Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Banco Central afirmou que a maioria do colegiado considerou apropriada a redução de 0,25 ponto percentual da Selic, considerando que "o cenário esperado não se confirmou". Esse foi o primeiro corte de menor magnitude desde que a trajetória de quedas começou, em agosto do ano passado. Até então, os cortes da Selic foram todos de 0,5 ponto percentual.
Segundo o Banco Central, a decisão aconteceu "em função da desancoragem adicional das expectativas e da elevação das projeções de inflação". Assim, o BC afirma que "o comitê unanimemente avalia que se deve perseguir a reancoragem das expectativas de inflação".
Para quem não sabe, essa "reancoragem de expectativas" nada mais é do que a tentativa de trazer as projeções da inflação no chamado "horizonte relevante" da política monetária para perto da meta. O objetivo do Banco Central é de trazer a inflação para 3% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
De acordo com o Banco Central, "observou-se elevação na projeção de inflação para o horizonte relevante", o que levou a autoridade monetária a adotar uma postura mais conservadora. Afinal, se há pressões inflacionárias que podem levar a alta dos preços a se acelerar, o "instrumento" que o BC tem para controlar essa situação é justamente manter os juros um pouco mais elevados.
Na ata, o BC também cita "o cenário internacional mais adverso" e "a atividade econômica mais dinâmica do que esperado".
Decisão dividida... Mas nem tanto
É importante lembrar que a decisão não foi unânime. Cinco dos diretores votaram pelo corte mais brando, de 0,25 ponto percentual, enquanto quatro deles (todos indicados pelo atual governo) apoiaram a manutenção do corte de 0,5 ponto percentual.
No entanto, na ata do Copom, o Banco Central afirma que mesmo os membros do Comitê que votaram por redução de 0,5 ponto percentual "também compartilharam da percepção de aumento das incertezas internas e externas". Segundo o BC, os membros do colegiado "compartilham ainda do firme compromisso com o objetivo fundamental de atingimento da meta e de reancoragem das expectativas".
Ainda de acordo com o Banco Central, os membros que preferiam a manutenção do corte de 0,5 ponto percentual discutiram "se o cenário prospectivo divergiu significativamente do que era esperado".
"Para esses membros, redução de 0,50 ponto percentual ainda manteria política monetária suficientemente contracionista", afirmou o BC na ata.
Segundo o Banco Central, "todos concordaram que política monetária mais contracionista, cautelosa e sem indicações futuras mostrava-se mais apropriada" e "todos corroboraram entendimento de que ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta".
Mercado de trabalho ainda preocuopa
O mercado de trabalho forte foi um dos principais pontos de atenção na penúltima reunião do Copom. E o tema segue no radar agora. Desta vez, o comitê reforçou que "há surpresas recorrentes apontando para elevado dinamismo do mercado de trabalho".
"O debate se concentrou na possível transmissão para salários e preços do aperto verificado no mercado de trabalho", afirmou a autoridade monetária no documento.
Segundo pesquisadores, essa preocupação acontece porque, de um modo geral, quando o mercado de trabalho está mais aquecido, significa que as empresas estão contratando mais trabalhadores. Então, se elas estão demandando mais mão de obra, significa que elas também estão dispostas a pagar salários nominais maiores para esses trabalhadores. E isso implica em maior custo para as companhias. Esses custos, portanto, serão repassados nos preços dos produtos. E, assim, há mais inflação.
Tragédia no Sul vai impactar
Um outro agravante para esse cenário nebuloso é a tragédia trazida pelas chuvas no Rio Grande do Sul, que além das óbvias consequências humanitárias desastrosas, também deve trazer mais efeitos inflacionários para o país.
Na ata, o BC eixa claro que a "tragédia no Rio Grande do Sul também terá desdobramentos econômicos" e que "o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador".
O que esperar daqui em diante?
Agora, o mercado fica atento aos sinais dos próximos passos para tentar se antecipar. A mediana das expectativas dos economistas ouvidos pelo Boletim Focus aponta para uma taxa básica de juros de 9,75% no fim deste ano. Portanto, mantido o novo ritmo de 0,25 por corte, a Selic cairia dos atuais 10,50% ainda mais três vezes. Já o Termômetro do Copom do Valor Investe (que acompanha a movimentação dos investidores) mostra 55% de chances de mais um corte de 0,25 ponto, em junho, e 45% de a Selic até já ter parado de cair. Na reunião de julho, a probabilidade de manutenção está em 65%.
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