50 + vida e trabalho

Por Maria Tereza Gomes


 — Foto: Getty Images
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A notícia saiu nos principais veículos de comunicação americanos na semana passada: o engenheiro Mark Goldstein, de 67 anos, está processando a Raytheon (que agora se chama RTX), maior indústria aeroespacial do mundo, por discriminação de idade nos processos de recrutamento. Entre 2019 e 2023, Goldstein, que tem 40 anos de experiência, se candidatou a sete cargos na RTX para os quais tinha qualificação. O problema: as vagas pediam candidatos recém-formados ou com experiência profissional mínima. Ele nunca passou sequer por uma entrevista. Trata-se de uma ação coletiva apoiada pela AARP, a associação de aposentados americanos (com 38 milhões de membros), que corre na justiça do estado de Massachusetts.

A briga do americano com a RTX vem desde 2021. Naquele ano, ele entrou com uma queixa na EEOC (Equal Employment Opportunity Commission) argumentando que a exigência de ser recém-formado era uma discriminação por idade. A EEOC concordou, forçando a empresa a rever os requisitos para as vagas. Querendo ser esperta, a empresa passou a pedir candidatos com menos de um ou dois anos de experiência. O truque não funcionou e a resposta é a ação judicial de agora. No Brasil, ainda são raros, mas os processos judiciais relacionados à idade vêm aumentando. Em 2023, foram ajuizados 147 processos com o tema etarismo (Data Lawyer). O número é ínfimo perto dos mais de quatro milhões de novas ações trabalhistas, mas é praticamente a soma dos seis anos anteriores.

"O envelhecimento da força de trabalho é um desafio que as empresas brasileiras terão que enfrentar", diz a advogada Marcia Yoshida, sócia do escritório Boccuzzi Advogados, em São Paulo. Ela lembra que, se se cumprirem as estimativas de que em 2043 um quarto da população terá mais de 60 anos, a estrutura etária atual das empresas não se sustentará. Não haverá mão de obra jovem suficiente. A advogada tem algumas recomendações: os anúncios de vagas não devem exigir data de nascimento ou idade; os envolvidos no processo de recrutamento precisam ser treinados para um olhar mais inclusivo; toda a empresa deve ser conscientizada para acolher os 50+; e é preciso elaborar manuais e políticas internas visando a uma cultura de diversidade, inclusão e equidade. "Este assunto precisa entrar na pauta", diz ela.

De certa forma, o que a RTX continua fazendo é o que as empresas sempre fizeram: expulsam os profissionais mais velhos e, em seu lugar, colocam os mais jovens. Não acredito que haja uma conspiração intencional das áreas de recursos humanos contra os 50+, mas os especialistas concordam que a discriminação etária na contratação tem duas causas principais. Primeiro, os empregadores assumem erroneamente que os trabalhadores mais velhos são mais caros, quando a maioria, assim como Goldstein, quer apenas continuar em atividade. Em segundo lugar, inconscientemente ou não, reforçam a crença de Mark Zuckerberg, da Meta, que em 2007 disse que “os jovens são apenas mais inteligentes”.

Para concluir a coluna, uma boa notícia. Antes de escrever este texto, eu pedi ao LinkedIn que me listasse vagas abertas. Como o algoritmo conhece o meu perfil, recebi 1.169 oportunidades, principalmente ligadas à minha área de atuação. Avaliei as 10 primeiras vagas e nenhuma delas exige que o candidato seja "nativo digital" ou "digital native", que é uma expressão muito usada para manter os 50+ distantes. Além disso, das três companhias que aparecem em destaque - Thomson Reuters, Red Bull e Natura & Co -, duas incluíram no descritivo uma declaração anti-discriminação bem completa:

●Red Bull: "Acreditamos no potencial de todos (...), independentemente de expressão de gênero, raça, religião, orientação afetivo-sexual, origem, idade e deficiência. No mundo da Red Bull, todos são bem-vindos."

●Natura & Co: "A Natura &Co celebra e abraça a diversidade em todas as suas formas e pluralidades! Convidamos as #Mulheres, pessoas #Negras, profissionais com deficiência (#PCD), pessoas pertencentes às comunidades #LGBTQIA+, #Gestantes e profissionais de #QualquerIdade a se candidatarem a esta vaga!"

A Thomson Reuters não é explícita sobre seu compromisso anti-etarismo, mas pede que os candidatos tenham "pelo menos cinco anos de experiência em jornalismo". São bons exemplos para inspirar outras empresas. Espero que o resultado seja um ambiente de trabalho realmente diverso.

*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”.

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