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Por Regina Galvão*


À frente do Studio Cas, Lucas Recchia emprega técnicas artísticas em suas criações e, após estrear com o vidro, investiu no bronze, tendo como referência as esculturas de Alberto Giacometti – ao redor do designer, da esq. para a dir., Morfa nº 04; mesa Trípede, de edição limitada, com aplicação de pátina azul; Morfa nº 02, com pátina marrom; e Morfa nº 01, com pátina vermelha, todas de bronze e vendidas pela Firma Casa — Foto: Ana Pigosso/Divulgação
À frente do Studio Cas, Lucas Recchia emprega técnicas artísticas em suas criações e, após estrear com o vidro, investiu no bronze, tendo como referência as esculturas de Alberto Giacometti – ao redor do designer, da esq. para a dir., Morfa nº 04; mesa Trípede, de edição limitada, com aplicação de pátina azul; Morfa nº 02, com pátina marrom; e Morfa nº 01, com pátina vermelha, todas de bronze e vendidas pela Firma Casa — Foto: Ana Pigosso/Divulgação

Atuando como designer de mobiliário há pouco mais de quatro anos, Lucas Recchia tem uma trajetória profissional invejável: suas peças exclusivas estão em duas lojas paulistanas de referência, a Firma Casa e a Casual Conceito; em 2021, ele estreou na galeria de Rossana Orlandi, em Milão, considerada a papisa do design italiano, que o representa na Europa e na Ásia; em 2022, passou a fornecer móveis para a galeria Castorina, na Austrália, além de assinar um contrato com a marca de roupas Off-White para desenvolver mesas de alumínio para as lojas dos Estados Unidos, Itália, Japão, Coreia do Sul e Emirados Árabes.

Uma das peças de bronze em processo de pátina — Foto: Ana Pigosso/Divulgação
Uma das peças de bronze em processo de pátina — Foto: Ana Pigosso/Divulgação

Todo esse sucesso não se restringe apenas a talento, há também uma boa combinação de sorte e ousadia na vida desse leonino de 31 anos, nascido em Florianópolis. Ainda estudante de arquitetura na FAU-Mackenzie, em São Paulo, Lucas enviou um e-mail para Sonia Diniz, dona da Firma Casa, pedindo para conhecer a empresa e mostrar seu trabalho, que, naquele momento, resumia-se a um único móvel: a mesa de vidro derretido Morfa nº 01. Sem obter retorno da empresária, Lucas contou com o acaso para encontrá-la, sem querer, no ambiente do amigo e arquiteto Marcelo Salum na Casacor São Paulo, onde sua mesa estava exposta.

“Marcelo nos apresentou e marquei de ir à Firma Casa na semana seguinte”, recorda-se. “Tudo fluiu muito rápido entre nós. Levei alguns desenhos e Sonia gostou, pediu apenas para variar o tamanho das mesas e perguntou de quanto eu precisava para fazê-las.” Em alguns meses, com o financiamento da empresária, a série Morfa, composta por mesas de vidros coloridos nacionais e importados, estreou na Firma Casa em setembro de 2019, em uma cenografia que inseriu 3 toneladas de areia na sala principal da galeria. “Essa coleção representou uma grande aposta da Sonia, pois ela não me conhecia tão bem nem sabia que eu ainda estava cursando a faculdade.”

Apesar de o lançamento repercutir positivamente na imprensa, as vendas fracassaram. “Houve certo estranhamento sobre o material, o medo de ser muito frágil. Um arquiteto chegou a me dizer que ‘vidro é para ser usado na janela e nada mais’”, conta o designer. Na metade de 2020, porém, com o mercado de decoração aquecido, as mesas começaram a ser especificadas em projetos de destacados escritórios de arquitetura: um residencial do Triptyque e outro de Sig Bergamin. “A partir daí, a busca por elas cresceu, até a coleção se tornar a mais vendida da marca”, diz ele.

Tive que explicar que o processo do bronze é todo artesanal e que a oxidação aconteceria no decorrer do tempo. E isso nunca foi um problema na história da arte
— Lucas Recchia
Mesa Controversa, de edição limitada — Foto: Ana Pigosso/Divulgação
Mesa Controversa, de edição limitada — Foto: Ana Pigosso/Divulgação

O interesse de Lucas pelo vidro surgiu durante um exercício acadêmico em que montou uma maquete com o material. A experiência despertou o desejo de criar móveis desse tipo. Não foi fácil, porém, encontrar um fornecedor que topasse a empreitada. A sorte ajudou-o mais uma vez quando, em uma viagem a Ubatuba, no litoral norte paulista, conheceu um ateliê comandado por um casal que aprendera a técnica vidreira na Europa. Sem dinheiro para investir em moldes, o designer começou a testar ali o vidro derretido com borda arredondada e, nessa ocasião, nasceu a Morfa nº 01. Depois do vidro, veio a vontade de trabalhar com o bronze. “Notei que esse era um material recorrente nas produções dos irmãos Campana e de designers e artistas internacionais.” Um fabricante no interior de São Paulo, que estava com um fluxo de produção baixo devido à pandemia, topou fabricar a Morfa nº 01 na versão metal.

