Carros clássicos
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A Tabela Fipe é hoje a principal referência para o comercio de carros seminovos, usados e antigos. Criada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas em 1973, presta serviços ao governo e empresas privadas, e de certo modo, regula o mercado com um dos seus principais produtos.

Atualizada no primeiro dia útil de cada mês, a tabela usa uma fórmula que considera a média praticada no mercado, e as informações, são coletadas nos classificados oficiais de comercialização, além de pesquisas em lojas.

Porém, um fenômeno tem sido visto recentemente no mercado de carros clássicos: os preços da tabela não condizem mais com a realidade do mercado. E olha que a metodologia do instituto descarta valores muito altos, baixos ou com alguma discrepância estatística.

Saudosismo e até isenção de IPVA estão entre as razões para comprar um carro antigo — Foto: Getty Images
Saudosismo e até isenção de IPVA estão entre as razões para comprar um carro antigo — Foto: Getty Images

Preços em alta

Antes de trazer exemplos clássicos, é preciso considerar que usar a tabela Fipe é impossível em alguns casos, e o primeiro fator que dificulta a avaliação de alguns modelos se dá ao fato de que as informações disponibilizadas têm um início relativamente recente: 1985 para carros, 1981 para ônibus e 1990 para motos.

Um proprietário de um Ford Maverick GT 1974 ou mesmo de um Chevrolet Opala SS 1971 fica sem referência, por exemplo.

Chevrolet Opala SS 1971 é modelo clássico que não tem dados disponibilizados na Fipe — Foto: Cláudio Larangeira
Chevrolet Opala SS 1971 é modelo clássico que não tem dados disponibilizados na Fipe — Foto: Cláudio Larangeira

2010

O fator que explica a disparidade nos preços é que o mercado de clássicos se aqueceu de 2010 para cá. Na época, um VW Gol GTi 1989 que hoje é anunciado por até R$ 300 mil, voltava a ser sonho de consumo de colecionadores e entusiastas. Um exemplar em bom estado era comercializado, em média, por R$ 11 mil, sendo que sua tabela Fipe, era de R$ 9.027 em janeiro do mesmo ano — valores próximos e que poderiam justificar a conservação ou a quilometragem mais baixa do modelo mais caro. Nada surpreendente.

Na mesma época, um Chevrolet Opala Diplomata 4.1/S 1992 chegava a R$ 20 mil no mercado, ante R$ 16.557 anunciados pela Fipe. Há quem dissesse que só um louco compraria um GM de 18 anos de uso e beberrão pelo preço de um Chevrolet Celta Life 3p 2006; a ocasião com Fipe a R$ 17.745. Eram outros tempos.

O carro mais carismático do Brasil, o Volkswagen Fusca, neste caso modelo 1996, já nas últimas unidades da série Itamar, também é citado neste exemplo, que lá em janeiro de 2010 era comercializado em média por R$ 11.000, e tinha sua Fipe tabelada a R$ 10.497.

2018

Alguns anos à frente, já em 2018, estes três veículos tiveram outros preços, e com diferenças maiores. O VW Gol GTi modelo 1989 era encontrado a R$ 45 mil, com Fipe em janeiro do mesmo ano a R$ 8.290, cinco vezes mais. Já o GM Opala Diplomata 4.1/S modelo 1992 chegava a R$ 30 mil no mercado, ante R$ 20.822 anunciados pela Fipe.

Por fim, o saudoso Fusquinha 1996 era comercializado em média por R$ 18 mil, e tinha sua Fipe tabelada a R$ 14.823. E o mercado não parou de crescer.

Volkswagen Gol GTi é sonho de consumo de entusiastas, e preço de venda é bem mais alto que éda média da Tabela Fipe — Foto: Murilo Góes/Autoesporte
Volkswagen Gol GTi é sonho de consumo de entusiastas, e preço de venda é bem mais alto que éda média da Tabela Fipe — Foto: Murilo Góes/Autoesporte

E hoje?

Em 2020 o mundo foi acometido por um problema de saúde pública sem precedentes, e muitas pessoas olharam ainda mais para este mercado, que “explodiu”, e os preços foram para as alturas.

