Uma comitiva da Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) virá ao Brasil no final de maio e deve cobrar o governo Lula sobre a instalação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e a localização de vítimas desaparecidas no regime militar.
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O retorno da comissão está diretamente relacionado a uma decisão da Corte de 2010 que responsabilizou o Brasil pelo desaparecimento de 62 militantes de esquerda na guerrilha do Araguaia durante a ditadura militar. Na sentença, a corte determina que o país localize os corpos das vítimas, o que é justamente o objetivo do grupo.
A recriação da comissão estava prevista no relatório de transição do governo Lula e deveria ter sido implantada até 1º de março de 2023, mas os acontecimentos do 8 de janeiro levaram ao temor no Palácio do Planalto de que a iniciativa pudesse causar atritos com as Forças Armadas, com quem a relação da cúpula lulista já estava bastante tensa.
Desde então, porém, já se passou mais de um ano desde que a minuta recriando o colegiado ficou pronta, e a Casa Civil da Presidência da República continua segurando a medida, gerando um impasse com o Ministério dos Direitos Humanos, comandado por Silvio Almeida, que é um dos órgãos responsáveis pelo cumprimento da sentença, ao lado da Advocacia-Geral da União (AGU) e do Ministério das Relações Exteriores.
Naquela decisão, a Corte IDH havia exigido que o Estado brasileiro realizasse “todos os esforços para determinar o paradeiro das vítimas desaparecidas e, se for o caso, identificar e entregar os restos mortais a seus familiares”.
No fim de maio, integrantes da Corte devem desembarcar em Brasília para verificar o cumprimento da sentença e das medidas de reparação fixadas.
Ao realizarem a supervisão da decisão no caso Araguaia, os integrantes da Corte IDH devem emitir uma resolução sobre o grau de cumprimento da sentença por parte do Estado brasileiro.
Integrantes do Ministério dos Direitos Humanos temem que, com a comissão de mortos e desaparecidos políticos deixada em banho-maria pelo Planalto, o órgão internacional conclua que o Brasil esteja “em desacato” em relação à sentença de 2010 – e isso seja incluído no relatório a ser enviado pela Assembleia Geral da OEA.
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![O primeiro presidente civil depois da ditadura militar foi José Sarney, que assumiu o cargo após a morte de Tancredo Neves, eleito indiretamente e empossado no Congresso — Foto: Sergio Marques/Agência O Globo/15-03-2003](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/sG3NbyRvTH6OxR1UiC--OLNwVLE=/0x0:3072x2048/648x248/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/C/B/yKzO9mQsCjEkq1GD5dmg/41711741-15031985-sergio-marques-pa-projeto-2000-jose-sarney-toma-posse-no-congresso-como-o.jpg)
![O primeiro presidente civil depois da ditadura militar foi José Sarney, que assumiu o cargo após a morte de Tancredo Neves, eleito indiretamente e empossado no Congresso — Foto: Sergio Marques/Agência O Globo/15-03-2003](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/RYX2zmcN8iSFotkU-noNz4IQzkY=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/C/B/yKzO9mQsCjEkq1GD5dmg/41711741-15031985-sergio-marques-pa-projeto-2000-jose-sarney-toma-posse-no-congresso-como-o.jpg)
O primeiro presidente civil depois da ditadura militar foi José Sarney, que assumiu o cargo após a morte de Tancredo Neves, eleito indiretamente e empossado no Congresso — Foto: Sergio Marques/Agência O Globo/15-03-2003
![Fernando Collor sobe a rampa do Planalto como presidente eleito em 1990 — Foto: Mino Pedrosa/Agência O Globo/15-03-1990](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/CVeRLhtq1x4OxMO7h7GKg7cWtz0=/0x0:1966x1300/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/w/2/aLeslZSfOvD1xoaWFWpA/22790176-pa-rio-de-janeiro-rj-15-03-1990-posse-de-fernando-collor-de-mello.-foto-mino-pedrosa-agen.jpg)
