Um dos pilares do equilíbrio do organismo, a hidratação é crucial para a saúde dos seres vivos. Mas o tema ganha uma relevância extra com a chegada do verão, já que, na estação, a transpiração – e a consequente perda de água – aumenta para a temperatura corporal diminuir.
Com os animais não é diferente. Nossos bichos também sofrem com o calor e, por não conseguirem se comunicar como os humanos, precisam de uma atenção especial para evitar a desidratação e seus males, que podem inclusive levar à fatalidade.
Como saber se meu pet está desidratado?
Embora apenas o médico-veterinário esteja apto para apontar de forma precisa se o animal está desidratado, há formas do tutor identificar a condição.
Segundo o mestre em nutrição de cães e gatos Flavio Silva, deve-se, primeiro, prestar atenção se o animal está bebendo água como de costume.
"Se ele diminuir a quantidade de água ingerida, já é um sinal de atenção. Outro ponto a ser observado é a urina: se ela apresentar um odor mais forte, coloração mais amarelada e menor volume, significa que está muito concentrada e que não há água suficiente para diluí-la", explica.
Além disso, quando ocorre a desidratação, a pele do animal fica ressecada, com pelos opacos, podendo apresentar descamação e flacidez. Ofegação excessiva, fraqueza, dificuldade para andar e constipação são outros sinais da condição.
Sylvia Angélico, médica-veterinária pós-graduada em nutrição animal, indica também outra forma de conferir se o pet apresenta déficit de água e nutrientes. De acordo com a especialista, basta levantar uma prega de pele entre as escápulas (na região do pescoço) e observar em quanto tempo ela volta para a situação que ela estava antes – bem firme e aderida ao animal.
"Se essa prega voltar de forma muito lenta, provavelmente o animal está desidratado, porque o normal é que ela volte rapidamente", explica.
Vale um double-check e, para isso, também se pode utilizar a gengiva do bicho. Ela deve estar sempre úmida – caso esteja ressecada ou apresente um pouco de secreção espessa e grudenta, esse animal provavelmente precisa de mais água.
O tutor pode, além disso, apertar a gengiva do pet. Ela deve ficar branca no momento da pressão com o dedo e, em menos de três segundos após removê-lo, retornar à coloração rosa. "Se demorar um tempo para voltar a essa coloração rosada, aí o animal pode estar desidratado", comenta Dra. Sylvia.
Os males da desidratação
Uma vez verificada a desidratação, é importante que o animal seja levado imediatamente ao veterinário. Isso porque ele pode precisar ser internado e posto no soro para recuperar os eletrólitos que perdeu através dos líquidos.
"Com a desidratação, todas as funções metabólicas do animal estarão prejudicadas e comprometidas, o que pode causar problemas nos seus órgãos ou piorar uma doença já existente. A falta de ingestão de água pode causar, por exemplo, a formação de cálculos urinários, fazendo com que o animal fique com a uretra obstruída. Esse tipo de problema acontece principalmente em gatos, que não têm o costume de beber muita água", explica Flavio.
O que eu posso fazer para evitar a desidratação do meu animal?
Não precisamos ir muito longe para encontrar formas de hidratar o pet. Basta pensar em como garantimos a nossa própria hidratação: em primeiro lugar, certifique-se de que há sempre água limpa e fresca à disposição. Se o bicho costuma se deslocar bastante em casa, vale inclusive posicionar os potes de água em lugares diferentes e estratégicos.
Também é importante evitar grandes períodos de exposição ao sol, principalmente nos horários mais quentes do dia. Gatos e coelhos são mais caseiros e buscam, por si só, ambientes mais frescos. Mas os cachorros costumam acompanhar seus tutores em atividades diárias, então é preciso ter cuidado.
Caso leve o seu cão consigo para passear, não o exponha jamais a uma situação de calor extremo, como deixá-lo esperando no carro enquanto vai fazer uma compra.
"Dentro do carro, a temperatura fica alta muito rapidamente. E os cachorros não regulam a temperatura como nós e não suam, o que faz com que eles sejam muito mais propensos ao hiper aquecimento e à desidratação", alerta Sylvia Angélico.
Este cuidado deve ser ainda maior para os tutores de raças de focinho achatado (braquicefálicas), que regulam a temperatura de uma maneira muito mais limitada e podem ter complicações na saúde com mais facilidade quando o assunto é o calor.
