Renault Kardian é melhor que Nivus e Pulse? Comparamos desempenho e custos

Pela proximidade dos preços, colocamos justamente a versão mais cara para enfrentar o Nivus Comfortline (R$ 134.390), que é opção intermediária, e o Pulse Impetus (R$ 132.990), topo de linha — a configuração Abarth é mais cara (R$ 150.990) e tem apelo esportivo (ausente nos outros dois).

O Renault Kardian estreia o motor 1.0 turbo de três cilindros com 125 cv e 22,4 kgfm de torque. O câmbio, automatizado de dupla embreagem com seis marchas, poderia ser o calcanhar de aquiles do SUV, mas não é — falaremos disso em breve. Se o francês tem um conjunto inédito, o Nivus traz um velho conhecido dos brasileiros: motor 1.0 TSI de até 128 cv e 20,4 kgfm, acoplado a transmissão automática de seis marchas. Por fim, o mais potente de todos: o Pulse com motor 1.0 turbo de 130 cv com os mesmos 20,4 kgfm do rival da VW, mas transmissão CVT que simula sete relações.

Em dimensões, o Kardian leva vantagem de 1 centímetro no comprimento sobre o Pulse (4,11 metros ante 4,10 m), mas é mais curto que os 4,27 m do Nivus. O destaque do Renault é a distância entre-eixos, de 2,60 m, superior aos 2,57 m do Nivus e bem maior que os 2,53 m do Fiat. Quando o assunto é porta-malas, a vantagem é da Volks: 415 litros contra 358 l do Kardian. O Pulse é anunciado com 370 l, mas a Fiat usa um padrão diferente (mais otimista) para medir o compartimento, portanto, o SUV teve ter na faixa dos 300 litros, assim como o Argo.

A explicação para espaço e porta-malas nem sempre abundantes vem da estratégia das fabricantes, que aproveitam suas plataformas modulares para fazer carros de diferentes carrocerias usando a mesma base. Isso faz muito sentido para otimizar projetos e aproveitar peças e motores de modelos distintos.

O Kardian, por exemplo, é feito sobre a plataforma RGMP, inédita no Brasil, mas que é a mesma CMF-B da terceira geração do Dacia Sandero Stepway — da empresa romena do grupo Renault — vendido na Europa, portanto, um hatch. O Stepway brasileiro, que usa base mais antiga e resiste apenas com motor 1.0, tem 1 cm a menos de entre-eixos do que o Kardian: 2,59 cm. O Nivus é feito sobre a base MQB, a mesma do Polo, por isso ambos têm 2,57 de entre-eixos. A Fiat jura que as plataformas MLA (Pulse) e MP1 (Argo) são diferentes.

Os engenheiros da marca também se esforçam para evitar qualquer comparação entre os dois, mas não é nenhuma novidade que a dupla compartilha muitos componentes, como portas, vidros, colunas A e B e o mesmo entre-eixos de 2,53 m — bem longe de ser o ideal para o SUV.

Eu, com 1,87 m de altura, também estou bem longe da estatura média de um brasileiro, que fica na faixa de 1,70 m. Dito isso, sentado no banco traseiro dos carros, o único em que tive mais conforto para joelhos e cabeça foi o Kardian. O pênalti aqui (sem tira-teima) fica para o fato de não haver saídas traseiras de ar-condicionado, apenas duas entradas USB-C. E, assim como seus rivais, essa peça central de plástico está em posição mais avançada, prejudicando um pouco quem vai sentado no banco do meio.

O acabamento mostra uma evolução em comparação a outros Renault nacionais. Mesmo que a maior parte do painel seja de plástico, a marca teve o capricho de colocar partes com acabamento preto brilhante e revestimentos de couro com costuras laranja.

No Nivus, o espaço para as pernas no banco traseiro fica no limite, mas o caimento cupê do teto compromete o espaço para a cabeça. Em contrapartida, é o único com saídas de ar-condicionado lá atrás, além de duas entradas USB-C. É importante ressaltar que a versão fotografada é a Highline, topo de linha, que custa R$ 151.590. Faróis de neblina, painel de instrumentos digital com tela de 10,1 polegadas, central multimídia VW Play de 10,25”, partida por botão e rodas aro 17 são itens exclusivos dessa versão.

Visto de fora, o Pulse é o que tem a maior altura para o solo: 22,4 cm de vão livre. Isso pode dar a sensação de que é um carro espaçoso por dentro. Entretanto, não é. Para as pernas, fica no limite e meus joelhos ficam pressionados na parte de trás do banco do motorista. Para a cabeça, também não há conforto. E se os ocupantes quiserem carregar seus celulares, terão de entrar em acordo: só há uma porta USB do tipo A. E não há saídas de ventilação.

Como a Fiat não tinha o Pulse na frota, recorremos à Movida, que nos emprestou a versão Audace, mais barata que a Impetus, apenas para as fotos.