![Fernando Collor sobe a rampa do Planalto como presidente eleito em 1990 — Foto: Mino Pedrosa/Agência O Globo/15-03-1990](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/cUvDWZO9maFk3mevqxn7B4V3oIE=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/w/2/aLeslZSfOvD1xoaWFWpA/22790176-pa-rio-de-janeiro-rj-15-03-1990-posse-de-fernando-collor-de-mello.-foto-mino-pedrosa-agen.jpg)
Fernando Collor sobe a rampa do Planalto como presidente eleito em 1990 — Foto: Mino Pedrosa/Agência O Globo/15-03-1990
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![Fernando Henrique Cardoso sobe a rampa do Planalto pela primeira vez como presidente em 1995 — Foto: Roberto Stuckert Filho/Agência O Globo/01-01-1995](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/nHV0_3zJ4Z1RZ-fevRwLQjjes_c=/0x0:5239x3744/323x182/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/0/o/70utMAQuCVpgqm2LtYfA/33067766-brasilia-df-01-01-1995-fernando-henrique-cardoso-presidente-da-republica-posse-fhc-su.jpg)
![Fernando Henrique Cardoso sobe a rampa do Planalto pela primeira vez como presidente em 1995 — Foto: Roberto Stuckert Filho/Agência O Globo/01-01-1995](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/60QCtON8QeqEnYj078CJc-_dWr0=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/0/o/70utMAQuCVpgqm2LtYfA/33067766-brasilia-df-01-01-1995-fernando-henrique-cardoso-presidente-da-republica-posse-fhc-su.jpg)
Fernando Henrique Cardoso sobe a rampa do Planalto pela primeira vez como presidente em 1995 — Foto: Roberto Stuckert Filho/Agência O Globo/01-01-1995
![Fernando Henrique Cardoso foi reempossado em 1999 — Foto: Marcelo Carnaval/Agência O Globo/01-01-1999](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/a7O0ZUPpbvNU1znkOjV9W9AReNY=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/t/r/9gmXx4Q6mckypjzhIPRA/40396436-01011999-marcelo-carnaval-pp-fhc-na-rampa-do-planalto-ao-lado-da-primeira-dama-ruth-c.jpg)
Fernando Henrique Cardoso foi reempossado em 1999 — Foto: Marcelo Carnaval/Agência O Globo/01-01-1999
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![Lula sobe a rampa do Planalto em 2003 com a presença massiva de movimentos populares — Foto: Reprodução/Arquivo/Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/3CGpTw9vtkQNwuHQnYIpe5JR-D4=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/d/1/UrwpZoSMCxUCBAbLad1w/39230496-brazilian-president-luiz-inacio-lula-da-silva-right-enters-the-presidential-palace-with-his.jpg)
Lula sobe a rampa do Planalto em 2003 com a presença massiva de movimentos populares — Foto: Reprodução/Arquivo/Agência O Globo
![Reeleito, Lula subiu a rampa do Planalto em 2007 já usando a faixa presidencial — Foto: Gustavo Miranda/Agência O Globo/01-01-2007](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/y6FLQ832JvXt4DVJGLvlTpDqwu4=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/a/L/J52pHXRBa9n0WC8YsGAg/28248990-01012007-gustavo-miranda-pa-o-presidente-lula-ao-lado-do-vice-pres-jose-alencar-quand.jpg)
Reeleito, Lula subiu a rampa do Planalto em 2007 já usando a faixa presidencial — Foto: Gustavo Miranda/Agência O Globo/01-01-2007
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![Lula passou a faixa para Dilma Roussef, a primeira mulher a usar a faixa presidencial na história do país — Foto: André Coelho/Agência O Globo/01-01/2011](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/yF0_jFd1O46l_bHmyELP6OXqPxM=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/l/O/04eYAORma3iX6g2utjmg/21417520-bsb-brasilia-df-brasil-01-01-2011-pa-posse-da-presidente-eleita-dilma-roussef-em.jpg)
Lula passou a faixa para Dilma Roussef, a primeira mulher a usar a faixa presidencial na história do país — Foto: André Coelho/Agência O Globo/01-01/2011
