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Por Leonardo Miranda

Jornalista, formado em análise de desempenho pela CBF e especialista em tática e estudo do futebol


Itália 2 x 1 Albânia | Melhores Momentos | 1ª Rodada | UEFA Euro 2024

Itália 2 x 1 Albânia | Melhores Momentos | 1ª Rodada | UEFA Euro 2024

Em um setor, um lateral que mais parecia um ponta. No outro, um que pouco aparecia na frente e gostava de gastar a bola. Foi assim que a Itália virou sobre a Albânia, em vitória por 2 a 1, na Eurocopa.

O conceito de laterais com funções distintas não é novidade, muito menos surpresa no futebol. Há décadas, laterais assumem funções que vão além de chegar na ponta e cruzar para o fundo. Nos últimos quinze anos, o conceito foi elevado à potência por Pep Guardiola, que mudou o papel dos jogadores de lado com Lahm, Alaba e Walker - influência nítida na Itália treinada por Luciano Spaletti.

O esquema foi um 4-1-4-1 básico, com quatro defensores. Quando o time tinha a bola, cerca de 75% do tempo no jogo, Dimarco assumia uma função extremamente ofensiva e corria para o lado esquerdo, muitas vezes jogando mais avançado que o próprio centroavante. Já Di Lorenzo ficava entre os zagueiros para formar a saída de três, outro mecanismo tão frequente.

Esquema da Itália com a bola: 3-2-5 — Foto: Reprodução

O que chamou a atenção foi como os laterais jogaram de forma distinta. Dimarco era uma válvula de escape: todas as vezes que Barella e Jorginho, os dois volantes encarregados de pensar o jogo, pegavam na bola e não tinha jeito de tocar curto, a solução era simples: uma bola longa ou inversão de jogo na esquerda.

A ideia de Spaletti era ter um jogador fixo para pegar a defesa da Albânia, armada por Sylvinho num 4-2-3-1 que pontas que retornavam até o fundo, desprevenida. Enquanto Dimarco fazia esse movimento na esquerda, Chiesa se mantinha fixo na direita. Os dois lados eram acionados a cada jogava de velocidade.

Só que o gol da Albânia veio cedo. Muito cedo. Com isso, a Itália se viu na necessidade de tocar mais a bola e usou muito as triangulações pela direita, com Di Lorenzo pensando junto de Jorginho e Pellegrini buscando se movimentar próximo da bola.

Dimarco corre nas costas da defesa: destaque do jogo — Foto: Reprodução

Di Lorenzo fez a função que já foi de Júnior na década de 1980, no Flamengo e na Seleção Brasileira, e que recentemente ficou famosa com Philip Lahm no Bayern de Munique de Pep Guardiola. Em todas as suas versões, os laterais assimétricos possuem um intuito: causar surpresa ao adversário ou liberar um lateral como surpresa no ataque.

O segundo gol da Itália foi produto dessa ideia. A jogada começa com o 3-2-5 desenhado acima bem nítido e a defesa da Albânia toda montada, com os quatro defensores bem fixos e os pontas retornando. Onde está o espaço?

Ele se encontra na direita, no meio. Di Lorenzo avança, toca curto e chega na área, movimento que causa surpresa e quebra a defesa ao ponto de sobrar para Barella virar o jogo logo aos 16 minutos do primeiro tempo.

Lance do segundo gol começa no lateral — Foto: Reprodução

Muito bem estruturada, a Albânia lutou, mas viu a Itália dominar e criar ainda mais com base na assimetria dos dois laterais. De um lado, um velocista com capacidade de entrar na área. No outro, um pensador a mais em campo que garantia a bola limpa a Chiesa e Frattesi. Podia ser até mais do que 2 a 1, dado o nível de domínio e segurança.

Nada mal para uma equipe que se acostumou a conviver com a crise e viu na última Eurocopa a chance de redenção.

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