Bancos Ganesha, de quartzito Pita maciço esculpido em máquina de CNC pela Brasigran — Foto: Ana Pigosso/Divulgação
Bancos Ganesha, de quartzito Pita maciço esculpido em máquina de CNC pela Brasigran — Foto: Ana Pigosso/Divulgação

Diferentemente das peças de vidro, a coleção de bronze foi bem recebida desde o início, mas ainda assim surgiram alguns questionamentos de clientes sobre o material. “No Brasil, há pouco entendimento sobre as matérias-primas que diferem da madeira. Me perguntavam se a mesa era banhada, se era uma produção industrial, se o material oxidaria. Tive que explicar que o processo é todo artesanal e bastante complexo, e que a oxidação aconteceria no decorrer do tempo. E isso nunca foi um problema na história da arte”, afirma Lucas.

Mesas Morfa nº 01 e Morfa nº 02, de vidro colorido — Foto: Ana Pigosso/Divulgação
Mesas Morfa nº 01 e Morfa nº 02, de vidro colorido — Foto: Ana Pigosso/Divulgação

No final de 2020, a ousadia imperou novamente e o designer selecionou cinco galerias internacionais para enviar e-mails, com as fotos de suas criações. “Muita gente me disse que seria impossível exportar mesas de vidro e ninguém se interessaria pela minha proposta.” Realmente, das cinco mensagens enviadas, só uma retornou: a de Rossana Orlandi, respondida de Milão pela própria galerista. A italiana mostrou-se interessada principalmente pela mesa Caco, feita com vidro reciclado e que havia tido pouca aceitação por aqui. Em 2021, no verão europeu, essa e outras peças de Lucas foram exibidas na galeria dela na Sardenha. Hoje é Rossana que representa os artigos do designer na Europa e na Ásia. “Ela teve um papel semelhante ao da Sonia Diniz na minha carreira. As duas abriram muitas portas para mim”, reconhece.

Aparador Janelas, de quartzito com vidro fundido — Foto: Ana Pigosso/Divulgação
Aparador Janelas, de quartzito com vidro fundido — Foto: Ana Pigosso/Divulgação

Além da mãe de Lucas – que o matriculou, assim como a irmã, em múltiplos cursos na infância e na adolescência, o que contribuiu para que ele cursasse administração, direito e arquitetura –, outra figura feminina importante nessa história é Renata Malenza, sócia da Brasigran Granitos, empresa do Espírito Santo. De tanto insistir em visitar a companhia, Lucas conseguiu uma reunião para mostrar os desenhos dos móveis que desejava criar com pedras. “Conversamos bastante e isso serviu para eu entender o processo de fabricação e ajustar os formatos das peças.”

Desde então, a Brasigran produz os desenhos de Lucas com as pedras exóticas escolhidas por ele, como o quartzito Pita, usado para compor a mesa de centro Quadrícula, lançada pela Firma Casa na SP-Arte 2022. “Essa é uma pedra muito dura, de tom avermelhado, que contém ferro em sua estrutura. Leva muito tempo para ser esculpida na máquina, mas convenci Renata a fabricá-la”, conta. Para a mesma série, intitulada Janelas, ele criou ainda uma mesa de jantar e um aparador, vendidos pela loja paulistana e apresentados na Semana de Design de Melbourne, pela galeria australiana Castorina.

Investigar as técnicas de fabricação, aliás, faz parte da rotina de Lucas, que se dedica diariamente a pesquisar, desenhar e administrar seu negócio em uma das salas do terceiro piso da icônica Galeria Metrópole, no centro da capital paulista. “Minhas melhores obras surgiram do meu entendimento do processo produtivo. Só pude desenhar a mesa Caco, uma das minhas preferidas, porque entendi como reciclar o vidro e como controlar a temperatura no forno para obter o resultado que eu perseguia. Faço design com técnicas artísticas.”

Nos próximos meses, ele pretende lançar uma linha de luminárias e seguir dedicado aos projetos comissionados. Além das mesas da Off-White, entregues em julho, ele projeta agora mesas de centro para um hotel de Miami, com ambientação assinada pela badalada designer americana Kelly Wearstler. Como se vê, a combinação de sorte, ousadia e talento tem papel fundamental na vida de Lucas Recchia.

*Matéria originalmente publicada na Casa Vogue de setembro. Garanta a sua aqui

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