Roteirista e escritora, é criadora da série 'As Seguidoras' e trabalha com desenvolvimento de projetos audiovisuais
Ariel, de 'A Pequena Sereia', é a princesa mais transgressora de todas
Que sua rebeldia possa inspirar outras meninas que se sentem como um peixe fora d'água
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Sou uma criança dos anos 1990 e minha princesa da Disney preferida sempre foi a de "A Pequena Sereia". Sou uma adolescente dos anos 2000 e aderi ao feminismo que condenou Ariel à pena máxima de ser submissa e "machocentrada". Sou uma adulta que chorou feito um bebê na semana passada, no auge da polêmica da pequena sereia negra.
A polêmica se deu em torno da reação racista do público à escolha da Halle Bailey para o papel principal. Mas os cães ladram, e a caravana passa. Um vídeo que viralizou na sequência, um compilado de meninas negras reagindo ao trailer, me comoveu profundamente.
Foi quando consegui olhar para "A Pequena Sereia" sem o véu de um pseudofeminismo que acabou por silenciar a princesa mais transgressora de todos os tempos.
Ariel é, por essência, insubmissa. Em sua cena de apresentação, ela não comparece a seu concerto de estreia como cantora. Ela não quer ser vista, ela quer ver. Ela prefere fazer uma expedição a um navio naufragado e coletar objetos para entender a cultura humana.
O fascínio de Ariel pelos humanos é um tabu na sociedade em que vive, algo que seu pai, a personificação do patriarcado, reprime.
"A Pequena Sereia" é uma arqueóloga que arrisca a própria vida em busca de respostas. A arqueologia é o campo da ciência em que a relação sujeito-objeto se dá de forma mais literal, porque o que essa personagem quer é ser sujeito, não objeto.
Em sua música-tema "Parte do seu Mundo", Ariel exprime seu maior desejo, pertencer. Se ela quer tanto ser humana, é porque sofre por ser desumanizada. Em nenhum momento Ariel diz que quer um marido. A única coisa que ela tem a dizer sobre o príncipe é que ele é bonito. Ariel objetifica esse homem da mesma maneira que os homens objetificam as mulheres.
E quando o navio de Eric afunda e Ariel salva a vida dele, ela vira o jogo mais uma vez. Quem é a donzela em perigo aqui? Ela subverte sua condição de criatura mitológica e prova o quanto é humana. Ariel paga o preço por se transformar em uma mulher de verdade. Quando ela idealiza o mundo dos homens, ela precisa entender que, nesse mundo, ela não terá voz. É esse mundo que precisa ser transformado.
É um respiro ver minha princesa favorita voltar à superfície. Que a rebeldia da pequena sereia possa inspirar outras meninas que se sentem como um peixe fora d’água.
Receba notícias da Folha
Cadastre-se e escolha quais newsletters gostaria de receber
Ativar newsletters