade e usá-la para fazer fortuna nos cassinos.

Assim como “Asteroid City”, o longa-metragem anterior do diretor, lançado em maio no Festival de Cannes, “Henry Sugar” é narrado como uma história dentro de outra história: Dahl apresenta Sugar, que conta o caso do médico descrevendo as maravilhas do homem milagroso, que desenvolveu seus poderes com um guru refugiado na selva. Anderson diz que buscou o meio do caminho entre o teatro e o cinema, sem comprometer seu estilo peculiar de encenação, baseado em simetrias e paletas de cores esmaecidas.

— Há realizadores que dedicaram toda a sua trajetória a transpor obras literárias para o cinema. Para quem está de fora, adaptar um livro pode parecer simples, porque o diretor já tem um caminho traçado. Mas, quando comparado com um romance, o cinema é capaz de oferecer algo mais: ele dá corpo à imaginação. Gosto desse aspecto do trabalho de adaptação e o vejo como um desafio — explicou o cineasta de 54 anos, que concorreu ao Oscar de roteiro com “Os excêntricos Tenenbaums” (2001), “Moonrise Kigdom” (2012) e “O Grande Hotel Budapeste” (2014).

O aspecto teatral é uma das maiores marcas da filmografia do diretor, que sempre preferiu efeitos práticos, mecânicos, a efeitos especiais por computador. Ele reconhece potencial no uso de inteligência artificial no cinema, mas não considera essa tecnologia fundamental para seus filmes.

— Só uso o que está no set, o que é material real. Não preciso usar telas verdes como pano de fundo para coisas que serão adicionadas posteriormente, ou criar imagens em computador para animar objetos — disse Anderson, que já trabalhou diversas vezes com animação tradicional, como em “Ilha dos Cachorros” (2018). — Mesmo meus desenhos animados são artesanais, usamos fantoches para contar histórias. Tento usar o máximo possível de material concreto.

“A incrível história de Henry Sugar” faz parte de uma série de adaptações de outros textos de Dahl dentro do mesmo formato:

— Já fizemos “O cisne”, um dos contos da antologia “Henry Sugar”, com Rupert Friend. Há outro chamado “Veneno”, de que sempre gostei. E também adaptamos o conto “O caçados de ratos”, que faz parte do livro “Claud’s dog”, um dos textos mais obscuros de Dahl, ambientado na zona rural da parte oriental da Inglaterra. São todos muitos estranhos, peculiares, e gosto muito disso — observou.

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