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Por João de Andrade Neto — Recife


A vaga na final não veio. Mas Marrocos deixará a Copa com uma campanha histórica ao ser o primeiro pais africano e árabe ao chegar entre os quatro melhores (no sábado vai disputar o terceiro lugar contra a Croácia). Além disso, toda a trajetória no Catar eternizou os marroquinos com outro título: a de seleção "queridinha" desse Mundial.

Torcedores do Marrocos parabenizam os jogadores — Foto: Reuters

Obviamente, essa é uma escolha subjetiva. Mas possui elementos quase que obrigatórios para que uma equipe se encaixe na modalidade "carisma" de uma Copa do Mundo:

  • Não estar entre as cotadas para o título
  • Eliminar algum favorito
  • Contar com jogadores marcantes
  • Praticar um futebol agradável de se assistir
  • E, obviamente, fazer uma campanha acima das expectativas

Todos quesitos preenchidos por Marrocos neste Mundial. Mas que também são encontrados em outros exemplos de seleções que não ficaram com o título, mas a sua maneira também se eternizaram na história das Copas do Mundo.

Portugal (1966)

Eusebio portugal semifinal inglaterra 1966 — Foto: Agência AP

A primeira participação de Portugal em uma Copa foi em 1966, na Inglaterra. E o terceiro lugar obtido pelo time liderado pelo craque Eusébio se mantém até hoje como o melhor do país em mundiais. Na época, uma surpresa e tanto.

O primeiro grande feito veio ainda na fase de grupos. Coube aos portugueses a missão de eliminar o então bicampeão Brasil, com uma vitória por 3 a 1, com dois gols de Eusébio, artilheiro daquela edição com oito gols.

Nas quartas, uma sensacional virada em cima da zebra Coreia do Norte, saindo de 3 a 0 para 5 a 3, com mais quatro gols de Eusébio. Na semifinal, a queda veio para a anfitriã Inglaterra, que viria a ser campeã. E na disputa de terceiro lugar, vitória por 2 a 1 sobre a União Soviética, com mais um de Eusébio. Portugal só viria a disputar outro Mundial vinte anos depois.

Melhores momentos: Brasil 1 x 3 Portugal pela Copa do Mundo de 1966

Melhores momentos: Brasil 1 x 3 Portugal pela Copa do Mundo de 1966

Polônia (1974)

Lato, atacante da Polônia nas Copas de 1974, 1978 e 1982 — Foto: Fifa

A Copa de 1974 ficou marcada pela Holanda do craque Johan Cruijff, que ficou imortalizada como a "Laranja Mecânica", vice-campeã para a anfitriã Alemanha. Mas outra seleção, mesmo sem tanta badalação, também caiu no gosto dos torcedores: a então campeã olímpica Polônia.

Até então, a história do país em Copas do Mundo se resumia a um jogo (derrota para o Brasil por 6 a 5 em 1938). Mas liderado pelo atacante Lato, artilheiro daquela edição com sete gols, a Polônia terminou na terceira posição, com uma ótima campanha de seis vitórias e apenas uma derrota.

Na primeira fase, terminou em primeiro em um grupo com Itália e Argentina. Na segunda fase, após vencer Suécia e Iugoslávia perdeu para a Alemanha, no jogo que valia a vaga na final. Na decisão do terceiro lugar, vitória sobre o Brasil por 1 a 0, com gol de Lato.

O gol de Brasil 0 x 1 Polônia na disputa pelo terceiro lugar na Copa do Mundo de 1974

O gol de Brasil 0 x 1 Polônia na disputa pelo terceiro lugar na Copa do Mundo de 1974

Nas duas Copas seguintes, Lato ganhou a companhia do meia Boniek, e a Polônia voltaria a fazer bonito, ficando em quinto lugar no Mundial da Argentina, em 1978, e novamente em terceiro, em 1982, na Espanha.

Dinamarca (1986)

Em 1986, a Dinamarca parou nas oitavas de final, eliminada pela Espanha — Foto: Fifa

A primeira participação da Dinamarca na história da Copa do Mundo ainda é possivelmente a mais marcante, mesmo fazendo campanha melhor em 1998, quando chegou às quartas. Tanto que rendeu um apelido até hoje lembrado: "Dinamáquina".

