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Por Adriano Leonardi — São Paulo

A Síndrome compartimental crônica é relativamente frequente em esportes de resistência. Trata-se de uma doença muscular e nervosa induzida pelo exercício, que causa dor, inchaço e, por vezes, até deficiência nos músculos afetados de suas pernas ou braços.

O que é isso?
Um aumento da pressão na musculatura e demais tecidos contidos em um espaço delimitado pelas fáscias (aos quais chamamos de compartimento). O tamanho do músculo pode aumentar em até 20% durante o exercício. Um aumento no peso muscular reduzirá o volume do compartimento das bordas fasciais circundantes e resultará em um aumento na pressão do tecido. Isso pode levar a uma rutura da microcirculação da perna. Na forma crônica, quando o esportista está em repouso, a pressão do compartimento é normal e praticamente, nada se sente. Durante o esporte a pressão sobe, reduzindo o fluxo sanguíneo de nervos e músculos, com consequente desenvolvimento de sintomas.

O que se sente?
Dor, queimação ou dor tipo “cólica” no membro afetado
Aperto no membro afetado
Dormência ou formigamento
Fraqueza
Queda do pé, em casos graves, se os nervos em suas pernas são afetados
Ocasionalmente, inchaço ou abaulamento, como resultado de uma hérnia muscular
Em geral, a doença começa logo depois que você começar a se exercitar, piora progressivamente e para após 30 minutos de repouso.
Com o tempo, os sintomas podem começar a persistir por mais tempo após o exercício, por um ou dois dias.
Parando completamente a pratica esportiva, os sintomas podem ser aliviados temporariamente. Uma vez que você volte a correr, os sintomas tendem a voltar.

O exercício aumenta o suprimento de sangue para os músculos, fazendo-os expandir. Se o tecido conectivo que mantém as fibras musculares em conjunto não se expande, a pressão acumula-se no compartimento. — Foto: istock

E o que pode causar isso?
O exercício aumenta o suprimento de sangue para os músculos, fazendo-os expandir. Se o tecido conectivo que mantém as fibras musculares em conjunto não se expande, a pressão acumula-se no compartimento. Com o tempo, a pressão aumentada “corta” parcialmente o suprimento de sangue do músculo, levando à síndrome de compartimento de esforço crônica.

Alguns especialistas sugerem que a biomecânica - como você se move - podem ter um papel em causar síndrome compartimental crônica de esforço. Outras causas podem incluir ter músculos aumentados, uma banda especialmente espessa ou rígida de tecido (fáscia) ao redor de uma secção do músculo, ou de alta pressão dentro de suas veias (hipertensão venosa).

Acredita-se que algumas pessoas possam ter predisposição para a lesão por terem os espaços fasciais estreitos desde o nascimento.

Fatores de risco
Idade: embora as pessoas de qualquer idade podem desenvolver síndrome compartimental crônica de esforço, a condição é mais comum em atletas com menos de 30 anos.
Tipo de exercício: o exercício que envolve a atividade de impacto repetitivo - como correr ou andar rápido, aumenta o risco de desenvolver a condição.
Overtraining: aumento do volume e intensidade do treino.
Certas drogas: tomar esteroides anabolizantes ou o suplemento creatina podem aumentar o risco para o desenvolvimento da doença.

Diagnóstico
O ideal é examinar o paciente depois do exercício, quando a condição é mais provável de aparecer. Por isso, é importante ter esteiras e bicicletas estacionárias no consultório e solicitar para que o paciente corra ou pedale até que os sintomas apareçam.

Diferente de outras lesões, o exame de ressonância magnética nem sempre aponta o diagnóstico. Pior, se o paciente possuir imagem prévias de canelite ou outras lesões, pode-se errar o diagnóstico.

Este é um dos motivos de tantos atletas estarem se tratando de canelite ou fraturas de estresse sem sucesso. O exame deve ser realizado em um laboratório também que possua esteiras e bicicletas estacionarias e o paciente deve correr ou pedalar até que os sintomas apareçam. O exame deve ser realizado imediatamente ao surgimento dos sintomas. Infelizmente, é muito comum o paciente retornar ao consultório dizendo que correu um pouquinho na esteira, não sentiu os sintomas típicos e já se deitou para realizar o exame. Muito importante o radiologista ter em mente que, muitas vezes, são atletas de altíssimo volume e que a corrida ou pedal sejam feitos na rua.
Sendo bem realizado o exame, a imagem clássica é de um aumento de sinal e volume do grupo muscular acometido, muitas vezes bilateral.

Tratamento
A estratégia inclui medicamentos para a dor inicialmente, alongamento e fortalecimento muscular, uma pausa de exercício, ou o uso de diferentes técnicas biomecânicas, tais como alterar a forma como você pousar quando você se movimenta. Indiscutivelmente, este é o tratamento ideal para pessoas em que o diagnostico ainda não está claro.
Mas a cirurgia é o principal e mais eficaz tratamento. Nela, a fáscia é aberta ou tem um trecho removido. O retorno ao esporte é relativamente rápido, realizado de maneira gradual a assistido por equipe multidisciplinar.

Médico do esporte e ortopedista especialista em traumatologia do esporte e cirurgia do joelho. Vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Ambientes Remotos e Esportes de Aventura. www.adrianoleonardi.com.br. (Foto: EuAtleta) — Foto: EuAtleta

*As informações e opiniões emitidas neste texto são de inteira responsabilidade do autor, não correspondendo, necessariamente, ao ponto de vista do Globoesporte.com / EuAtleta.com.

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