Blog do Marcelo d'Agosto

Por Marcelo d’Agosto

Consultor de investimentos com registro na CVM e comentarista da CBN

Valor Investe — São Paulo


Apenas 30 dos 163 fundos da categoria multimercado analisados na última edição do “Guia Valor de Fundos de Investimento tiveram rentabilidade superior à variação do Certificado de Depósitos Interfinanceiros (CDI) nos 36 meses entre abril de 2021 e março de 2024.

Foi o pior desempenho desde que o Guia, no atual formato, foi publicado pela primeira vez. A edição inicial analisou o rendimento das carteiras entre junho de 2016 e julho de 2019. Naquela ocasião, 85% das carteiras superaram o CDI.

A proposta dos fundos multimercado é oferecer aos investidores retorno acima dos principais parâmetros de referência usados para acompanhar as aplicações financeiras. Mas, para que o gestor consiga atingir o objetivo proposto, o investidor precisa aceitar correr riscos maiores.

O regulamento dos fundos multimercado dá aos administradores amplos poderes para fazer os mais variados tipos de negócios no mercado financeiro. Tanto com operações no mercado local quanto no internacional.

A contrapartida das estratégias mais arriscadas é que o investidor precisa estar preparado para assumir perdas em alguns períodos. Invariavelmente os fundos multimercado enfrentam algum intervalo no vermelho.

Nos últimos 36 meses, as menores perdas foram de pouco mais de 1% e duraram apenas um mês. Mas alguns fundos chegaram a registrar prejuízos de 70%, e demoraram 14 meses para que o investimento voltasse ao patamar anterior às perdas.

Quanto custa

Todo esse sobe e desce é monitorado por uma equipe de especialistas contratados pelos gestores das carteiras. Para fazer frente aos custos da equipe, os fundos multimercado cobram dos cotistas, na maioria das vezes, uma taxa de administração fixa de 2% ao ano, mais uma taxa de desempenho (também conhecida como taxa de performance) de 20% sobre o que exceder o ganho acima do CDI

Esse arranjo, na teoria, alinha os interesses dos gestores e dos cotistas.

Os administradores têm a garantia de um retorno fixo, proporcional ao patrimônio do fundo, para cobrir os custos operacionais. E o investidor do fundo abre mão de parte dos ganhos a que teria direito para dar uma espécie de bônus para o bom trabalho executado pelos gestores.

O problema para o investidor é, quando a percepção é de muito risco para pouco retorno. E a melhor forma para avaliar o risco é usar alguns parâmetros.

Nos últimos três anos, por exemplo, um investidor que tivesse aplicado apenas em títulos prefixados do Tesouro Direto teria tido um ganho médio de cerca de 9% ao ano. O risco da aplicação, medido pela variação mensal do rendimento, foi de 3% ao ano. Portanto, o retorno foi três vezes maior do que o risco.

No entanto, como o período foi de alta dos juros, no fim acabou não sendo uma boa aplicação. Um investimento no papel Tesouro Selic proporcionou ganho maior e risco menor.

O ideal, então, é que o investimento tenha, pelo menos, retorno acima de uma aplicação pouco arriscada.

Analisando todos os períodos de 36 meses desde a primeira edição do “Guia Valor de Fundos de Investimento”, variando os períodos a cada trimestre, é possível identificar uma tendência dos fundos multimercado. O desempenho é melhor quando o índice Bovespa está em alta.

Foram 13 períodos em que o Ibovespa foi maior do que o CDI. Nesses, em média, a rentabilidade de 80% dos fundos multimercado superou o CDI.

E foram sete períodos em que o Ibovespa foi menor do que o CDI. Nesses, em média, apenas 44% dos fundos tiveram rentabilidade maior do que o CDI.

A indicação, portanto, é que o Ibovespa tem impacto importante na rentabilidade dos fundos multimercado. E essa constatação empírica é apoiada pelos estudos teóricos sobre finanças.

O Ibovespa é um indicador que acaba refletindo o humor do mercado financeiro brasileiro. A alta do preço das ações geralmente está associada a um melhor ambiente de negócios, taxa de câmbio estável e juros baixos. Todo esse conjunto de fatores favorece a valorização dos ativos e impacta positivamente a rentabilidade dos fundos multimercado.

Quando os investidores avaliam os dados, fica a dúvida se vale a pena pagar as altas taxas de administração e performance para investir em carteiras que são diretamente influenciadas pelas condições gerais do mercado brasileiro.

Talvez, se os gestores não reduzirem os custos do s fundos multimercado, a tendência de saques verificada nos anos recentes possa continuar. A conferir.

Marcelo d`Agosto — Foto: Arte sobre Foto
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