• Por Clotilde Perez
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Ilustração coluna Sentidos do Habitar - fevereiro de 2018 (Foto: Ilustração Adriano Catenzaro / Editora Globo)

(Foto Ilustração Adriano Catenzaro / Editora Globo)

Muito se tem falado e ouvido sobre o vintage. Moda vintage, aparelhos de jantar vintage, estilo vintage... Mas o que isso significa, precisamente? A palavra vintage tem uma etimologia bem interessante: vem do latim – vindemia – e, na Antiguidade, referia-se à safra do vinho. Essa raiz se mantém nos dias de hoje e se evidencia quando os produtores, principalmente os de vinho do Porto, constatam que estão obtendo uma colheita de uvas excepcional, o que levará a um vinho de muita qualidade. Eles denominam essa safra – ou, melhor, esse ano – como vintage e tal reconhecimento passa a ser indicado no rótulo da garrafa. No entanto, a palavra caminhou para o seu crescimento sígnico natural e, no francês antigo, ressignificou-se como vendenje (sonoridade ainda existente), mantendo o vínculo com o sentido de alta qualidade, mas já adicionando a dimensão temporal, de algo que vem do passado.

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Nos dias atuais designamos como vintage algo que é antigo, mas que tem muita qualidade e valor simbólico e, por vezes, também financeiro. Em síntese, é algo genuíno que poderíamos chamar de “clássico”. Assim, vintage guarda no tempo seu valor e, com isso, suscita nossa memória e nosso conforto psíquico, porque nos assegura a permanência, os vínculos com o que já vivemos ou que pessoas queridas das nossas relações viveram. Por isso entendemos sua incorporação tão recorrente nos dias atuais, em áreas diversas, como moda, design, design de interiores, bebidas, carros e tantas outras. Como o vintage carrega os sentidos do passado, mas não de um passado qualquer, um passado que valorizamos, tem a capacidade de nos proporcionar tranquilidade e, muitas vezes, a elegância e o refinamento perdidos. Acessamos os objetos vintage por meio de herança familiar ou nos espaços destinados a seu reconhecimento, conservação e comercialização, como os brechós e antiquários. Assim, os vínculos entre qualidade máxima e temporalidade alongada nos levam a materialidades valorizadas, como ouro, prata, madeiras nobres, porcelanas, tecidos sofisticados, e eis o porquê de os objetos vintage em geral serem caros: materiais de qualidade permanecem no tempo.

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Em tempos de trânsito constante como os que vivemos, estabilidade e afetividade são um bálsamo de segurança e acolhimento, por isso a necessidade do vintage.

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Clotilde Perez (Foto: Jennifer Koo / Divulgação)

(Foto: Jennifer Koo / Divulgação)

Clotilde Perez (cloperez@terra.com.br) é semioticista, professora da USP e da PUC-SP, e fundadora da Casa Semio.