Malu Gaspar
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Malu Gaspar

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Por e — Brasília e Rio

Após duas semanas de intensa pressão sobre a articulação política de Lula e ameaças de abertura de novas comissões parlamentares de inquérito (CPIs), o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), deve levar à reunião do colégio de líderes nesta terça-feira (22) a discussão sobre um recuo tático na ofensiva contra o Palácio do Planalto.

Lira, como se sabe, vinha ventilando a hipótese de instaurar diferentes CPIs – uma prerrogativa do dirigente da Casa – nas próximas semanas para dificultar a tramitação de projetos caros a Lula no cabo de guerra com a gestão federal. Mas, segundo duas fontes do entorno do presidente da Casa, ele agora avalia adiar a abertura dos colegiados para o segundo semestre.

No último domingo, Lira teve uma conversa reservada com o presidente da República, em que afirmou que seu problema não era com todo o governo, mas com o ministro da Secretaria das Relações Institucionais (SRI), Alexandre Padilha.

Agora, o dirigente da Câmara tem dito que o recesso parlamentar de julho, as negociações em torno da regulamentação da reforma tributária e das articulações das pré-campanhas a prefeito e vereador – importantes cabos eleitorais para congressistas – esvaziariam os esforços para manter o Planalto sob pressão.

Além disso, Lira, que tem relação próxima com agentes do mercado financeiro e do empresariado, não pretende criar obstáculos à agenda reformista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Outro detalhe lembrado por um aliado de Lira, que falou à equipe da coluna sob reserva, é que as tradicionais festividades de São João no Nordeste, previstas para o fim de junho, devem diminuir substancialmente o quórum dos deputados da região em Brasília daqui a dois meses.

No ano passado, o presidente da Câmara, que é natural de Alagoas, chegou a suspender as atividades do plenário durante a semana de homenagens ao santo, celebrado no dia 24 de junho.

Diante do cenário indefinido, o próprio Lira já tem admitido nos bastidores um possível rearranjo de rumos com o objetivo de aumentar seu valor de passe em relação a Lula. Seus planos não incluem a abertura de uma CPI contra o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como o dirigente da Casa adiantou ao presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, na semana passada por telefone.

O líder do Centrão vive há quase duas semanas uma guerra com o ministro Alexandre Padilha, a quem definiu como “incompetente” e “desafeto pessoal” no último dia 11.

Da última vez que uma briga dessa natureza ocorreu, no início do governo Lula, o presidente da Câmara determinou a abertura de três CPIs: a do MST, a da Americanas e a da manipulação de resultados das partidas de futebol.

Na época, estava em tramitação o novo arcabouço fiscal, agenda central da política econômica de Fernando Haddad em 2023, e Lula sofria muitas cobranças por mudanças na articulação política.

A pressão no Congresso teve efeito: cinco meses depois, o presidente da Câmara emplacou dois nomes do Centrão em uma minirreforma da Esplanada de Lula. André Fufuca (Esportes), seu correligionário e aliado próximo, e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), do Republicanos.

E as CPIs, que tinham tido inícios barulhentos, acabaram com poucos resultados concretos.

No caso da CPI do MST, Lira primeiro atuou para que a presidência e a relatoria ficassem com dois bolsonaristas, Coronel Zucco (PL-RS) e Ricardo Salles (PL-SP), e depois fez sucessivas mudanças na composição do colegiado – ora para favorecer, ora para pressionar o governo Lula. A CPI terminou sem relatório final.

Agora, se decidir levar a cabo as ameaças de abertura de CPIs, Lira o fará em circunstâncias muito diferentes das de 2023.

As alternativas que ele tem não o favorecem. Se o presidente adiar a decisão final para o segundo semestre, as comissões poderão ocorrer às vésperas das eleições municipais de outubro — o que ou irá esvaziadas, ou então pode provocar efeitos colaterais na eleição municipal.

Outra diferença em relação às turbulências de 2023 é que a disputa pela sucessão de Lira já está posta no cotidiano da Câmara.

Assim, se decidir realmente abrir CPIs no segundo semestre o presidente da Casa terá pouco tempo para usufruir de seus desdobramentos. As comissões têm duração regimental de 120 dias, podendo ser prorrogadas por mais dois meses.

A depender da temperatura do café de Lira até lá, o efeito político da manobra pode ser nulo.

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