• Redação Vogue
Atualizado em
Wellness Yoga Meditação (Foto: Arquivo Vogue/ Rafael Pavarotti )

Wellness Yoga Meditação (Foto: Arquivo Vogue/ Rafael Pavarotti )

Um estudo recente, publicado este mês na revista científica norte-americana Pain, mostrou que a meditação mindufulness, técnica conhecida como atenção plena, interrompeu a comunicação entre as áreas do cérebro envolvidas na sensação de dor e aquelas que produzem a consciência da nossa identidade. No experimento, os pesquisadores perceberam que os sinais do sofrimento ainda se moviam do corpo para o cérebro, mas a pessoa não sentia tanta “propriedade” sobre as sensações, como se a dor não fosse dela.

“Um dos princípios centrais da atenção plena é o de que você não é suas experiências”, disse o autor do estudo Fadel Zeidan, professor associado de anestesiologia da Escola de Medicina da Universidade da Califórnia - San Diego. “Na meditação, você se treina para experimentar pensamentos e sensações sem vincular seu ego ou senso de si a eles, e agora estamos finalmente vendo como isso se desenrola no cérebro durante a experiência de dor aguda”, explicou.

Para entender como esse processo ocorria, foi feito um experimento com 40 voluntários. No primeiro dia do estudo, os participantes tiveram o cérebro escaneado enquanto um calor intenso era aplicado na perna deles. Depois, eles tiveram de avaliar os níveis de dor. Na segunda parte da pesquisa, eles foram divididos em dois grupos: um recebeu quatro sessões de treinamento de atenção plena de 20 minutos. Eles foram instruídos a se concentrar na respiração e reduzir o autoconsciência, primeiro reconhecendo seus pensamentos, sensações e emoções, mas depois deixando-os ir sem julgá-los ou reagir a eles. Os participantes do outro grupo passaram as quatro sessões ouvindo um áudio livro aleatório.

No último dia do estudo, as duas turmas tiveram a atividade cerebral medida novamente, e os participantes do grupo de atenção plena foram instruídos a meditar durante o calor intenso e dolorido, enquanto o outro apenas permaneceu com os olhos fechados. Os pesquisadores descobriram que os voluntários que estavam meditando ativamente relataram uma redução de 32% na intensidade da dor e uma diminuição de 33% no desconforto. "Ficamos muito animados em confirmar que não é preciso ser um especialista em meditação para experimentar esses efeitos analgésicos", disse Zeidan. “Esta é uma descoberta muito importante para milhões de pessoas que procuram um tratamento não farmacológico de ação rápida para combater o sofrimento.”

Opção de tratamento

Quando a equipe analisou a atividade cerebral dos participantes durante a tarefa, descobriram que o alívio da dor por meio da atenção plena estava associado à redução na sincronização entre o tálamo (área que transmite informações sensoriais) e partes do cérebro chamadas de modo padrão. Uma dessas regiões padrão está envolvida na autoconsciência, e é uma das primeiras a ficar offline quando alguém entra em estado inconsciente. Outra é o córtex pré-frontal ventromedial, que trabalha para processar como a gente se relaciona ou valoriza nossas experiências. Quanto mais essas áreas foram desacopladas ou desativadas, mais alívio da dor o participante relatou.

“Para muitas pessoas que lutam contra o problema crônico, o que mais afeta a qualidade de vida não é a dor em si, mas o sofrimento mental e a frustração que a acompanham”, disse Zeidan. “A dor delas se torna parte de quem são – algo do qual não podem escapar – e isso exacerba sua aflição”, avalia o especialista. Ao renunciar à identificação autorreferencial da dor, a meditação da atenção plena pode fornecer um novo método de tratamento. Além de ser gratuita e poder ser praticada em qualquer lugar. O pesquisador espera, ainda, que treinamentos de meditação mindfulness possam ser ainda mais acessíveis e integrados aos procedimentos ambulatoriais padrão.