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A festa do Emmy reflete a nova televisão

Patrícia Kogut

Elisabeth Moss ganhou o prêmio de melhor atriz por sua atuação em 'The handmaid's tale' (Foto: AFP PHOTO / Frederic J. Brown)Elisabeth Moss ganhou o prêmio de melhor atriz por sua atuação em 'The handmaid's tale' (Foto: AFP PHOTO / Frederic J. Brown)

 

Já na abertura da cerimônia do Emmy, neste domingo, em Los Angeles, Stephen Colbert lembrou aos presentes que televisão, hoje, não é bem televisão. É muito mais. “Tivemos 92 indicações para a Netflix este ano”, contabilizou. Sua fala não foi, no entanto, no sentido de enxotar da festa a boa e velha televisão. Ele seguiu afirmando que as produções da HBO (tradicionalmente campeã de estatuetas) seriam reconhecidas. E fez um afago no que chamou de “a velha TV aberta”, ao evocar o sucesso de “This is us”.

A noite seguiu muito alegre, sem grandes surpresas — digo más surpresas, no sentido de injustiças. Favoritas, “The handmaid’s tale” e “Big little lies” tiveram seu valor reconhecido. Foram aplaudidas calorosamente pela plateia. Não houve marmelada, ausências ou falta de brilho.

Estive na cerimônia do Emmy em 2013, já contei aqui algumas vezes. Não faz tanto tempo assim, mas era tudo bem diferente àquela altura. “House of Cards” inaugurava essa era do streaming num páreo antes exclusivo da televisão. A série chegava com potência total, tinha encantado o público e a crítica. Mas era, naquele momento, um representante solitário disso que acabou sendo uma nova forma de ver televisão, e não uma ameaça. Havia um certo mal-estar no ar, uma irritação geral em relação à produção.

Ontem, estive no Microsoft Theater de novo e o clima foi outro. Como se constata vendo a lista dos vencedores, tudo mudou. O streaming já não é um recém-chegado que precisa dar cotoveladas nos rivais para alcançar o pódio. Ele já está lá, nos lugares de maior destaque, e ninguém mais questiona sua presença. Aliás, este ano, a própria Netflix foi desbancada por outro serviço, o Hulu, cujos sócios são as tradicionais NBC Universal, Disney-ABC e News Corporation (Fox). Com seu “The handmaid’s tale”, saiu conquistando troféus pela noite até levar para casa dois dos mais cobiçados, o de melhor atriz, para Elizabeth Moss, e o de melhor série. É o maior exemplo dos novos tempos: “The handmaid’s tale” estreou nos EUA no Hulu; no Reino Unido no Channel Four; e na Escandinávia na HBO Nordic. Pôde ser vista no aparelho de TV, seja por serviços on demand, seja em TVs por assinatura, seja em TV aberta. Ou no smartphone, no tablet ou na smart TV. O conceito de televisão se ampliou.

Claro que o Emmy é uma celebração muito bem organizada e profissional, sem grandes brechas para o improviso e para os atos falhos. Mesmo assim, ou talvez por isso, chamou a atenção um tropeço num dos dois discursos de Nicole Kidman, ao falar sobre o sucesso de “Big little lies”. Ela agradeceu ao público, “que permitiu que nós entrássemos na sala de sua casa com esse drama”. A atriz, sem querer, esqueceu que já não se assiste à televisão forçosamente na sala de casa. Voltando ao início deste texto, é como disse Colbert. Há TV para todos os gostos, em várias telas e suportes. E essas estradas levam ao Emmy e confluem para o melhor momento criativo da História dessa indústria.

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