Por g1 RS


Um mês das enchentes que assolam o Rio Grande do Sul — Foto: g1

As enchentes que tomaram o Rio Grande do Sul após os temporais que assolaram o estado completam um mês em 29 de abril. Conforme a Defesa Civil, 172 pessoas foram mortas e mais de 629 mil foram expulsas de casa.

A chuva forte começou em 27 de abril em Santa Cruz do Sul, na Região dos Vales. Sem parar, se estendeu por mais de 10 dias, sobrecarregando as bacias dos rios Taquari, Caí, Pardo, Jacuí, Sinos e Gravataí, que transbordaram e a água invadiu municípios, arrasando cidades e destruindo vidas.

Como são interligadas, a água das bacias chegou ao Guaíba, em Porto Alegre, e à Lagoa dos Patos, em Pelotas e Rio Grande, que também transbordaram, inundando os municípios e tirando famílias de casa – a água chegou onde até então nunca havia chegado.

A Região da Serra também sofreu impacto da chuva, mas em função de deslizamentos de terra.

Um mês de calamidade no RS: como se prevenir de novos desastres climáticos?

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Confira, ao longo da reportagem, o que viveu o Rio Grande do Sul ao longo dos últimos 30 dias.

Maior enchente da história do RS deixa comunidades ilhadas e causa cenário de destruição

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Sábado, 27 de abril: primeiro temporal

Em 27 de abril, antes do início da tragédia, municípios do Vale do Rio Pardo registraram impactos provocados pela chuva e por granizo. Santa Cruz do Sul foi uma das cidades mais afetadas.

Granizo em Santa Cruz do Sul — Foto: Marina Castro

Domingo, 28 de abril: impactos

A Defesa Civil registrou prejuízos em 15 municípios após o temporal do dia anterior. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta laranja com risco de tempestade para toda a metade sul do estado.

Tempestades provocam estragos no RS

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Segunda, 29 de abril: previsão se intensifica

Mapa de alertas do Inmet para o RS — Foto: Reprodução/Inmet

Terça, 30 de abril: primeiras mortes

O Rio Grande do Sul registrou as primeiras mortes em razão dos temporais. Dois homens que estavam dentro de um carro morreram após o veículo ter sido arrastado pela água em Paverama. Naquele dia, o número de vítimas chegou a oito.

Localizado corpo de passageiro de carro que foi arrastado durante enchente em Paverama

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Trecho bloqueado da BR-290 em Eldorado do Sul — Foto: Reprodução/RBS TV

Ponte é levada pela água durante gravação de prefeita no RS

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Uma ponte também foi destruída em Santa Maria. A queda ocorreu no km 228 da RSC-287, principal ligação do Centro do RS com a Região Metropolitana de Porto Alegre. Uma travessia provisória começou a ser construída pelo Exército no local.

Ponte de rodovia é levada pela água em Santa Maria

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Quarta, 1º de maio: mulher é arrastada por correnteza

Um vídeo mostra o momento em que uma mulher é arrastada pela correnteza do rio, em Candelária. Ela foi encontrada viva e falou sobre o pesadelo que viveu.

Mulher arrastada por rio em Candelária é encontrada viva

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No mesmo dia, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), admitiu a dificuldade de resgatar todas as pessoas afetadas.

"Nós não teremos capacidade de fazer todos os resgates", disse.

No final do dia, a Defesa Civil do Rio Grande do Sul emitiu uma "orientação expressa" para que moradores do Vale do Taquari deixassem áreas de risco.

'Nós não teremos capacidade de fazer todos os resgates', diz Leite sobre temporais no RS

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Quinta, 2 de maio: cheias históricas

O Rio Taquari passou dos 30 metros de altura e atingiu o maior nível da história. Em Cruzeiro do Sul, na Região dos Vales, foi registrado em vídeo o momento em que a Brigada Militar (BM) fazia tentava fazer o salvamento de duas pessoas que estavam ilhadas em cima do telhado de uma residência (veja o vídeo abaixo).