• Agradecimentos:
• Local das fotos: Morumbi Shopping – @morumbishopping
• Movida – seminovosmovida.com.br / @seminovosmovida

Voltando ao Kardian, sentado no banco do motorista, a sensação de altura é bem semelhante à de um Stepway. Com ajustes de altura e de profundidade do volante, é possível ficar em uma posição bem ergonômica. A única coisa ruim é que a Renault mantém os controles de áudio no famigerado comando satélite na coluna de direção nada funcional. A tela da central multimídia tem 8”. Mas vamos ao que interessa: o desempenho.

O motor do SUV é bem elástico, apesar de os 22,4 kgfm de torque máximo aparecerem a altas 2.900 rpm. O propulsor cai no gosto de quem preza por respostas rápidas do acelerador, algo que também é característico no Nivus e no Pulse. A caixa de câmbio de dupla embreagem e seis marchas é banhada em óleo, o que é um alívio; afinal, transmissões problemáticas do tipo, como a Ford Powershift e VW DSG, tinham “caixa seca”. Isso evita os incômodos trancos nas trocas e faz com que você visite menos a oficina mecânica. Se preferir, tem a opção de trocar as marchas pelos paddle-shifts do volante, assim como os rivais.

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Outro ponto interessante do Kardian é o controle de vibração e ruído do motor por causa da manta acústica na parte de dentro do capô — Pulse e Nivus não têm. A suspensão do Kardian também merece reconhecimento.

O conjunto tem acerto um pouco mais rígido que o de Nivus e Pulse e, dependendo do solo, incomoda mais do que deveria com leves batidas. Mas há claramente um avanço de conforto na comparação com o Duster.

O Nivus com certeza é o rival mais direto do Kardian, isso porque é líder do segmento e sempre esteve à frente do Pulse nas vendas. Além disso, carrega um dos conjuntos mecânicos mais bem acertados dos carros de entrada recentes com o motor 1.0 TSI. Desde 2022, esse motor passou a atender às adequações do Proconve L7, regulamentado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), e não houve mudanças nos números de desempenho para reduzir emissões — no Nivus, vale ressaltar.

Por outro lado, a sensação ao volante é de que pode ter havido uma alteração no mapa de aceleração, que tem certo atraso, principalmente na hora de sair da inércia. Isso acontece justamente para reduzir emissões. Mas o conjunto ainda continua excelente para o uso no dia a dia. O problema é que o vão livre do solo é baixo, com 17,6 cm, e o carro vai raspar em muitas situações cotidianas. O Pulse, como já dito, é bem alto, é o melhor dos três nesse quesito. O que o modelo da Fiat não consegue fazer é distanciar a imagem de “SUV do Argo”. O espaço é apertado como um todo, e chamá-lo de hatch com suspensão elevada não me parece exagero.

Em questão de desempenho, os três agradam muito, mas no tira-teima no Rota 127 Campo de Provas o Pulse levou a melhor nas acelerações.

O modelo da Fiat fez o zero a 100 km/h em 9,6 segundos, marca melhor que os 9,9 s do Nivus e bem superior aos 10,4 s do Kardian. Nas retomadas, os números são mais parecidos; nas frenagens, Nivus e Kardian vão melhor — o Pulse é o único com tambor na traseira.

Quando o assunto é economia de combustível, o francês leva a melhor. Em nossas medições com etanol, o consumo urbano do Kardian foi de 10,1 km/l e o rodoviário, de 11,6 km/l. No Nivus, as marcas caem para 7,7 km/l e 9,4 km/l, respectivamente, e no Pulse a média vai para 8,5 km/l na cidade e 10,2 km/l na estrada.

A Renault deixa claro que o Kardian é a grande aposta para uma virada de chave da marca no Brasil. E o SUV consegue representar isso com personalidade no visual e equipamentos como alertas de ponto cego e de colisão frontal com frenagem de emergência, controlador de velocidade adaptativo e seis airbags. Mesmo que por apenas R$ 200 de diferença, o Kardian é o carro mais em conta deste comparativo. Nesse embate, a Renault precisou recorrer ao velho tira-teima para superar os rivais diretos e confirmar a vitória.

*Seguro: O valor é uma média entre as cotações das principais seguradoras do país fornecido pela Minuto Seguros com base no perfil padrão de Autoesporte, sem bônus

**Cesta de peças: Retrovisor direito, farol direito, para-choque dianteiro, lanterna traseira direita, filtro de ar (elemento), filtro de ar do motor, jogo de quatro amortecedores, pastilhas de freio dianteiras, filtro de óleo do motor e filtro de combustível (se aplicável)

VENCEDOR: RENAULT KARDIAN
O Kardian vence nos detalhes. A lista de equipamentos mais recheada, o fato de ser mais econômico e o bom motor turbo pesam a favor do francês no custo/benefício. O tira-teima está feito e agora já posso responder à pergunta do meu vizinho.

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