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Sioslife. A rede social para idosos que combate o isolamento social

Andreia Antunes 30 de junho

A aplicação, que ficou disponível no dia 19, permite que as pessoas numa instituição de terceira idade ou a receber apoio façam novas amizades. Facilita ainda o contacto e partilha de dados entre utentes e profissionais de saúde, garantindo a segurança online.

Sioslife. Esta é a nova rede social dedicada aos mais velhos, cujo objetivo é combater o isolamento social, além de disponibilizar uma solução tecnológica para facilitar o contacto e partilha de dados entre utentes, profissionais de saúde e cuidadores.
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"A Sioslife quer que qualquer pessoa esteja incluída", começou por explicar à SÁBADO Jorge Oliveira, CEO e cofundador da startup de Braga. "Queremos inserir os idosos nas tecnologias, para permitir que contactem os seus familiares, amigos, ou até conhecer novas pessoas, para promover a socialização, mitigando o isolamento social, e ainda estar em contacto com os cuidadores profissionais."

A ideia surgiu como uma ferramenta para combater o isolamento social, um problema cada vez maior em Portugal e em todo o mundo.

"O isolamento social está enraizado e não é a levado sério. Aproximadamente uma em cada cinco pessoas está em isolamento social, isto são cerca de dois milhões de pessoas", mencionou Jorge Oliveira. "A brutalidade que é o sentimento de isolamento destas pessoas. Um casal muitas vezes vê-se privado um do outro, por exemplo, ao ponto de perderem o contacto, e como não utilizam a tecnologia não entram em contacto um com o outro", exemplificou.

A Sioslife foi implementada em 2020, altura da pandemia Covid-19, pelo que havia uma maior dificuldade em manter o contacto com familiares nas instuições e lares de idosos. "A Sioslife mostrou-se uma mais-valia para a nossa instituição", afirmou Pedro Leal da Silva, diretor técnico-coordenador da Instituição do Lar André Almeida da Santa Casa da Misericórdia de Freamunde à SÁBADO. "Aproximou não só os familiares dos residentes, com as chamadas, mas também aproximou sobre os trabalhos que eram feitos cá, porque tudo o que é feito na Sioslife, os familiares podem ter acesso, inclusive podem trocar impressões com os residentes, e, de alguma maneira, os residentes sentiram-se mais apoiados, e sentem-se menos sós."

Uma rede simplificada que garante segurança

É um facto que as redes sociais convencionais vieram ajudar muitas pessoas a manter contacto com a família e amigos. No entanto, o problema piora quando se trata da faixa da população mais idosa que não domina as tecnologias, sendo que quando estas pessoas vão para os lares ou instituições, acabam muitas vezes por perder contacto com a anterior rede familiar e de amigos.

"Numa fase inicial, houve bastantes pessoas que rejeitaram porque elas próprias criavam essa barreira", afirmou o diretor técnico-coordenador da instituição. "Então nós tentamos motivar aqueles que sabíamos que ou já tinham tido contacto, ou de alguma maneira ficaram a experienciar, e à medida que esses foram trabalhando no ecrã, os outros que estavam à volta começaram a ver e a perceber que afinal não era assim tão difícil. E isso foi motivando uns aos outros e a adesão foi cada vez maior, ao ponto de nós, neste momento, termos que ter um horário onde cada residente tem a sua hora para poder estar no ecrã e poder fazer as suas atividades."

Desta forma os profissionais de saúde têm vindo a conseguir proporcionar uma  qualidade de vida maior a cada residente. "Basicamente, é como se fosse um projeto de vida, onde nós sabemos que aquela pessoa tem dificuldades em A, B ou C e nós vamos tentar estimular aquilo que ela tem mais dificuldade ou que queremos manter", referiu Pedro Leal da Silva.

Em termos de sistema operativo, também se torna mais fácil do que as restantes redes sociais.

"Com a Sioslife, com um toque já estão em contacto", referiu o cofundador da Sioslife. Isto é o que diferencia a rede social Sioslife das outras redes sociais. "Os sistemas interativos são desenhados para pessoas que têm baixa literacia digital, seja a nível de software ou hardware. Não há necessidade de recorrer a ratos ou teclados,  com um simples toque ou dois conseguem aceder ao que quiserem", acrescentou.

