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A aposentada Rosana Maria Rodrigues, de 55 anos, aceitou o convite da prima para ir ao cinema na segunda-feira. As duas não paravam de ouvir falar sobre o filme “Som da liberdade”. As recomendações vinham por meio de amigos e das redes sociais. Decidiram então matar a curiosidade.

— Fiquei interessada porque é um filme cristão, e eu sou cristã — disse Rosana.

Público crescente

No Madureira Shopping, na Zona Norte do Rio, cada ingresso que o funcionário Rafael Martins recebia tinha quase sempre o mesmo destino: a sala de “Som da liberdade”.

— Quanto mais os dias passam, maior é a procura — ele observou.

A sessão em que a reportagem do GLOBO esteve presente era extra, tamanha a demanda — no site do Kinoplex, que administra as salas do shopping, a sessão das 18h10 aparecia quase esgotada e a seguinte, das 20h30, tinha apenas 26 ingressos disponíveis duas horas antes de seu início. O autônomo Rafael Gallindo, de 42 anos, levou a mulher e a mãe com ele e sentiu dificuldade em encontrar ingressos. O casal soube do filme por amigos da igreja e também pela repercussão na internet.

— Tirando as redes sociais, foi no boca a boca mesmo. Foi difícil comprar, achamos só essa sessão. Nossos amigos todos falaram bem e viemos conferir — disse Rafael.

Alguns foram assistir sem saber muito bem a história do filme, ouviram falar aqui e ali e resolveram ver o que era. Foi o caso do professor de Educação Física Marcelo de Paula, de 34 anos:

— Eu vinha ver “Claudinho e Bochecha” (“Nosso sonho”), mas vim ver este antes. Posso ser sincero? Não sei nem do que se trata.

Os amigos Yan Oliveira, de 21 anos, e Matheus Araújo, de 20, tinham visto o trailer e gostaram porque era baseado em acontecimentos reais. Já o comerciante Genilson Pedro, de 44 anos, foi com a mulher, Mirian Gomes, e com o filho Michael Pedro, de 16 anos. Ele conta que ouviu de amigos que o filme tratava de uma realidade importante e a família resolveu ver “como detalham a temática”.

Na sala de cinema, famílias inteiras, casais, idosos e estudantes se prepararam com seus baldes de pipoca para a exibição do longa-metragem. “Som da liberdade” é inspirado na Operação Underground Railroad, capitaneada pelo agente do Departamento de Segurança Interna dos EUA Tim Ballard, que desbaratou uma quadrilha internacional de traficantes de crianças. No filme, ele é interpretado por Jim Caviezel (que fez o papel de Jesus em “A Paixão de Cristo”), e alia-se a um ex-membro do Cartel de Medellín que ouviu um chamado divino e se embrenha na selva colombiana para salvar uma menina hondurenha, vítima de exploração sexual. O próprio Ballard, no entanto, foi envolvido em denúncias de importunação sexual após acusação de sete mulheres.

“Nenhum dos filhos de Deus está à venda”, diz o protagonista, que é mórmon e pai de nove filhos. Nessa hora, um rapaz sentado na sessão apontou o dedo para a tela com firmeza em concordância. Diante da história cruel, dava para ouvir comentários como “ai, meu Deus” ou “caramba, se prostituíam seis vezes por noite?”. Entre um alívio cômico e outro, risadas. Aqui e ali, um choro de criança quebrava os momentos de silêncio do longa— ainda que a classificação etária do filme seja de 14 anos, gente de bem menos que isso acompanhava os pais.

O “Som da liberdade” foi lançado nos EUA em julho e, no Brasil, está em cartaz desde o dia 20 de setembro — já arrecadou mais de US$ 200 milhões em todo o mundo, se tornando a produção independente mais bem-sucedida desde o oscarizado “Parasita”. Isso mesmo, independente. É produzido pelo modesto estúdio Angel, conhecido pela série “The Chosen”, que narra a vida de Jesus e é exibida pela Netflix.

Nos últimos dias, vídeos com multidões indo aos cinemas para assistir ao filme viralizaram na internet brasileira. Mais do que pelo sucesso inesperado de um longa que não se parece com um blockbuster, o filme chama a atenção por ter se tornado pivô de discussões políticas e culturais. Nos EUA, conservadores, apoiadores de Donal Trump e até mesmo o próprio ex-presidente dos EUA, fizeram coro a favor do longa. Por aqui, os deputados Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli e Mario Frias compareceram à pré-estreia em Brasília. Num vídeo na rede social X (ex-Twitter), a senadora Damares Alves convocou toda a “comunidade cristã” a “lotar os cinemas”.

'Um anjo pagou adiantado'

Além do boca a boca e da repercussão nas redes sociais, o longa tem sua carreira auxiliada pelo fato de a produtora oferecer ingressos ao público brasileiro gratuitamente. Nas cenas pós- créditos, é disponibilizado um QR Code que leva o espectador para o site da produtora do longa-metragem, e lá é possível pagar por ingressos para terceiros, como uma vaquinha on-line (R$ 22 por um bilhete, R$ 44 por dois, R$ 66 por três, R$ 88 por quatro, R$110 por cinco, R$154 por sete, R$ 220 por dez, R$ 330 por 15, R$ 440 por 20 e R$770 por 35), ou retirar entradas gratuitas para o filme. Cada pessoa pode retirar até oito ingressos por sessão. Essas entradas estariam então sendo bancadas por esses doadores.

“Um anjo pagou adiantado para que você possa assistir a ‘Som da liberdade’ nos cinemas gratuitamente”, ressalta um comunicado do estúdio. O próprio nome da produtora americana faz referência à estratégia dos “investidores-anjos”, em que, além do financiamento coletivo para as produções, incentiva-se a compra antecipada de ingressos para doação. O GLOBO entrou em contato com a empresa, mas não obteve retorno. Já a Paris Filmes, que é a distribuidora no Brasil, respondeu que não há informação sobre quantos ingressos foram distribuídos dessa forma e que “essa disponibilização de ingressos está sendo feita pela Angel, distribuidora internacional do filme”. No caso dos personagens ouvidos pela reportagem, todos pagaram por seus ingressos.

O sucesso mundial do longa já levou o diretor, o mexicano Alejandro Monteverde, a planejar um documentário sobre a “odisseia” do longa. Quando esteve no Brasil para o lançamento, no mês passado, Monteverde fez questão de dissociar a obra da teoria da conspiração à qual vinha sendo associada, propagada pelo grupo QAnon, uma organização bastante popular entre a extrema-direita nos EUA que, entre outras teses, acusa progressistas de controlarem redes globais de tráfico sexual infantil.

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