• Por Diego Revollo
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Comecei a trabalhar com arquitetura no começo dos anos 2000, na época do auge da “decoração clean”, uma das novidades do final dos anos 1990. Depois de excessos de todos os tipos da década de 1980, tudo que era moderno, era considerado clean. O adjetivo foi repetido tantas vezes por profissionais e clientes, que hoje o termo até parece desgastado e um pouco distante de seu verdadeiro significado.

Casas e apartamentos eram feitos por completo em tons de bege, com pequenos contrastes por meio de fibras e madeiras no tom mel. Nesse novo “manual”, cores eram toleradas no máximo em obras de arte ou em alguma peça específica da decoração. Na estrutura, paredes claras, sempre em off-white, e toda a marcenaria de portas, guarnições e rodapés passaram a ser laqueados e brancas.

Confesso que gostava da novidade e entendo que ela funcionava quase que como uma fórmula. Fácil de ser pensada, definíamos assim a estrutura inteira de um projeto: sem grande ousadia, mas com a garantia de um resultado clean e elegante. Eu mesmo, por muitos anos, relutei em adotar mais que uma cor nos espaços. Quando pretendia destacar uma parede ou um ambiente, recorria à marcenaria com revestimentos de painéis e lambris de madeira natural. Por não querer me tornar repetitivo, aos poucos comecei a ousar mais nas cores, tanto das paredes, como também de toda a estrutura.

Coincidência ou não, à medida que adotamos paletas mais ousadas, com dois ou mais tons, começamos a nos deparar com projetos cada vez mais semelhantes e ousados pipocando pelos quatro cantos do mundo. Muito mais que uma tendência que abusava de elementos gráficos e cores nas paredes, adotar a pintura como um elemento forte na decoração é, antes de tudo, uma alternativa de imprimir personalidade e com custo baixo. Nos exemplos que separei os resultados são surpreendentes e confirmam que cores e criatividade nas paredes ainda reinarão por todo o ano!

Coluna Diego Revollo (Foto: Divulgação)

Pintura de meia-parede com duas cores (Foto Divulgação)

1 Pintura de meia-parede com duas cores
Muito usada em outras épocas, a pintura ou painéis de madeira e lambris do tipo meia-parede retornam a decoração com novos ares. Com uma solução simples e infinitamente mais barata que a marcenaria tradicional, é possível dividir uma parede com duas ou três cores, é só escolher a paleta certa e renovar qualquer que seja o ambiente. Na imagem, o que separa o barrado alto do restante da parede, é uma linha estreita preta, que simula antigas baguetes ou arremates de marcenaria, detalhe cheio de charme e ar retrô

Coluna Diego Revollo (Foto: Divulgação)

Tampo frontão e meia-parede no banheiro (Foto Divulgação)

2 Tampo frontão e meia-parede no banheiro
É impossível não reparar o efeito color block que une tampo, meia-parede e frontão nesse banheiro. A bancada, que mesmo estando em plano diferente e feita de outro material, parece se fundir com a parede, e combina com as cores lisas das louças e da marcenaria do gabinete. Observe também que mais duas cores completamente diferentes entram em cena, garantindo composição interessante, simples e bastante ousada. Esse é um bom exemplo de que vale a pena sair da zona de conforto e trocar o banheiro branco por um colorido. Com cada vez mais opções no mercado para acabamento, louças e metais, fica fácil arriscar.

Coluna Diego Revollo (Foto: Divulgação)

Composição geométrica na cozinha (Foto Divulgação)

3 Composição geométrica na cozinha
A pintura que recobre não só a parede lateral, mas também porta e guarnição dessa cozinha, é o que complementa e dá vida ao projeto. O destaque fica para o frontão original, que mesmo sendo de pedra, é arredondado e combina com o tampo da ilha, que tem mesmo material e desenho. Luminárias esféricas e puxadores com metal dourado, dão visual retrô e características únicas ao ambiente. Observe também que a tubulação do duto da coifa recebeu pintura de tom terroso ao invés de ser disfarçado e tem desenho que “conecta” a marcenaria à parede pintada. 

Coluna Diego Revollo (Foto: Divulgação)

Retângulos e faixas na parede da cabeceira (Foto Divulgação)

4 Retângulos e faixas na parede da cabeceira
Na parede do quarto, graças ao formato retangular da cabeceira, a composição forte e arrebatadora é formada por cores e blocos que se complementam. A paleta de cores terrosas e azuis se equilibram não apenas no desenho, mas também harmonizam os diversos tons. Quase que uma versão atual dos quadros de Mondrian, é inegável o efeito decorativo e a simplicidade da solução. Peças vintage, como o espelho e o lustre, enriquecem a composição e deixam o quarto mais aconchegante.

Coluna Diego Revollo (Foto: Divulgação)

A pintura é a estrela da sala (Foto Divulgação)

5 A pintura é a estrela da sala
Uma parede para ser contemplada com planos, cores e formas perfeitamente transpassadas que dispensam até o uso de quadros. Observe que a pintura que avança pelo teto também traz a sensação de descer até o piso, graças à escolha do tapete e da cor do piso principal. Com ares de pintura abstrata, a solução mostra que quando o assunto são tintas e cores, a ousadia e a criatividade não têm limites e funcionam como uma amostra sofisticada do que veremos cada vez mais em termos de pintura na decoração. 

diego-revollo-coluna-atualizada (Foto: Divulgação)

Diego Revollo (Foto Divulgação)

Diego Revollo 
Arquiteto, formado na Universidade Mackenzie, é amante do universo da arquitetura e decoração, coleciona prêmios e publicações ao redor do mundo. Tem seu escritório há mais de 10 anos. 
@diegorevollo