A aplicação, que ficou disponível no dia 19, permite que as pessoas que estejam numa instituição ou a ter apoios das mesmas, façam novas amizades, vídeochamadas e comuniquem entre si. "O objetivo passa mesmo por conectar as pessoas que estão institucionalizadas para procurarem e estabelecerem relações com novas pessoas, e até com as que perderam contacto com algum amigo ou até familiar", afirmou o CEO.

Também contém "múltiplos conteúdos de estimulação cognitiva e física". Desde músicas, filmes, fotografias, notícias, jogos, pintar e desenhar ou religião. Outro fator que destaca a aplicação das restantes é o facto de conseguir "ativar redes de serviços, como farmácias, serviços de saúde e serviços de apoio domiciliários que muitas vezes não conseguem chegar a todos", mencionou ainda Jorge Oliveira. "É um cuidado à distância."

A Sioslife surgiu como uma ferramenta que veio acrescer aquilo que os profissionais de saúde têm vindo a fazer. "A Sioslife trouxe uma panóplia de atividades que vêm ajudar e que vêm complementar aquilo que já é feito e acaba por ser um estímulo completamente diferente. Também acaba por ser uma motivação extra" disse Pedro Leal da Silva. "O facto de eles conseguirem também superar as novas tecnologias acaba por lhes dar uma também alguma autoestima."

A proximidade com os familiares também acaba por ser um fator importante quando se trata das atividades realizadas pelos mais idosos a partir da aplicação. "Cada vez mais, hoje em dia, todas as pessoas estão ligadas às novas tecnologias. Estão à distância de um telemóvel" disse o diretor técnico-coordenador da Instituição. "E dá para termos uma aplicação onde tudo o que é feito é recebido no telemóvel, e quando depois vêm cá visitar acabam por falar sobre aquilo que foi feito, o que acaba por ser mais um tema para se falar, sendo que de alguma maneira, os residentes acabam por se sentir também mais confiantes, mais capazes e acabam por ter um bocadinho mais de autoestima."

A rede social tem também uma forma de monitorização dos cuidados de saúde, onde os profissionais conseguem acompanhar o utilizador. "Os profissionais e familiares que querem acompanhar o progresso também podem interagir, respeitando a privacidade, mas podem criar lembretes para aniversários ou medicações, por exemplo, fazer atividades e vídeochamadas", acrescentou ainda o CEO.

A segurança foi outro fator considerado para esta aplicação, uma vez que a Internet é muitas vezes usada para fins maliciosos. "A rede é fechada, não havendo a possibilidade de um utilizador externo ter acesso à plataforma", mencionou Jorge Oliveira.

Novas amizades leva a menos isolamento

A aplicação já veio proporcionar o reencontro de famílias e de amigos, para além de proporcionar os idosos a fazer novas amizades.

"Numa fase inicial foram reencontros com pessoas, em que os nossos residentes não sabiam que aquelas pessoas estavam noutra instituição e que, através da rede social, eles se reencontraram", contou Pedro Leal da Silva. "Temos o caso de duas irmãs em que a residente da nossa instituição, é uma senhora com 96 anos, que tem também uma demência e que, numa primeira fase, não estava a reconhecer a irmã, mas que, após o estímulo da irmã, ela a reconheceu facilmente a sua irmã."

Pedro Leal da Silva também revelou que muitos idosos acabaram por se reencontrar de sítios onde trabalharam juntos. "No nosso município, por exemplo, era muito da indústria imobiliária e havia grandes empresas que empregavam realmente muita gente e, então, acabam os colegas de trabalho serem os amigos uns dos outros, porque a vida não proporcionava muito mais do que isso e criaram esses laços e depois viveram o resto da vida afastados e, com a rede social, voltaram-se a reencontrar", disse.

Os residentes dos centros de dia também entram em contacto com outras pessoas que fazem parte de outros centros de dia, e até mesmo outros lares de que os mesmos já fizeram parte. "Essas pessoas voltaram a entrar em contato com as pessoas que faziam parte desses centros de dia, não só com as técnicas, mas também com as animadoras e com os utentes que fazem parte desse centro de dia. Esses reencontros foram bastante giros e bastante emotivos."

