• Sylvain Justum
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Bolsas Louis Vuitton criação de Beatriz Milhazes para Coleção Capucines (Foto: Giovanna Gebrim)

A criação de Beatriz Milhazes (Foto: Giovanna Gebrim)

Juntar moda e arte tem sido um exercício muito prolífico para a Louis Vuitton há quase 20 anos. A empreitada mais recente desse casamento é o projeto Artycapucines, que, pela segunda vez, reúne seis artistas contemporâneos, de diferentes nacionalidades, para criarem suas versões da bolsa Capucines, hit da casa lançado em 2013 e batizado em homenagem à primeira loja de Monsieur Vuitton, aberta em 1854 na Rue des Capucines, em Paris. A edição é limitada a 200 exemplares numerados por artista.

Como esquecer das icônicas bolsas grafitadas da colaboração entre Marc Jacobs e Stephen Sprouse em 2001? De lá para cá, a grife do monograma uniu-se a Takashi Murakami, Yayoi Kusama, Richard Prince e Cindy Sherman, entre outros, além de inaugurar seu próprio museu e centro cultural, a Fundação Louis Vuitton, em 2014.

Os nomes selecionados este ano são do escultor francês Jean-Michel Othoniel, craque do vidro que já renovou até estação de metrô em Paris; do pintor americano Josh Smith, mestre das cores vivas e formas abstratas; do californiano Henry Taylor, conhecido por suas pinturas engajadas que exploram o que é ser negro nos EUA; do multimídia chinês Liu Wei, que adora alternar suas plataformas de expressão (como esculturas, pinturas ou vídeos); e do controverso pintor e escultor Zhao Zhao, também chinês, pupilo de Ai Weiwei.

Junta-se ao time a brasileiríssima Beatriz Milhazes, conhecida por seus trabalhos com pintura, gravuras e colagens, em um estilo que mescla elementos da pop art com referências ao artesanato nacional e ao universo feminino. Para o projeto, Beatriz criou uma versão muito especial dos seus caleidoscópios visuais e da explosão de cores que lhe serve de assinatura. Não é a primeira vez que a nossa arte se une a uma das maiores grifes de luxo do planeta. Antes de Beatriz, os Irmãos Campana, Vik Muniz e Os gemeos já emprestaram seus talentos para a maison.

“O sinal da paz foi o ponto de partida para o meu projeto”, explica Beatriz. “No meu trabalho, venho desenvolvendo esse sinal de diferentes formas como parte de algumas pinturas ou composições de desenhos. Acho que o mundo precisa muito de paz e amor, e essa é uma boa possibilidade de fazer as pessoas mostrarem isso por aí!” Para criar suas pinturas abstratas, coloridas e ricamente detalhadas, a artista aperfeiçoou uma técnica-assinatura: ela primeiro pinta em uma folha de plástico transparente, que é então colada a uma tela e depois descascada para deixar para trás um bloco de cor.

Em suas colagens, o processo se repete para cada forma, criando assim complexas pinturas caleidoscópicas, com várias camadas. “A Capucines tem um design muito clássico, os detalhes é que a tornam encantadora e me moveram nessa aventura de criação. É uma colagem de recortes de couro, seguindo meu desenho original, que foram aplicados um ao lado do outro, contrastando texturas e cores, com uma bela técnica de marchetaria. A variedade de cores e o esmalte para as partes metálicas da bolsa foram meus materiais favoritos para explorar”, descreve a carioca.

Bolsas Capucines Louis Vuitton assinadas por Henry Taylor, Liu Wei, Zhao Zhao e Josh Smith.  (Foto: Divulgação)

A partir da esquerda, as Capucines assinadas por Henry Taylor, Liu Wei, Zhao Zhao e Josh Smith. (Foto: Divulgação)

As outras versões de Capucines guardam boas ideias também. Josh Smith aboliu o couro, trocando por lona, madeira, grampos e metal. “Fiz uma bolsa realmente artesanal. ”O chinês Zhao Zhao foi além e trouxe o conceito de vida e morte contido em seu projeto pessoal In Extremis para a bolsa. São 353 patches de couro cortados a laser com efeito camuflado. “Ao escolher aplicar esse conceito na Capucines, quis garantir que a bolsa não fosse apenas bonita ou funcional, mas que ela representasse algo mais profundo sobre mim”, diz Zhao.

“A moda está definitivamente em um momento desafiador. Tem sido um processo de aprendizado para designers”, diz Beatriz. “Um artista carrega uma crença na humanidade, de que sempre podemos pensar diferente, de uma forma poética. Não acho que a arte possa mudar o mundo, mas pode mudar as pessoas, e as pessoas podem mudar o mundo!”