E os modelos que já tinham seus olhares do mercado, tiveram um crescimento sem precedentes. Começamos a ver Ford Maverick V8 a R$ 200 mil e Landau a R$ 90 mil.

E os modelos analisados desde 2010? Bom, o preço de mercado chega a ser 20 vezes maior que na Tabela Fipe. Vamos aos exemplos. Se na Fipe, o Gol GTi 1989 vale R$ 15.626 atualmente, nos anúncios da internet é possível encontrar exemplares por até R$ 300 mil, ou 19 vezes mais.

Volkswagen Gol GTI 1989 é vendido por até R$ 300 mil — Foto: Reprodução/Reginaldo de Campinas
Volkswagen Gol GTI 1989 é vendido por até R$ 300 mil — Foto: Reprodução/Reginaldo de Campinas

O Opala Diplomata 4.1/S 1992 pode ser encontrado a R$ 100 mil e o VW Fusca modelo 1996 tem preço médio de R$ 55 mil. E na Fipe? Bem, as cifras são bem mais modestas: R$ 69.220 e R$ 52.672, respectivamente. Pode não ser uma diferença tão gritante como no caso do Gol. Mas o hatch da Volkswagen não é o único exemplo de distorção.

Elas normalmente acontecem em modelos específicos, como outros esportivos lendários dos anos 1990. O Chevrolet Kadett GSi 1992, com preço médio tabelado a R$ 16.487 e Ford Escort XR3 1985, com tabela a R$ 3.915 são encontrados em pesquisas com médias de R$ 40 mil cada, respectivamente.

Novos colecionáveis

E a tendência é que esse fenômeno comece a acontecer com outros clássicos antes considerados renegados e que passaram a ser vistos como colecionáveis, dando ainda mais força a esse mercado. Veja exemplos abaixo:

Volkswagen Apollo é clássico que passou a ser procurado com o aquecimento desse mercado durante e após a pandemia de Covid-19 — Foto: Divulgação
Volkswagen Apollo é clássico que passou a ser procurado com o aquecimento desse mercado durante e após a pandemia de Covid-19 — Foto: Divulgação

Chevrolet Chevette hatch, Chevette Junior, frutos da Autolatina como VW Apollo, Logus, Pointer, Gol 1000, linha Gol com motor AE (vulgo CHT), linha Ford Del Rey, Ford Versailles e Royale, Ford Verona, Escort nas versões “civis” (1.6, 1.8 e mesmo os Hobby 1.0 e 1.6), Dodge Polara, linha Fiat 147, Prêmio, Elba, Fiat Tipo, Fiat Tempra, entre tantos outros.

Procuramos a Fipe para entender os critérios de composição de preços, e usamos os três modelos citados ao longo do texto (GTI, Diplomata e Fusca), e em resposta, através de sua assessoria, tivemos a explicação de que:

Procurada por Autoesporte, Fipe se posicionou acerca da diferença de valores de tabela e venda de veículos clássicos colecionáveis — Foto:  Encontro de Clássicos/Divulgação
Procurada por Autoesporte, Fipe se posicionou acerca da diferença de valores de tabela e venda de veículos clássicos colecionáveis — Foto: Encontro de Clássicos/Divulgação

“Os modelos citados são veículos especiais, na maioria de placa preta (modelos de colecionador). Os anúncios desses modelos incluem no preço o valor sentimental, componente análogo ao valor de um quadro de artista famoso ou fora do comum, cujo valor advém de sua exclusividade. Neste caso eles não entram no cômputo da média da Tabela Fipe: é um dos casos considerados como outlier; no cômputo da média entra seu valor real, sem esse atributo. Esse é o motivo da diferença de preços encontrados em anúncios desses modelos de colecionador e os da Tabela Fipe.”

Sendo assim, a Fipe desconsidera preços muito acima da média por entender que são veículos especiais, muitas vezes com valor sentimental. Porém, esse fenômeno não acontece com todos os modelos, já que os valores pedidos por Fusca e Opala, por exemplo, também sofrem essa discrepância mesmo em unidades que não têm placa preta ou apelo a colecionadores.

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