TIMES

Por Carol Oliveira, Irene Vasconcellos, João Gabriel Rodrigues, Lydia Gismondi e Thierry Gozzer — Rio de Janeiro

André Durão

O troféu nas mãos era o símbolo de um ano intenso. Dono de três medalhas no Mundial de Canoagem, em Portugal, Isaquias Queiroz se despediu da temporada ainda com o peso do adeus ao seu grande mentor. Ao conquistar seu terceiro Prêmio Brasil Olímpico – também foi campeão em 2015 e 2016 –, o canoísta quis fazer Jesús Morlán presente. Ainda que o técnico, derrotado por um câncer há pouco mais de um mês, tenha tentado minimizar os danos, um dos maiores nomes do esporte nacional ainda sente a ausência de seu mestre.

Ana Marcela Cunha e Islaquias Queiroz recebem o prêmio de atletas do ano

Ana Marcela Cunha e Islaquias Queiroz recebem o prêmio de atletas do ano

O canoísta diz que a mudança de comportamento foi notada aos poucos. Diante de sua própria fragilidade, Jesús Mórlan quis preparar seu entorno para um caminho sem ele. Diagnosticado com um tumor no cérebro, se mostrou menos presente na rotina de Isaquias Queiroz, Erlon de Souza e de seus outros pupilos em Lagoa Santa, em Minas Gerais.

- Jesús era um cara tão esperto que, nos últimos tempos, ele começou a se afastar da gente. Para que não sentíssemos tanto a falta dele na casa ou na água. Ele pensou em tudo. Mas não tem como esquecer dele. Principalmente a parte que ele viveu tentando vencer o câncer dele. Isso vai ficar muito para mim e para o Erlon, a determinação e a força de vontade. Ele não desistia. Ele fazia o tratamento, mas depois estava na lancha, ao lado da gente. Vamos tentar honrar o nome dele.

Isaquias Queiroz e Ana Marcela Cunha no Prêmio Brasil Olímpico — Foto: André Durão

A saudade, ele diz, ganha força até na memória das incontáveis broncas de Morlán. Isaquias diz que o treinador sabia o que dizer em todos os momentos, até para acabar com o desânimo de seus pupilos. O melhor atleta do país em 2018 afirma, porém, que o Mundial foi a despedida perfeita.

- Esse ano, pudemos ir ao Campeonato Mundial juntos, foi o último dele. E, lá, consegui a minha décima medalha em Mundial, o tricampeonato mundial. Viajei junto com ele, na cadeira ao lado no avião. Ficamos no mesmo hotel, íamos juntos para a raia, almoçávamos juntos. Foi muito legal poder termos nos despedido dele em alto estilo. A gente sempre lembra dele do melhor jeito. Das brigas, das broncas. Saudades dele, das broncas - disse o atleta, também eleito o melhor do ano na canoagem.

Isaquias Queiroz no Prêmio Brasil Olímpico — Foto: André Durão

Isaquias não sabia, mas enquanto lutava contra o câncer, Morlán sonhava com sua décima medalha olímpica. Na carreira, já havia conquistado nove: três com Isaquias, uma com Erlon e outras cinco com o espanhol David Cal. A missão, então, é voltar ao pódio e dedicar as conquistas ao treinador.

- Eu sei o quanto meu treinador se dedicava de domingo a domingo, a cada minuto, para que a gente pudesse ter o melhor resultado. Foi um ano intenso, complicado. Por tudo. Pelo treinamento, pela perda de Jesus. Mas foi um ano de conquistas. Conseguimos as três medalhas no Mundial. Para esse ano, vamos estar ainda mais focados. Vai ser um ano mais complicado para os atletas, porque vale as vagas olímpicas. Nosso objetivo não é mais conquistar as nossas medalhas. Mas conquistar a décima medalha olímpica do Morlan. Era esse o objetivo, era o que ele contava. Conseguir dez medalhas olímpicas no currículo dele. É o que vamos tentar fazer para honrar o nome dele.

Lauro Souza, auxiliar de Morlán, assumiu a posição de técnico da seleção. No processo de amenizar os danos ao trabalho no caso de partir, o treinador preparou Pinda, com é chamado, para ocupar seu espaço. E o novo comandante tem a total confiança do canoísta.

- Continuamos em Lagoa Santa. Agora, o Lauro, que nós chamamos de Pinda, porque ele é de Pindamonhangaba, vai ser o técnico. Não queremos que venha outra pessoa. Até porque o Jesús Morlán, nos últimos anos, sabendo da situação, do que podia acontecer, ensinou a ele, mostrou o que fazer, como chegar às medalhas. O Lauro está muito focado nisso, sabe da obrigação que ele tem, de honrar o nome de Jesus Mórlan. Vamos continuar treinando.

Veja também

Mais do ge