Utilizando um uniforme incomum, metade vermelho e metade branco com finas listras em vermelho, e liderada pelos atacantes Preben Elkjaer e Michael Laudrup, a equipe tinha como característica a rapidez para chegar da defesa ao ataque.

Após vencer a Escócia por 1 a 0 na estreia, os dinamarqueses assombraram o mundo ao golear o Uruguai por 6 a 1 e depois vencer a já classificada Alemanha por 2 a 0. Porém, nas oitavas, outra surpresa. Com a equipe sendo "dinamitada" pela Espanha, eliminada com uma goleada por 5 a 1.

Top 10: confira goleadas marcantes na história das copas do mundo

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Camarões (1990)

Roger Milla, por Camarões, na Copa de 1990 — Foto: dpa/picture alliance via Getty Images

Trinta e dois anos antes de Marrocos fazer história no Catar, esse papel coube a Camarões, primeira seleção africana a chegar às quartas de final. E a surpresa veio logo no jogo de abertura do Mundial da Itália, com uma vitória por 1 a 0 sobre a então campeã Argentina, com Maradona em campo.

Ainda na primeira fase, vitória sobre Romênia e derrota para a União Soviética, com a classificação em primeiro lugar. Nas oitavas, novo triunfo, dessa vez contra a Colômbia, com direito a um gol antológico, com o veterano atacante Roger Milla, o rosto daquela seleção, tirando a bola do excêntrico goleiro Renê Higuita, que tentou driblá-lo quase no meio de campo (lembre abaixo).

Confira os gols de Roger Milla na Copa do Mundo de 1990

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Nas quartas, Camarões chegou a estar vencendo a Inglaterra por 2 a 1 até os 37 minutos do segundo tempo, mas cedeu o empate e, na prorrogação, a virada com dois gols do artilheiro Lineker.

Bulgária e Romênia (1994)

Gheorghe Hagi, meia da Romênia na Copa de 1994 — Foto: Fifa

Na Copa que deu o tetracampeonato ao Brasil, duas seleções que foram acima das suas expectativas também caíram na graça dos torcedores.

Liderada pelo craque Gheorghe Hagi, a Romênia se classificou em primeiro no Grupo A e nas oitavas despachou a Argentina - já sem Maradona afastado por doping - com uma vitória por 3 a 2.

Um dos gols daquela partida foi marcados por Hagi, que ironicamente também usava a camisa 10 e era conhecido como o "Maradona dos Cárpatos". A eliminação veio só nos pênaltis, nas quartas de final, para a Suécia.

Argentina perde para Romênia e é eliminada da Copa do Mundo de 1994

Argentina perde para Romênia e é eliminada da Copa do Mundo de 1994

Já a Bulgária foi ainda mais longe, chegando às semifinais e acabando na quarta posição. Para se ter um tamanho do feito do time liderado pelo atacante Hristo Stoichkov, artilheiro da Copa com seis gols, as únicas três vitórias do País, em seis participações em Copas do Mundo, foram registradas em 1994.

A mais marcante delas, sem dúvida, a das quartas de final, contra a então campeã mundial Alemanha por 2 a 1, de virada, com dois gols em sequência marcados aos 30 e 33 minutos do segundo tempo, anotados por Stoichkov e pelo meia Yordan Lechkov, outro destaque do time.

A eliminação veio para a vice-campeã Itália, com dois gols de Roberto Baggio.

Os gols de Itália 2 x 1 Bulgária pela semifinal da Copa do Mundo de 1994

Os gols de Itália 2 x 1 Bulgária pela semifinal da Copa do Mundo de 1994

Croácia (1998)

Croácia terceira colocada na Copa do Mundo de 1998 — Foto: Ross Kinnaird /Allsport

Após conquistar sua independência da Iugoslávia em 1991, a Croácia disputou a sua primeira Copa do Mundo sete anos depois, na França. Para fazer história e conquistar o terceiro lugar, posição que tentará repetir na disputa de sábado, contra o Marrocos.

Com craques como Jarni, Boban, Prosineck e o atacante Suker, artilheiro do Mundial com seis gols, a seleção quadriculada terminou em segundo em seu grupo, atrás apenas da Argentina, e nas oitavas despachou a envelhecida seleção da Romênia.