Uma delas conseguiu ser salva. Conforme a BM, a outra pessoa foi arrastada pela água quando um policial se encaminhava para tentar salvá-la.

Pessoa que esperava resgate em telhado cai na água; outra é içada por helicóptero no RS

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O presidente Lula (PT) e o governador Eduardo Leite (PSDB) discutiram, nesta quinta-feira (2), ações para enfrentar as cheias no Rio Grande do Sul. Lula disse que não faltará recurso e citou "um comando conjunto".

Temporal no RS: Eduardo Leite e Lula se reúnem — Foto: Mauricio Tonetto/Secom

A barragem 14 de Julho, localizada entre Cotiporã e Bento Gonçalves, se rompeu parcialmente.

Barragem 14 de Julho depois das enchentes em 2024 — Foto: Divulgação

Águas do Guaíba invadem Cais Mauá, em Porto Alegre — Foto: Reprodução/Ceic Porto Alegre

Sexta, 3 de maio: caos em Porto Alegre

O dia terminou com a contagem de 39 mortes no estado.

Os efeitos do temporal começaram a ser sentidos, com maior gravidade, em Porto Alegre. Durante a manhã, autoridades bloquearam o trânsito sobre as duas pontes do Guaíba em razão da alta do Rio Jacuí e "avarias aparentes", após duas embarcações colidirem contra a estrutura da ponte nova.

Barcos colidem contra nova ponte do Guaíba em Porto Alegre — Foto: João Praetzel/GZH

O nível do Guaíba passou de 4,6 metros. As águas atingiram a Rodoviária, ruas do Centro Histórico, o Mercado Público, os centros de treinamento de Internacional e Grêmio e outros pontos.

Cheia em Porto Alegre

1/10

Enchente atinge a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira, 03 de maio de 2024. — Foto: EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

2/10

Temporal no RS: drone registra alagamento na região central de Porto Alegre — Foto: Carlos Goes/Arquivo Pessoal

3/10

Cheio do Guaíba atinge o Gasômetro — Foto: Reprodução/RBS TV

4/10

Vista aérea da enchente que atinge a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira, 03 de maio de 2024. O Rio Guaíba transbordou em Porto Alegre e as águas invadiram pontos da cidade, como o CT do Sport Club Internacional e o centro histórico da capital gaúcha. — Foto: MIGUEL NORONHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

5/10

Temporal no RS: Alagamento no Centro de Treinamento (CT) do Inter — Foto: Jordan Romano/RBS TV

6/10

Temporal no RS: avanço das águas do Guaíba em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV

7/10

Temporal no RS: alagamento na Avenida Conceição, em Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV

8/10

Temporal no RS: registro de alagamento na Avenida Mauá — Foto: Eduardo Paganella/RBS TV

9/10

Vista aérea da enchente do Rio Guaíba, que atinge a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, nesta sexta-feira (3). — Foto: Miguel Noronha/Estadão Conteúdo

10/10

Forças de segurança, como bombeiros, Exército e agentes públicos do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), fecharam as comportas entre as Avenidas Mauá e Castello Branco, em Porto Alegre (SP), nesta quinta-feira, 2 de maio de 2024, por conta da cheia do Guaíba. — Foto: EVANDRO LEAL/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Compare imagens das cheias de 1941 e de hoje em Porto Alegre

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O Aeroporto Internacional Salgado Filho foi fechado, e companhias aéreas cancelaram partidas e chegadas de voos em Porto Alegre.

Enchente histórica na capital: aeroporto é fechado por tempo indeterminado

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A Defesa Civil estadual emitiu alerta e determinou a evacuação de comunidades em sete cidades após o rompimento parcial da barragem 14 de Julho. Ao todo, quatro barragens apresentavam risco de rompimento.

Equipes de resgate iniciaram as buscas por 34 pessoas que ficaram presas em um deslizamento em um trecho que liga Veran��polis a Bento Gonçalves.

