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'Verão 90': muitos tons acima da caricatura

Patrícia Kogut

Logo de 'Verão 90' (Foto: TV Globo)Logo de 'Verão 90' (Foto: TV Globo)

 

“Verão 90” estreou prometendo seguir o trilho das comédias românticas, leves e ingênuas, além de despertar um saudosismo nos que viveram aqueles tempos. Com o passar dos dias, entretanto, com boa vontade, restou apenas a nostalgia. Não se trata de uma comédia leve nem ingênua, mas de uma caricatura que, em muitos momentos, corre o risco de parecer só ridícula. Aliás, ela fica um tom acima da caricatura.

A trama corre numa cronologia nunca antes retratada nas novelas. Os anos 90 são recentes o bastante para estarem na memória de parte do público. Mas remotos o suficiente para caracterizar uma produção de “época”. Porém, até essa nostalgia, que poderia ser um valor, está sendo barateada. A cena que evocou Tim Maia, semana passada, é bem representativa desse desperdício. Previsível e esquemática, foi um prato requentado. “Verão 90” não faz nem uma releitura nem uma reconstituição de época minuciosa e formalista. Pratica o sucateamento. Outro exemplo: os personagens usam o vocabulário de então. Mas só em parte. Entre um “chocante” e outro, ouve-se um “véio” (gíria paulista que chegou ao Rio há pouco tempo) ou “fofo” (que em 1990 significava só gordo).

O elenco — escalação e direção — é outra complicação. Noventa por cento dos atores têm um desempenho caricato enquanto dez por cento não embarcaram nessa proposta. Esses adotaram um tom realista que, por destoar do histrionismo e contrastando com ele, parece o drama mexicano. É o que está acontecendo com a grande Dira Paes (Janaína). É certo que nenhum grupo de atores conseguiria cumprir os desejos da direção sem cair nesses excessos, isso salta da tela. Mas alguns são obrigados a cenas dignas de vergonha alheia. Foi o caso de Caio Paduan (Quinzinho), cujos quadris parecem rebolar contra a sua vontade quando ele “ouve” uma lambada vinda do além. Não faz rir, é só constrangedor para o público em primeiro lugar e para o próprio ator. Também não se reconhece o talento que Jesuíta Barbosa (Jerônimo) já mostrou na televisão: ele não conseguiu se adaptar ao papel. Totia Meireles (Mercedes) faz uma vilã de desenho animado. E Klebber Toledo (Patrick) era para ser irresistível, mas desde quando a parvoíce é um traço de um rapaz irresistível?

“Verão 90” não cumpriu as promessas do início.

 

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