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Por Carlos Eduardo Mansur

Jornalista. No futebol, beleza é fundamental


Um dos efeitos colaterais de falta de estabilidade e projeto esportivo numa equipe de futebol é a dificuldade de dar identidade a este time. E quando o assunto é falta de norte, o último ano e meio da seleção brasileira é exemplar. Nada chamou mais atenção nos dois amistosos de preparação para a Copa América, os empates com México e Estados Unidos, do que a guinada radical de estilo em relação ao que o time propusera nas partidas anteriores com Dorival Júnior, diante de Inglaterra e Espanha. Principalmente no modelo ofensivo.

Especialmente em Wembley, a seleção parecia buscar um jogo de muita mobilidade e aproximações em torno da bola. Apenas Raphinha tinha um papel mais fixo na direita. A partir daí, Rodygo movia-se a partir da função de "falso 9", Vinícius Júnior vinha da esquerda para o centro, e ali os atacantes encontravam Paquetá, ao menos um dos volantes e por vezes um dos laterais.

Contra os Estados Unidos, a ideia era radicalmente diferente. Pelo segundo jogo seguido, o Brasil parecia excessivamente preocupado em manter um desenho mais rígido, com jogadores ocupando zonas definidas do campo, num sistema muito mais posicional. O vídeo abaixo mostra como o Brasil se organizava para atacar e que riscos corria ao defender.

Veja a análise de Mansur do empate da Seleção Brasileira contra os Estados Unidos

Veja a análise de Mansur do empate da Seleção Brasileira contra os Estados Unidos

O ponto central não é discutir se o Brasil deve jogar de uma forma ou de outra. A questão é que, desde o Mundial do Catar, a falta de um projeto esportivo na CBF impediu que o time tivesse um norte. Especialmente em seu segundo ciclo na seleção, Tite se inclinou por um modelo posicional, mas teve tempo para implantá-lo e para chegar ao Mundial com um bom nível de desempenho. Após a Copa, o Brasil viveu um limbo, uma sucessão de incertezas. Teve Ramon Menezes como interino e, em seguida, apostou em Fernando Diniz num trabalho também temporário. E o técnico do Fluminense trouxe com ele seu estilo de aposta radical em aproximações em torno da bola. Enquanto isso, a CBF jurava que Ancelotti viria para sucedê-lo.

Antes mesmo de o time se adaptar ao que pretendia Diniz, o interino foi demitido, o plano Ancelotti fez água e, em março passado, a três meses da Copa América, chegava Dorival. Nada mais natural que, hoje, a seleção seja um time em busca de entender que tipo de futebol vai praticar.

Hoje, Dorival parece inclinado a ter uma saída de bola com os dois zagueiros, os dois laterais e dois volantes à frente da linha de defesa. Mais adiante, mantém Raphinha bem aberto na direita e Vinícius Júnior ou Rodrygo alternando funções: um aberto na esquerda, outro no centro do ataque, onde ganha a companhia de Lucas Paquetá, este atuando quase como segundo atacante.

A questão é que, neste momento da implantação do modelo, o jogo ainda não parece fluir com naturalidade. Há trocas de posições, alternâncias de jogadores ocupando cada zona, mas a rigidez ainda não tem permitido que, ao definir as jogadas, apareçam movimentos para surpreender defesas rivais: as ultrapassagens dos laterais são raras, assim como as infiltrações de um dos volantes e, principalmente, as associações entre Vinícius, Rodrygo e Paquetá. Além disso, nos momentos em que vira um ponta esquerda, Vinícius parece não oferecer todo o seu melhor repertório atual.

O Brasil criou chances para vencer os Estados Unidos, mas a maioria delas aconteceu quando o jogo permitiu ataques rápidos ao espaço, cenário em que os talentos ofensivos da seleção podem ser decisivos. Quando se estabeleceu no campo de ataque diante de uma defesa posicionada, o time criou bem menos. Não há nada de anormal neste estágio do trabalho. O anormal é ver uma seleção chegar às vésperas da Copa América com um trabalho que soma apenas quatro jogos..

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