No início de 2023, a Ultracargo -- empresa de armazenagem de granéis líquidos, como combustíveis e produtos químicos -- desenvolveu e implantou uma solução tecnológica pioneira que a ajudou a ganhar muita produtividade e eficiência: sensores que usam IA dentro das suas bombas de carregamento, presentes em todos os portos em que opera e utilizadas para deslocar materiais de um tanque para um caminhão, ou até de um navio para um tanque. Os primeiros sensores foram instalados no Terminal de Itaqui, em São Luís (MA) e hoje já são 50 espalhados nos terminais brasileiros.
A tecnologia, similar a um 'pen drive', é capaz de capturar 1.500 dados da bomba por hora e enviar atualizações e alertas em tempo real para os times de manutenção e de campo da empresa, para que tomem decisões. Entre as informações coletadas estão o desgaste, temperatura e superaquecimento, vibração excessiva e até correlação com o produto que está passando.
"A IA consegue trazer respostas que nunca enxergamos. Várias análises e dados não eram possíveis antes com a mão de obra humana. É um aprendizado contínuo", destacou Leopoldo Gimenes, diretor de Operações e Engenharia da Ultracargo, a Época NEGÓCIOS. Antes, era necessário que um colaborador se deslocasse para o porto e fizesse uma avaliação diretamente na bomba para coletar as informações. Agora, o sensor envia e consolida tudo num 'data lake' -- plataforma da parceira Tractian.
Graças à inovação que consegue prever falhas na bomba, foi possível evitar quatro paradas de operação da empresa em quatro meses. "Antigamente, era um operador que passava lá, colocava a mão para ver a temperatura ou se o equipamento estava degradado. Então, o sistema com IA nos ajuda muito a sermos produtivos e seguros. E outra camada é a questão dos dados que ele reúne, pois começamos a entender um padrão de comportamento do equipamento. Por exemplo, ele não vai quebrar agora, mas por uma estatística, há uma tendência. E aí vemos o que podemos fazer, como uma intervenção", explicou Gimenes.
Segundo o executivo, essa inteligência faz com que a empresa saia de uma manutenção 'corretiva' (quando o problema acontece) para uma manutenção 'preventiva e preditiva', antecipando as ocorrências e anomalias da bomba.
"Nosso campo ainda depende de manutenção física. Mas a IA está otimizando nosso tempo e aumentando a segurança, evitando que o colaborador vá a campo verificar o equipamento e se coloque em contato com produtos de alto risco", complementou o diretor de TI da Ultracargo, Renato Cesar Blanco.
Além de evitar a parada das operações, a tecnologia conseguiu aumentar em 15% a disponibilidade do motor, considerando que antes se demorava de 2 a 3 dias para trocá-lo quando quebrava -- o que seria mais um ganho de produtividade. Já em questões financeiras, a empresa economizou cerca de R$ 180 mil em um período de cinco meses. Os mais impactados foram os times de manutenção e planejamento, que influenciam cerca de 80 operadores no campo, explicam os diretores.
'Uma jornada rumo ao futuro'
A primeira etapa da inovação foi a predição, e o próximo passo, que já está sendo testado no caso das bombas, é o uso da IA generativa para que ela própria consiga direcionar e tomar as decisões. Este é um plano para o futuro, contou Blanco. "Vale lembrar que estamos num setor de produtos de alto risco e estamos começando a testar pequenos movimentos onde o próprio sistema reage a comportamentos. E, obviamente, você tem um centro de controle que está monitorando e intervindo".
Para os diretores, o movimento abriu um leque de oportunidades de uso de IA e tecnologia, que pode se expandir para outros sistemas móveis. "Também temos um projeto de terminal 5.0, para que ele seja mais autônomo e inteligente, com componentes de automação, visando uma operação mais fluida", contou Blanco.
"A área de óleo e gás é ainda muito tradicional e regulamentada. Há poucas frentes de inovação. Então, entendemos que estamos vivendo uma jornada com uma oportunidade gigantesca no mercado", destacou Gimenes.