Nestas chamadas vários outros idosos acabam por se juntar, fazendo com que participem várias pessoas ao mesmo tempo nas vídeochamas.

"Estamos a falar de que de lá de cá temos cinco ou seis pessoas e de lá outras cinco ou seis. Isso muitas vezes motiva a uma convivência maior e nesta fase em que nós queremos ao máximo aproximar essas pessoas e criar essas relações, é importante que todas as pessoas se sintam integradas e que todas as pessoas tenham ali uma janela para poderem participar. Isto não é só o único e exclusivamente reencontros, também pode ter o início de novos encontros", mencionou o diretor coordenador-técnico.

Até aqueles que não tem ninguém presente na vida deles, ou até mesmo família, podem criar laços com outras pessoas. "As pessoas que de alguma maneira também não têm familiares, começam a criar laços para manter algum contacto", explicou Pedro Leal da Silva. "Nós também temos que ser realistas e perceber que, infelizmente, em instituições como a nossa, há residentes que não têm família e que a família deles somos nós. E criar esses laços com outras pessoas, com outras instituições, vai fazer com que haja uma maior proximidade e que essas pessoas se sintam também mais amadas, não só dentro mas também fora da instituição."

Rede já conta com 16 mil idosos e 10 mil profissionais

A Sioslife é exclusiva para a comunidade Sioslife, estando presente em mais de 600 instituições e projetos com municípios, para as pessoas que não estejam institucionalizadas, e serviços de apoio domiciliário em todo o País, e até no Brasil e Espanha. "Uma pessoa não institucionalizada tem projetos com os municípios que disponibilizam a tecnologia para poderem usufruir também da aplicação", referiu Jorge Oliveira.

Tanto nas instituições, como nos municípios, são disponibilizados os tablets completamente adaptados para usufruírem da aplicação, que tem sistema operativo Sioslife.

Com este sistema é possível encontrar pessoas na mesma comunidade – também em instituições ou projetos – estabelecer ligações ou até mesmo descobrir novas amizades. "No que respeita à procura de outros contactos na rede, a aplicação permite ver a lista de amigos, ou uma pesquisa que é simplificada, no caso por proximidade geográfica das pessoas que também estão na rede, mas também permite pesquisar por instituição, localidade ou região", explicou o fundador da Sioslife.

Já pertencem à rede social mais de 16 mil idosos, e ainda mais de 10 mil cuidadores e profissionais e cuidadores de saúde. A aplicação também já está no Brasil e em Espanha, e Jorge Oliveira espera que ainda consigam espalhar a rede social por toda a Europa e não só. "A Sioslife é uma excelente ajuda, e no final do dia estamos a promover a inclusão e a mitigar o isolamento social", enfatizou. "É fazer a tecnologia cumprir o seu propósito, que é quebrar barreiras e distâncias."

Já Pedro Leal da Silva acredita que a Sioslife, que trouxe uma forma de aproximar, tornou-se numa ferramenta importante. "A convivência com outras pessoas do antigamente, que lhe traziam boas memórias, bons convívios, isso tudo de alguma forma vai estimular e vai proporcionar um reviver dessas emoções", disse Pedro Leal da Silva. "Nós no fundo vivemos pelas relações pelo amor, pela parte que nos une, e estas pessoas precisam desta motivação para se sentirem úteis para terem autoestima, para valorizarem a vida e para viver os dias e não sobreviver."

Sioslife. Esta é a nova rede social dedicada aos mais velhos, cujo objetivo é combater o isolamento social, além de disponibilizar uma solução tecnológica para facilitar o contacto e partilha de dados entre utentes, profissionais de saúde e cuidadores.

"A Sioslife quer que qualquer pessoa esteja incluída", começou por explicar à SÁBADO Jorge Oliveira, CEO e cofundador da startup de Braga. "Queremos inserir os idosos nas tecnologias, para permitir que contactem os seus familiares, amigos, ou até conhecer novas pessoas, para promover a socialização, mitigando o isolamento social, e ainda estar em contacto com os cuidadores profissionais."

A ideia surgiu como uma ferramenta para combater o isolamento social, um problema cada vez maior em Portugal e em todo o mundo.

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