Corpo de Bombeiros e PRF resgatam pessoas em Veranópolis — Foto: Divulgação/PRF

Sábado, 4 de maio: maior tragédia da história

Com o número de 55 mortos confirmados e outros sete em investigação, a tragédia atual superou a ocorrida no Vale do Taquari, em 2023, que deixou 54 vítimas. O RS vivia sua maior tragédia climática da história.

Imagem de drone do dia 3 de maio de 2024 mostra pilha de carros soterrados por enchente na cidade de Encanto após fortes chuvas que caíram sobre o Rio Grande do Sul — Foto: Diego Vara/Reuters

O Guaíba seguiu enchendo, alcançando a marca de 5 metros. A rodoviária de Porto Alegre suspendeu todas as viagens de chegada e saída após alagar.

Rodoviária ficou totalmente alagada durante enchente em Porto Alegre — Foto: Jorge Rosa/Arquivo pessoal

Presídios ficaram ilhados, e o estado precisou transferir detentos.

Um buraco se abriu na Avenida Castelo Branco, no sentido Litoral/Capital. Com isso, o principal acesso a Porto Alegre ficou bloqueado.

Buraco se abre na Avenida Castelo Branco, em Porto Alegre — Foto: PRF/Divulgação

Cidades da Região Metropolitana de Porto Alegre, como Canoas, Eldorado do Sul e Guaíba, registraram inundações. Autoridades e voluntários trabalham, com barcos e motoaquáticas para ajudar pessoas isoladas, que esperaram por resgate em cima de imóveis e de viadutos.

Voluntários ajudam no resgate de moradores de Canoas

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O gramado da Arena do Grêmio inundou. O estádio fica próximo à foz do Rio Gravataí no Rio Jacuí, em Porto Alegre. O bairro Humaitá, na Zona Norte, é mais um local fortemente atingido pelas enchentes históricas no Rio Grande do Sul.

Gramado da Arena do Grêmio cheio de água em Porto Alegre — Foto: Diego Baldi

Domingo, 5 de maio: Nível do Guaíba em elevação

Nível do Guaíba a cada dia
Cota de inundação: 3,00 metros
Fonte: Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA)

Após bater recorde, o nível do Guaíba continuou subindo, de acordo com a medição da Prefeitura de Porto Alegre, chegando a 5,33 metros – o maior da história.

Ainda pela manhã, o presidente Lula (PT), juntamente com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luiz Edson Fachin sobrevoaram de helicóptero a capital gaúcha, além do município de Canoas, onde 180 mil pessoas foram atingidas pelos temporais.

Pessoas são resgatadas de uma área inundada em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil, em 4 de maio de 2024. — Foto: Carlos Fabal / AFP

Segunda, 6 de maio: água invade bairros do Centro da Capital

O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), recomendou que moradores dos bairros Cidade Baixa e Menino Deus deixassem a região. O aviso foi feito na tarde de 6 de maio, após a água começar a subir no local.

Segundo Melo, uma casa de bombeamento de água teve a energia elétrica desligada por questões de segurança. Os bairros citados concentram residências, condomínios, estabelecimentos comerciais e alguns órgãos públicos. A região fica entre o Centro Histórico e a Zona Sul de Porto Alegre.

A notícia, e a água, pegaram os moradores e os empresários de surpresa, que tiveram seus imóveis alagados.

Vista aérea das ruas completamente alagadas no bairro Menino Deus, em Porto Alegre, nesta segunda-feira, 06 de maio de 2024, em razão do transbordamento do Lago Guaíba. — Foto: MAX PEIXOTO/DIA ESPORTIVO/ESTADÃO CONTEÚDO

Quarta, 8 de maio: Inundações chegam ao Sul do estado

Após atingir a Região da Serra, passar pelos Vales e inundar a Região Metropolitana, a água chegou à Região Sul do RS. As cidades de São José do Norte, São Lourenço do Sul, Pelotas e Rio Grande estão em estado de alerta máximo. Milhares de pessoas precisaram sair de casa.

