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Por Carol Oliveira, Irene Vasconcellos, João Gabriel Rodrigues, Lydia Gismondi e Thierry Gozzer — Rio de Janeiro

André Durão
Ana Marcela Cunha e Islaquias Queiroz recebem o prêmio de atletas do ano

Ana Marcela Cunha e Islaquias Queiroz recebem o prêmio de atletas do ano

Ana Marcela Cunha teve praticamente 24h de deslocamento entre a China e o Brasil para pensar no que falaria caso vencesse o Prêmio Brasil Olímpico entre as mulheres. A disputa contra Ana Sátila e principalmente Marta, porém, fizeram com que a baiana não preparasse nada para discursar. E foi aí que Ana foi surpreendida. Eleita a Atleta do Ano, teve que improvisar em uma noite em que apenas uma premiação era certa: a do seu técnico Fernado Possenti, escolhido o melhor de 2018 nos esportes individuais. A noite então virou uma dobradinha e o bicampeonato teve um gostinho especial por ter vindo em cima da ídola do futebol.

"Para mim foi uma emoção diferente. Consegui vencer ícones como a Marta. É muito irado. Acabei de chegar da China, de ser eleita pela quinta vez a melhor do mundo na maratona aquática e direto para um prêmio que eu ganhei e que sendo bem sincera, eu nem esperava. Fui super sincera. Não tinha preparado nada para falar. É a Marta, o futebol. Seis vezes a melhor do mundo. Mas mostra que o nosso trabalho é certo. Me dá crédito. Foi uma vitória muito legal"

Ana Marcela Cunha no Prêmio Brasil Olímpico — Foto: André Durão

Minutos antes, Fernando Possenti, técnico de Ana e contratado pelo COB durante a temporada, havia levado o prêmio Jesus Morlán de melhor treinador de esportes individuais. A conquista já estava definida. E Ana acreditava que levaria para casa apenas o troféu de melhor da sua modalidade. Não o prêmio geral da noite. A baiana, contudo, confessa que ela e seu técnico são movidos a desafios e momentos como o desta terça-feira.

- Eu e Fernando somos obcecados pelas vitórias. Curtimos esse momento e queremos voltar no ano que vem. E para isso precisamos fazer um ano espetacular. Com toda certeza vamos tentar isso para estar aqui de novo. É pensar etapa por etapa, prova por prova, para conseguir essa vaga na Olimpíada em 2019 e ter uma grande temporada. Mostra a nossa consistência, tudo que tivemos durante o ano. Nada mais que justo coroar o ano com essa premiação.

Ano de conquistas e mudanças

Ana Marcela teve um 2018 realmente especial. Mas cheio de reviravoltas. Em novembro de 2017, recebeu uma proposta para viver e treinar na África do Sul. Ficou lá por cinco meses, melhorou seu inglês, mas precisou voltar por questões burocráticas - o país alterou sua política para a manutenção de vistos para estrangeiros. De volta ao Brasil, foi acolhida no Rio de Janeiro pelo Comitê Olímpico do Brasil junto do seu técnico Fernando Possenti. No mar, conquistou o tetracampeonato da Copa do Mundo - já havia sido campeã em 2010, 2012 e 2014. Na China, no domingo, foi eleita a melhor atleta do ano da maratona aquática pela quinta vez na carreira. E agora coroou o ano com o prêmio de Atleta do Ano do COB.

No fim de semana, a baiana vai disputar o Rei e Rainha do Mar. Nada prova de 1km, 3,5km e o Desafio internacional com Brasil, EUA, Itália e Holanda: "Ainda temos competição, então não dá para sair muito da rotina ainda. Amanhã (hoje) tem treino ainda, então não dá para perder noite ainda". Depois, Ana vai focar em 2019. O ano será longo. A atleta terá pela frente a Copa do Mundo, a seletiva olímpica de Tóquio em 14 de julho e os Jogos Pan-Americanos em agosto.

- A gente sempre lança objetivos difíceis. Começamos o ano querendo ser medalha em todas as etapas como fui em 2014, o que era difícil de acontecer. Na primeira etapa já falhei. Mas o objetivo de ser campeã da Copa do Mundo continuou e isso eu consegui. Com toda certeza o objetivo de 2019, além de pegar a vaga para Tóquio é ser campeã mundial na prova dos 10km. Vai ser muito difícil, mas se não nem tem graça. Todos me veem com o troféu aqui. Mas temos um time por trás. E o COB a nosso favor. Algo que conseguimos enxergar que é possível ir atrás de uma medalha. É a primeira vez que o COB me dá essa estrutura. É estar sempre no pódio. Uma parte de cada vez. Pensar primeiro no Mundial e depois pensar em Tóquio. É ser feliz, fazer o que eu amo e curtir esse momento.

Técnico com discurso afinado

Fernando Possenti com o prêmio de melhor técnico do ano de esportes individuais — Foto: André Durão

Se Ana Marcela se surpreendeu com o prêmio de Atleta do Ano, Fernando Possenti chegou ao PBO sabendo que seria o treinador de 2018. E assim como sua pupila, ele já deixou o palco do teatro no Shopping Village Mall buscando estratégias para repetir o feito em 2019. Sabendo que será difícil seguir essa caminhada tão boa, o paulista promete se esforçar.

- Eu já estou querendo repetir isso no ano que vem. Ela também. É não fazer a mesma coisa. Muita gente fala que time que ganha não se mexe, mas no treino tem que mexer. A maratona aquática é um jogo de xadrez. Tem que produzir algo novo. Ela é super aberta a coisas novas. Vamos tentar uma coisa diferente. Não posso contar agora, mas é o que vou bolar para ela ter um repertório maior para seguir ganhando.

O feito de Ana faz Fernando elogiar a atleta. Afinal de contas a baiana começou a temporada em Cape Town, na África do Sul, passou por São Paulo e desembarcou no Rio de Janeiro. Mudança de país e de estado que não a fizeram perder o foco ou resultados. Crítico do que aconteceu na África, ele está feliz com a estrutura no Rio de Janeiro e ambos não pretendem se mudar.

- Era um projeto lindo, a execução que foi péssima. Cape Town é lindo, mas não foi cumprido conforme o combinado e eu não podia colocar o restante da temporada em risco. Eu não saio daqui enquanto não me tirarem. Estou positivamente bem surpreendido com o Rio de Janeiro. Praticidade e estrutura do COB. Não quero trocar isso tão cedo.

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