Cultura
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Por Michelle Licory


Beatriz Milhazes (Foto: Reprodução/Instagram) — Foto: Vogue

Beatriz Milhazes lançou o livro Colagens, editado pela Cobogó, de Isabel Diegues, essa quarta-feira (05.12) na Carpintaria, espécie de projeto paralelo da galeria paulista Fortes D'Aloia & Gabriel no Rio. Na fila para os autógrafos, Adriana Varejão, Regina Casé, Fernanda Torres, Julia Gastin, Felipe Veloso e Mari Stockler. O clima era tipo "lá em casa": Antonio, filho de Fernanda e Andrucha Waddington, e o pequeno Roque, caçula de Regina, brincavam de jogar capoeira em meio a telas de Zerbini, que está com uma exposição em cartaz no espaço.

Durante o evento, Beatriz atendeu Vogue com exclusividade para um bate-papo. "A grande característica desse livro é ser só sobre meu trabalho com colagens, papel sobre papel. É muito interessante e significativo já ter construído uma obra em uma linguagem que não é a minha linguagem estrutural, que é a pintura. Agora minha obra já existe em outro meio e esse livro é a comprovação disso. Quem editou foi o Frédéric Paul, curador do museu George Pompidou, em Paris, que foi a primeira pessoa a mostrar minhas colagens dentro de uma exposição de pintura, e já acompanha meu trabalho há 16 anos. Também incluímos uma entrevista realizada pelo Richard Armstrong, diretor do Guggenheim Museum de Nova York, o primeiro nome do mundo internacional da arte que visitou meu ateliê, em 1992".

Beatriz respondeu se já se sente realizada. "Como artista, você nunca se sente. Eu sou muito feliz com tudo que alcancei, mas eu amo o que faço e acho que tenho muito mais coisas pra fazer, lugares pra alcançar... Quero sempre ter muito o que falar e participar do mundo de uma maneira integral e relevante. Já mostrei meu trabalho no Japão e na China, mas neste momento tenho me aproximado cada vez mais desses países. São culturas bastante diferentes, mas que se comunicam muito com meu trabalho. Tem me instigado essa possibilidade de desenvolver um diálogo dentro dessas culturas".

Beatriz Milhazes lança o livro Colagens (Foto: Divulgação) — Foto: Vogue

Beatriz tem o título de artista plástica brasileira mais valorizada internacionalmente. Em que medida isso é importante pra ela? "O reconhecimento é bastante importante, significa muito e é um retorno para todo o meu envolvimento, interesse e seriedade. Terminei agora um projeto no Japão, que só vai ser apresentado em abril. De lá fui para Xangai, por conta de um projeto de um museu que vai acontecer em breve. Estava pensando: olha onde meu trabalho está me levando, a mundos que não imaginava. Isso é motivo de muito prazer. A questão financeira, na verdade, não necessariamente tem uma ligação com a tua satisfação, com o reconhecimento da tua obra, mas temos que entender também que é um patamar que poucos alcançam em qualquer nacionalidade. Isso significa que tem um mundo de pessoas importantes junto comigo nessa conquista também de valor".

Vogue perguntou se, em sua opinião, a arte é machista. "Ela ainda é um poder e um domínio masculino. Machista? Bom, artistas homens são mais valorizados que mulheres, com certeza. E os valores são infinitamente diferentes. Isso ainda é uma realidade. Por quê? Essa pergunta acabei de fazer para uma pessoa importante, e não tive resposta. Não sei se eles têm noção. Não sei se existe uma intenção, uma má intenção, mas acho que talvez isso esteja sendo revisto. A mulher mais valorizada dentro do mercado – falo de mulheres históricas que já faleceram – é infinitamente mais barata do que um homem do mesmo patamar. Marchands e grandes colecionadores ainda são majoritariamente homens, sim, também. Mas isso tem evoluído. Não sei se sofri preconceito, mas tenho essa pergunta: 'por que meu preço é menor do que um artista homem da minha geração com currículo similar?' Um colega com histórico parecido em termos de coleções, exposições e mostras em museus... Essa resposta ainda não tive. É assim porque foi como o mundo se desenvolveu. Mas ele vai mudar".

Como fazer essa mudança? "A mulher tem que se impor, se colocar, estar sempre forte acreditando no que quer para conquistar espaço. Chamo às vezes de 'pique no lugar'. Você não pode relaxar muito. Tem que estar ali sempre com uma atenção maior do que a que um homem precisa ter".

Obra de Beatriz Milhares (Foto: Reprodução/Instagram) — Foto: Vogue

Vogue quis saber se Beatriz já sentiu um outro tipo de preconceito, por conta de seu trabalho, no início da carreira, se alguém questionou o valor de suas obras por serem gráficas ou colagens. "Em relação à obra, não. Um crítico americano uma vez me falou: 'Você é uma mulher latino-americana que trabalhou com questões que normalmente seriam pejorativas e, no entanto, chegou à capa da 'Art Now', uma compilação dos maiores da arte contemporânea lançada pela Taschen'. Que bom, mas não foi fácil. A vida é bela, eu adoro a vida, mas é difícil. Todas as etapas têm que ser vividas, mas você tem que estar muito focada, concentrada nas propostas. O que conquistei é resultado de muito trabalho,
concentração e energia. O feminino foi um dos universos que trabalhei, por ser o meu. Não tive medo de assumi-lo, apesar de não pertencer ao mundo considerado de alta arte. Então acho que sempre me senti muito livre e à vontade, e isso deve ser por eu ser brasileira. O Brasil tem essa vantagem: temos fronteiras flexíveis. Você não se sente tão aprisionado, com tanto medo de respeitar seus próprios interesses e princípios".

Mudando o assunto – mas nem tanto – para moda. "Gosto bastante e sempre acompanhei. Foi uma coisa que me interessou dentro da área do design. No meu trabalho, usei algumas referências históricas de moda, como Pucci. E tenho vários amigos da área. Moda, de alguma maneira, faz parte do meu mundo".

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