Quando soube que o número de mortos por Covid-19 no Brasil já tinha ultrapassado o da China, Bolsonaro perguntou: “E daí?”.
As críticas que se sucederam vieram sobretudo de ignorantes em ciência política, que não conhecem, ou já esqueceram, todos os momentos decisivos da história em que outros grandes estadistas reagiram do mesmo modo.
Quando Churchill foi informado de que a Alemanha tinha invadido a Polônia, a sua primeira reação foi perguntar “so what?”, que, como se sabe, significa “e daí?”.
“Não pergunte o que o seu país pode fazer por você, pergunte: e daí?”, disse também celebremente o presidente americano John F. Kennedy.
E, no entanto, a pergunta de Bolsonaro não foi recebida com o mesmo entusiasmo e admiração. Mais: ninguém reparou que a pergunta ficou sem resposta até hoje, o que prova que é uma pergunta difícil, como as que os grandes filósofos costumam fazer.
Tudo isso acontece na semana seguinte àquela em que Sergio Moro se demitiu. A perda do seu maior trunfo político talvez pudesse perturbar outro presidente, mas pelo seu histórico de atleta, Bolsonaro não precisa se preocupar. Ele nada sentirá ou será acometido, quando muito, de uma gripezinha ou resfriadinho.
Isso acontece porque Moro, que até há pouco era ainda o herói do Brasil —reto, honesto, inimigo de corruptos—, é agora um pérfido vilão —mentiroso, traidor, inimigo de gente muito decente.
Na verdade, descobrimos agora, Moro não era um super-herói, era um iogurte: tinha prazo de validade e expirou na semana passada. De repente, ficou azedo. Algumas pessoas têm perguntado: “Bom, mas se Moro era, afinal, esse vilão, por que é que não foi Bolsonaro a demiti-lo? Por que é que foi ele a apresentar a demissão? E, além disso, por que é que Bolsonaro ainda tentou, por meio de Braga Netto e Luiz Eduardo Ramos, dissuadir o ministro de se demitir?”. Mais uma vez, é gente que não sabe nada de política.
Moro apresentou a demissão precisamente para impedir que Bolsonaro o demitisse. E Bolsonaro quis evitar que ele se demitisse para poder demiti-lo. As pessoas ignorantes, incomodativas como só elas, contrapõem: essa justificativa é absurda, ninguém acredita nisso. Permitam-me que responda com uma pergunta: e daí?
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