• Isabella D’Ercole
Atualizado em
Controle de danos (Foto: Zee Nunes/Acervo Vogue)

Conheça a nova tendência de produtos de beleza e wellness que propõem deter os efeitos negativos do esgotamento emocional (Foto: Zee Nunes/Acervo Vogue)

Infelizmente, não é só você que anda acompanhada pela sensação de que a vida está mais estressante. O Relatório Global sobre Saúde Mental, divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), aponta que 374 milhões de pessoas ao redor do mundo passaram a conviver com transtornos de ansiedade após a pandemia, um crescimento de 26% em apenas um ano. No Brasil, um estudo coordenado por Vitor Crestani Calegaro, médico psiquiatra e professor do Departamento de Neuropsiquiatria da Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, acompanhou o estado mental de voluntários nos primeiros meses da crise sanitária. Pouco após o anúncio das medidas de isolamento, 65% deles relataram piora da saúde mental. “Foi um momento de adaptação, incerteza e medo, o que sempre vai levar a picos de estresse”, afirma o especialista. “Além do emocional, o corpo também fica abalado com o estado de tensão. O crescimento da produção de cortisol, hormônio ligado ao estresse, provoca aumento da pressão arterial, da frequência cardíaca, ganho de peso e distúrbio do sono, entre outras coisas”, completa Vitor.

A verdade é que há um bom tempo cresce o número de pessoas que se sentem sobrecarregadas com as obrigações, as pressões do mundo e até a velocidade acelerada típica de uma vida tecnológica. O cenário angustiante levou ao surgimento de uma indústria multidisciplinar focada na prevenção e redução de danos dos efeitos da ansiedade e do estresse. Segundo um relatório do Quince Market Insights, o mercado de gestão do estresse valia mais de US$ 18 milhões em 2020 e deve ter um crescimento aproximado de 3,5% por ano até 2030.

Isso inclui aplicativos criados para auxiliar na prática de meditação e em exercícios de respiração, tratamentos alternativos em áreas como acupuntura, suplementos alimentares relaxantes e até mesmo devices modernos. Um exemplo são os aparelhos que fornecem o biofeedback, ou seja, que agem como uma ferramenta de monitoramento da frequência cardíaca, da tensão dos músculos e do ritmo da respiração. O Orb, da startup israelense Reflect Innovation, tem o formato de uma bola e, quando você o segura nas mãos, faz a medição desses dados. Outros aparelhos vão adiante, oferecendo recomendações benéficas. O Zen, da empresa francesa Morphée, propõe meditações, e o aplicativo holandês Alphabeats sugere músicas para ajudar em condições mentais variadas. Nenhum deles está disponível no Brasil ainda. Já o Muse 2, vendido aqui por cerca de R$ 3,6 mil, faz leitura das ondas cerebrais e acompanha atividades diversas para verificar se houve a queda de hormônios do estresse.

O setor de cosméticos e cuidados pessoais também expandiu seu approach holístico, adicionando aos produtos componentes relaxantes retirados da aromacologia, como o óleo essencial de lavanda e até, num movimento bastante novo e com poucos estudos comprobatórios, a melatonina, para ajudar nos distúrbios do sono.

Uma pesquisa realizada pela Euromonitor em 2020 descobriu que para 63% dos participantes a saúde mental era a grande prioridade no momento e que 48% concordavam que produtos de higiene pessoal e de beleza podiam colaborar na melhora da saúde mental e da autoestima. Outros 46% afirmaram que buscavam ingredientes que ajudassem a relaxar e dormir melhor. Apesar de contribuírem positivamente, é preciso lembrar que essas alternativas não funcionam como tratamento para problemas de saúde mental. “Toda ferramenta capaz de promover o bem-estar e o equilíbrio de vida é válida, mas é preciso entender que esses artifícios agem como um complemento, um auxílio paliativo. Quando uma condição mais séria está instalada, é fundamental procurar ajuda especializada e o diagnóstico médico”, ressalta o psiquiatra Filipe Batista, de São Paulo.

As consequências da rotina estressante também podem ser refletidas na pele em condições conhecidas como psicodermatoses, que podem se manifestar de diversas formas: dermatites, acne, rosácea, síndrome da pele sensível, queda de cabelo focal (alopecia areata) e até vitiligo. “Algumas doenças têm fatores genéticos, mas o gatilho é emocional”, diz a dermatologista Lilia Guadanhim, de São Paulo.

A administradora Olívia Swain, 31 anos, demorou a entender a conexão entre causa e sintoma. Há quatro anos, ela começou a sentir coceira no couro cabeludo e viu que estava com descamação na área. “Achei que era caspa e não dei muita bola, mas durante a pandemia o quadro ficou mais intenso. Quando procurei um médico, ele suspeitou de alergia aos cosméticos que eu usava.” A primeira ordem foi trocar tudo por produtos elaborados para recém-nascidos, mas ainda assim os sintomas persistiram. Surgiu então a suspeita de que as lesões de Olívia estivessem relacionadas ao seu estado emocional. No início deste ano, outro dermatologista cravou o diagnóstico da psoríase. “Piora muito em momentos de estresse e até feridas aparecem. Uso um spray, um gel e uma pomada no local. O especialista também receitou banhos de sol e pediu que eu mantivesse em dia as atividades físicas e a terapia, meus maiores escapes”, conta ela. Apresentados como ferramenta de combate à ansiedade, os óleos essenciais também foram aliados na busca por dias mais calmos.

Não apenas em doenças o estresse é um agente potente, mas também no processo de envelhecimento. “O conceito expossoma discute formas que o ambiente em que vivemos mexe com a nossa pele. O mecanismo mais conhecido e o principal na cascata multissensorial do envelhecimento é a radiação solar. Mas o estresse pode aumentar a formação de radicais livres que, por sua vez, vão elevar a degradação do colágeno e a diminuição da produção dele. Alguns hábitos de rotinas estressantes, como privação de sono, aceleram esse processo”, explica Lilia, que acredita que a rotina de beleza pode ser apenas o começo de um caminho muito maior de autocuidado. “É importante que esse momento seja agradável, com estímulos sensoriais e de aromas, porque representa o início de uma espiral de olhar mais para você mesma e para a sua autoestima”, completa. Relaxar também precisa estar na sua lista de to-dos.

Veja abaixo uma seleção de produtos do mercado de stress care para usar como aliado no cuidado da sua saúde física e mental

Esquerda para direita: Creme hidratante Anti-Stress Ressource Givenchy (R$ 339); Sérum Revitalizante N°1 Chanel (R$ 1.250); Óleo essencial Calmer doTerra (R$ 140); Aparelho de Neurofeedback Muse 2 (R$ 3.620) (Foto: Divulgação)

Esquerda para direita: Creme hidratante Anti-Stress Ressource Givenchy (R$ 339); Sérum Revitalizante N°1 Chanel (R$ 1.250); Óleo essencial Calmer doTerra (R$ 140); Aparelho de Neurofeedback Muse 2 (R$ 3.620) (Foto: Divulgação)