Garanta, assim, ambientes arejados, com sombra e água disponível para que o animal viva a estação sem mais problemas.
Para a médica-veterinária Daniela Ruzzarin, outra dica de ouro é posicionar banheirinhas ou tanques de água ao redor da casa para que o bicho se refresque. "Pode não ser muito útil para gatos e coelhos, mas os cachorros que gostam de água – ou que estão com calor – vão entrar ali e se aliviar", diz.
Sachês, frutas e picolés no verão: está permitido?
Como citado acima, os gatos não têm tanto costume de beber água. Isso porque eles descendem de animais do deserto que não tinham acesso a grandes coleções hídricas, como lagos. Por isso, são bichos menos sedentos e melhor adaptados a uma menor ingestão de água.
No entanto, no verão é preciso estimular esse consumo hídrico. Uma solução para evitar a desidratação seria oferecer alimentos úmidos, como os sachês, já que esses alimentos possuem uma concentração elevada de água.
"Comer apenas a ração seca traz riscos para a saúde urinária e renal dos gatos, colocando-os em um estado frequente de sub-hidratação. Para evitar isso, podemos oferecer sachês, dietas em lata, dietas congeladas e dietas desidratadas que nós adicionamos água. Atualmente, são muitas as opções que existem no mercado de dietas comerciais que têm o benefício de terem cerca de sete vezes mais água do que a ração seca", explica a especialista Sylvia Angélico.
Os cachorros também podem se beneficiar de uma alimentação com maior quantidade de água, inclusive através das frutas.
No mais, é protocolar evitar algumas, como a carambola, pela concentração de ácido oxálico e presença da toxina caramboxinauva; e a uva, mesmo a orgânica, porque ela pode causar problemas renais sérios aos cães.
O restante está liberado: maçã, banana, manga, melão, melancia, goiaba, pêssego, ameixa, etc. Mas atenção: é preciso retirar as sementes antes de oferecer a fruta ao animal.
"Mesmo frutas cítricas em pequenas quantidades podem ser oferecidas, salvo se o animal tiver gastrite, porque o ácido gástrico dos cães e dos gatos é muito mais ácido do que o das frutas cítricas", diz Sylvia.
Seguindo esta mesma linha, legumes, como cenoura, brócolis e alface, também podem ser oferecidos, assim como picolés naturais da fruta (isto é, a fruta batida com água ou água de coco e congelada na forma), com preferência àqueles feitos em casa. Os petiscos de supermercado, apesar de próprios para os animais, podem conter aditivos químicos e parabenos que não são benéficos à saúde do pet.
Os picolés também podem ser feitos com carne ou frango, seja a partir do sachê congelado ou de receita caseira. Sylvia indica: "o tutor pode ferver várias coxas de frango ou até mesmo um frango inteiro, durante várias horas em temperatura baixa em uma panela grande com bastante água. Depois de tirar o resíduo, fica apenas aquele caldo com cheiro bem forte de frango. Basta coar o caldo e colocá-lo na forma de gelo com uma tampa de silicone até congelar para fazer um sorvete atraente para os animais".
Caso você esteja buscando por alternativas mais simples, outra maneira de induzir uma maior ingestão hídrica é tornando a água do pote um pouco mais atrativa, colocando cubinhos de gelo. Apenas o movimento de lambida dos cubos já vai garantir que o animal esteja ingerindo água e se hidratando.
Atenção aos excessos
Contudo, é importante estar consciente acerca do balanço nutricional do bicho. A Professora Doutora Márcia de O. S. Gomes, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP, explica que, se a ração regular do animal já é 100% responsável pelo seu aporte energético, esta alimentação extra de sachês, frutas e picolés pode gerar um desarranjo por excesso de calorias.
"Um shih-tzu, por exemplo, é um animal pequeno que requer uma quantidade de energia menor. Se dermos a ele um pedaço de banana todo dia, junto à alimentação convencional, é uma quantidade a mais de calorias que, a longo prazo, pode favorecer um aumento de peso. E o sobrepeso pode levar a uma obesidade e alterações químicas que afetam a qualidade de vida do animal", diz.
Se optar pelo uso de outros alimentos que não a ração para ajudar com a hidratação do seu pet neste verão, mas não esteja seguro de fazê-lo sozinho, não deixe de procurar um nutrólogo ou nutricionista veterinário para mais informações e acompanhamento do seu animal.