Rua alagada em Rio Grande por causa do aumento do nível da Lagoa dos Patos — Foto: RBS TV/Reprodução

Quinta, 9 de maio: Resgate do cavalo Caramelo

Ao sobrevoar Canoas, equipe da RBS TV identificou um cavalo ilhado sobre o telhado de uma casa no bairro Mathias Velho. Batizado de Caramelo, a situação do animal comoveu o Brasil e mobilizou o poder público a fazer o resgate, que ocorreu no dia 9 de maio. Hoje, ele se recupera no Hospital Universitário da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra), em Canoas.

Cavalo é resgatado do telhado em Canoas, no RS

Cavalo é resgatado do telhado em Canoas, no RS

Quarta, 15 de maio: água baixa no Vale do Taquari

No Vale do Taquari, os moradores vivem um cenário de destruição e lama pela segunda vez desde que os temporais atingiram a região. O nível do Rio Taquari baixou para 18,75 metros, abaixo da cota de inundação de 19 metros, revelando o que deixou para trás. Ele havia chegado a 33 metros.

"O que é possível fazer neste momento infelizmente é arregaçar as mangas e trabalhar, como todo o povo gaúcho guerreiro", diz o radialista Irno Gisch, que teve a casa coberta por lama.

Agora, ele se dedica a limpar bens, como geladeira, armário e pia, e ver o que ainda pode ser aproveitado. "Muitas famílias perderam suas casas. A gente ainda foi privilegiado de estar com a casa e poder entrar para limpar e voltar a morar normalmente", fala o morador.

Casas após as enchentes que atingiram Lajeado — Foto: Reprodução/ RBS TV

Quinta, 16 de maio: água baixa em Porto Alegre

Após a destruição de casas e comércios pela cheia do Guaíba, moradores de Porto Alegre começaram a conviver com as consequências da água. Animais mortos ficaram sobre as vias públicas, bem como esgoto exposto. O mau cheiro impregnou as ruas dos bairros Menino Deus, Cidade Baixa e Centro Histórico.

Peixe morto no Largo dos Açorianos — Foto: Mateus Bruxel/GZH

Domingo, 19 de maio: saques

As cheias despertaram a solidariedade de muitos brasileiros, mas também deixaram à mostra o cenário de insegurança. Desde o início da tragédia, as polícias do Rio Grande do Sul prenderam 130 pessoas por crimes em meio ao contexto das enchentes.

Do total de presos, 48 foram por crimes patrimoniais, como roubos e furtos de pessoas afetadas pelos temporais, afirmou a Secretaria da Segurança Pública (SSP). Outras 49 pessoas foram detidas em abrigos. Não há o detalhamento das demais prisões.

Empresária mostra loja roubada em Arroio do Meio — Foto: Marinez Silva Hauenstein

Segunda, 20 de maio: 1ª morte por leptospirose

Um homem de 67 anos morreu por leptospirose em Travesseiro, cidade atingida pelas enchentes no Vale do Taquari. Foi a primeira morte em decorrência da doença relacionada à tragédia ambiental. O RS registrou, ainda, mais três mortes. O número de casos suspeitos ultrapassou 1 mil ao longo de maio.

O colapso na saúde do Rio Grande do Sul

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Sexta, 29 de maio: um mês da tragédia

Ainda em meio à tragédia, o Rio Grande do Sul tenta se recuperar. Os governos federal e estadual lançaram benefícios de apoio à população gaúcha, como abono salarial, Auxílio Reconstrução, Saque Calamidade do FGTS, restituição antecipada o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF).

O governo do RS anunciou a estimativa de quanto seria necessário para reconstruir o estado. O governo federal também anunciou medidas.

Pessoas que perderam suas casas ainda estão acolhidas nas casas de amigos, familiares ou abrigos públicos. O poder público fala na viabilização de "cidades provisórias".

O nível de rios e lagos permanece alto. Pesquisadores sinalizam que a situação pode se normalizar, a depender das condições climáticas, dentro de até 30 dias.

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