![Divorciada, Dilma Roussef desfilou ao lado da filha Paula nas duas posses – em 2011 e 2015 — Foto: Ailton de Freitas/Agência O Globo](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/t04vTcUirr6IoiOxAnvxdUolr6k=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/T/m/g1atpTS6G10JpqJXkOkQ/9290768-bsb-brasi-lia-brasil-01-01-2015-pa-a-presidente-dilma-ao-lado-de-sua-filha-no-roll.jpg)
Divorciada, Dilma Roussef desfilou ao lado da filha Paula nas duas posses – em 2011 e 2015 — Foto: Ailton de Freitas/Agência O Globo
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![Bolsonaro recebe a faixa presidencial de Michel Temer, que assumiu o governo depois do impeachment de Dilma — Foto: Jorge William/Agência O Globo/01-01-2019](https://cdn.statically.io/img/s2-oglobo.glbimg.com/-F2Lm-Nfosvjd9FeLbYyddAMF-I=/1600x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2022/L/R/H3zd9ZRA6cXqgoOznV1A/80469931-bsb-brasilia-brasil-01-01-2019-pa-cerimonia-de-posse-do-presidente-da-republica.jpg)
Bolsonaro recebe a faixa presidencial de Michel Temer, que assumiu o governo depois do impeachment de Dilma — Foto: Jorge William/Agência O Globo/01-01-2019
De acordo com fontes que acompanham as discussões, não haveria consequências práticas, mas o constrangimento diplomático seria inevitável, especialmente em se tratando de um governo de esquerda.
Em março deste ano, o Ministério Público Federal (MPF) chegou a recomendar ao governo Lula a reinstalação da comissão em um prazo máximo de 60 dias.
Em resposta ao MPF, o Ministério dos Direitos Humanos informou que “não há tarefas pendentes” na pasta em relação ao tema, ou seja, se eximiu de qualquer culpa pela indefinição quanto ao retorno do grupo.
A pasta do ministro Silvio Almeida destacou que uma minuta de decreto já foi encaminhada para a Casa Civil, cuja Secretaria Especial de Assuntos Jurídicos pediu um novo parecer do Ministério da Justiça, após a saída de Flávio Dino e a nomeação de Ricardo Lewandowski para o seu lugar.
Conforme informou o blog, a gestão Lewandowski deu na semana passada um parecer favorável à reinstalação da comissão, que já havia recebido sinal verde de Dino em outubro do ano passado.
Na ala do governo Lula favorável à comissão, a própria iniciativa da Casa Civil de pedir um novo parecer do Ministério da Justiça com a troca no comando da pasta foi interpretada como uma forma de criar uma nova e desnecessária etapa burocrática, adiando ainda mais uma definição.
Criada em 1995 no governo Fernando Henrique Cardoso, a comissão foi instalada com o objetivo de reconhecer casos de pessoas desaparecidas em função de sua participação política no regime militar.
Acabou extinta por Jair Bolsonaro a 15 dias do fim de sua gestão. Na época, o fim das atividades foi aprovado por 4 a 3, com o apoio de todos os membros indicados pelo ex-chefe do Executivo.
O Ministério dos Direitos Humanos, responsável pelos trabalhos de reinstalação da comissão, previa anunciar oficialmente a retomada do grupo no último 25 de outubro, data que marca o assassinato do jornalista Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura, nas instalações do DOI-Codi em São Paulo, em 1975.
O desconforto de oficiais de alta patente das Forças Armadas com o retorno do grupo veio a público em novembro do ano passado, quando o presidente do Superior Tribunal Militar (STM), Joseli Parente Camelo, disse ao blog que a reabertura da comissão é "completamente desnecessária".
“Não podemos olhar o país pelo retrovisor, ficar olhando pra trás. Temos de olhar pra frente, e não no que ocorreu há 50 anos. A maldição da história é achar que você pode corrigi-la, ninguém pode corrigir a história", afirmou Camelo à época.
A fala foi imediatamente rebatida por Slvio Almeida. “Os trabalhos da comissão não foram finalizados. Diversas famílias ainda aguardam respostas sobre o destino de seus entes desaparecidos", respondeu o ministro dos Direitos Humanos. "Desnecessário é achar que podemos virar a página da história de um passado de dor, simplesmente varrendo a ‘sujeira’ para debaixo do tapete”, afirmou Almeida à equipe da coluna.