Mas a grande apresentação veio nas quartas, com uma vitória incontestável sobre a Alemanha por 3 a 0. Na semifinal, os croatas chegaram a sair na frente contra a anfitriã França, mas cederam a virada por 2 a 1, com dois gols do lateral Thuram, seus únicos com a camisa da seleção.

Em 1998, Croácia venceu Holanda por 2 x 1 na disputa de terceiro lugar da Copa do Mundo

Em 1998, Croácia venceu Holanda por 2 x 1 na disputa de terceiro lugar da Copa do Mundo

Senegal (2002)

Time do Senegal em 2002: Em pé Malick Diop, Fadiga, Bouba Diop, Coly, Diatta e Sylva. Agachados Salif Diao, El Hadji Diouf, Camara e Aliou Cissé. — Foto: getty

Assim como Camarões havia feito em 1990, Senegal também assombrou o mundo ao vencer a então campeã França por 1 a 0 na abertura da Copa do Mundo de 2002.

O gol do atacante Bouba Dioup o transformou em um dos heróis do país, ao ponto da torcida o homenagear no jogo contra o Equador, pela Copa do Catar, por conta dos dois anos da morte do ex-jogador. O técnico de Senegal no Mundial do Catar, Aliou Cissé, também fazia parte daquela seleção.

Jogadores de Senegal homenageiam ídolo Papa Dioup após classificação — Foto: Issouf SANOGO / AFP

Com dois empates na sequência, contra Dinamarca e Uruguai, os senegaleses passaram em segundo lugar no Grupo A e nas oitavas eliminaram a Suécia com uma vitória por 2 a 1, com o gol da vitória saindo na prorrogação.

Porém, também na prorrogação, os africanos foram eliminados ao perderem por 1 a 0 para a Turquia, outra surpresa da Copa.

Em 2002, Senegal derrota a França por 1 a 0 na Copa do Mundo

Em 2002, Senegal derrota a França por 1 a 0 na Copa do Mundo

Gana e Uruguai (2010)

Luis Suárez ataca de goleiro em 2010 no célebre Uruguai x Gana pela Copa da África do Sul — Foto: AFP

Na primeira Copa disputada em solo africano, na África do Sul, coube a Gana ter a honra de ser a seleção do continente a ir mais longe na competição. Mas o destino reservou também uma das mais dramáticas eliminações da história dos mundiais para outra seleção que saiu como a "queridinha" da Copa: o Uruguai.

Bicampeões em 1930 e 1950, os uruguaios há muito tempo deixaram de frequentar os primeiros degraus do futebol mundial. Mas liderados por Cavani, Suárez e Forlán (eleito craque daquela edição), a Celeste voltou a ganhar um jogo de Copa depois de 20 anos e a disputar uma semifinal após 40.

Vaga que só veio graças à vitória sobre Gana, nas quartas de final. Em um dos maiores jogos de todos os tempos, com Suaréz salvando um gol com a mão em cima da linha no último minuto da prorrogação, Asamoah Gyan perdendo o pênalti, e os sul-americanos vencendo na disputa das penalidades, com a última cobrança sendo de cavadinha pelo atacante Loco Abreu.

Melhores momentos: Uruguai (4) 1 x 1 (2) Gana pela Copa do Mundo Fifa 2010

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Costa Rica (2014)

Bryan Ruiz Costa Rica x Itália — Foto: EFE

Quando caiu no "Grupo da Morte" ao lado das campeãs Itália, Inglaterra e Uruguai, a Costa Rica não demorou para ser taxada como a seleção "saco de pancada" da chave. Porém, com um futebol rápido e de muita entrega, os "Ticos" venceram uruguaios e italianos e ao ficar no 0 a 0 com a Inglaterra avançou em primeiro lugar.

Em uma oitavas de final inédita empate por 1 a 1 e vitória nos pênaltis sobre a Grécia, que também chegava pela primeira vez ao mata-mata.

O fim da linha veio também nos pênaltis, frente à Holanda, após nova igualdade sem gols e com o técnico holandês Lois Van Gaal colocando em campo, nos minutos finais, o goleiro Krul apenas para a disputa de pênaltis (defendeu dois). Assim, a Costa Rica saiu da Copa invicta.

"Herói de luvas": Navas defende pênalti e Costa Rica faz história na Copa do Mundo de 2014

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