Colunas de José Brazuna

Por José Brazuna

Sócio da Br Governance e da Investment as a Service (IAAS), consultorias de governança e de serviços para a indústria de fundos

São Paulo


No mês de maio, criei uma pirâmide. Não, não apliquei nenhum golpe; o foco foi a educação financeira. Melhor chamar de corrente do bem. Tudo começou quando li um texto do meu amigo Gustavo Cunha, que refletia sobre como seu comportamento como investidor ao longo da vida havia sido totalmente diferente do que se esperaria pelas teses tradicionais.

Ele tendia a ser mais agressivo quanto mais velho, ao contrário do que muitos esperam. Então, refleti sobre isso e escrevi minha coluna, concordando que a tese clássica de que os jovens podem tomar mais risco (simplesmente por serem jovens) carece de uma outra questão importante: o conhecimento e a maturidade para lidar com as decisões de investimento. Mudei um pouco o prisma do Gustavo.

As teses em geral partem do pressuposto de que temos a mesma maturidade dos 18 aos 80 anos. Concluí, então, que talvez devêssemos ter jovens conservadores que possam se tornar idosos muito agressivos, se, e somente se, preservarem seu capital até adquirirem conhecimento.

Pois bem... nossa corrente de artigos não parou por aí. Nas redes sociais, provoquei minha amiga Ana Leoni, também colunista do Valor Investe, para abordar o tema. Ela trouxe aspectos interessantes da visão de risco do ser humano, um deles direto e simples: que seres humanos percebem o risco de maneira distinta. Cada um interpreta uma situação à sua forma, e é por isso que muitos se sentem confortáveis na poupança, enquanto outros nunca investiram nesse produto.

Ana trouxe uma visão de que, independentemente da idade, aspectos individuais, vida familiar, contexto social, realidade econômica e até personalidade impactam a relação com o dinheiro e a percepção sobre risco. Juntando, então, a trilogia de artigos (do Gustavo, meu e da Ana), me dei por satisfeito para entender a faixa etária dos 18 aos 80 anos.

De certa forma, é simplória a teoria clássica que valoriza: (i) que ser jovem é passaporte para a tomada de risco; (ii) que muitas vezes se ignora o efeito do conhecimento como algo que te ajuda a tomar risco conforme você aprende na vida; e (iii) que, mesmo assim, há outros elementos que afetam diferentes percepções de risco, independente de ganho de idade ou conhecimento.

Mas agora quero entender como chegamos aos 18 anos. O tema investimento é proibido para menores? Qual a base de tudo? Resolvi ser o mais empírico possível na busca de respostas.

Tenho duas filhas, uma de 3 e uma de 6 anos, e tenho sobrinhos na fase da adolescência. Além disso, tenho amigos com filhos. Vou tomar como base esta realidade.

Minha percepção aqui de casa, da Cora, minha filha mais nova: aos 3 anos, a grande vantagem é não ter nenhum entendimento de risco e retorno. Os pais protegem todos os seus passos, e uma criança nessa idade é muito bem suprida de brinquedos, comida, roupa e diversão. Tudo é muito simples, acessível e gratuito. Dinheiro é mágico, já que suas pequenas vontades são muito simples de serem atingidas. Mas, mesmo aqui, já há um conhecimento sobre as restrições econômicas: seja em uma loja de brinquedos ou em um restaurante, não há como levar tudo ou pedir 10 pratos até entender o que gostou mais.

Mas a criança ainda lida com isso de uma só forma: choro e frustração. No entanto, isso não dura tanto, porque uma tristeza logo é superada por uma distração mais interessante. Logo, esta fase é mais de aprendizado sobre orçamento de prazeres simples do que sobre retorno.

Já aos 6 anos, minha filha mais velha, Eva, já percebe que há um entendimento mais claro sobre o papel e o poder do dinheiro. Pequenas negociações mostram para a criança quais são as escolhas do dinheiro: que não se pode pedir delivery todos os dias, ou ir a um café comer um doce ou chocolate, e que uma boa viagem nas férias custa, e que estas decisões são combinadas. A criança aos 6 anos começa a se encantar pelo dinheiro como objeto: guardar moedas e cédulas de papel. E já entende que o cartão de crédito é um objeto quase mágico.

Sente um grande orgulho de suas carteiras e moedas, independente da soma. E tem ainda a fada do dente, que traz mais dinheiro para seu rico patrimônio.

Minha filha de 6 anos teve uma experiência recente sobre tomar decisões financeiras. Em uma feira indígena, ela possuía R$ 40. Havia itens de artesanato acessíveis nesta faixa, e ela estava com suas amigas. Quis comprar uma pulseira de R$ 20. E o que queria fazer com o saldo? Comprar uma pulseira para sua amiga. Esta amiga estava com os pais, que podiam pagar se ela pedisse, mas, aqui entra uma abordagem para o dinheiro ainda profundamente emocional, de compartilhar.

Falar em poupar para ter algo melhor para si ainda não supera o prazer em dividir estas sensações com suas amigas, que, em sua visão, serão para a vida inteira. A angústia entre guardar e demonstrar amor é grande.

E se ela já sabe contar até 100, ou até 200, a percepção do que são esses números ainda é bastante limitada, já que sua métrica do dia a dia é em pequenos números: 4 pessoas em casa, 5 cachorros, 20 pessoas em uma festa de família, 30 pessoas na sala de aula.

É difícil entender a diferença entre os R$ 40 que guardou, e o que seriam, por exemplo, R$ 40 mil ou R$ 40 milhões.

Logo, minha conclusão é que o importante nesta fase da infância é dar noção de orçamentos, de que nem tudo é de graça e fácil, e preparar as crianças para uma próxima fase, em que podem ter uma percepção melhor de acumulação e retorno. E para as diferenças sociais, quando perceberem que nem todos os amigos da sala têm a mesma realidade, e que isso vale para cima e para baixo.

Para entender a próxima faixa etária, perturbei minha sócia, que tem filhos entre os 7 e 11 anos. Nessa fase, a coisa fica mais dura. Segundo ela, a partir dos 8 a 9 anos, seu filho mais velho passou a entender que conseguir R$ 50 é legal, mas não seria suficiente para atingir seus objetos de desejo que são mais complexos: um tênis bacana, por exemplo. Não é mais a pulseirinha.

Para esses novos objetos de desejo, precisa juntar dinheiro por vários meses. O dilema temporal e o desafio entre pequenos prazeres de curto prazo ou guardar para atingir suas metas se impõem. Isso o levou a pensar em estratégias de poupança e em investimentos.

E... nesse caso, foi para um extremo: bitcoins fazem parte do portfólio. Não foi por influência externa, mas, aprendeu em casa: seu pai é um executivo do setor cripto e paga parte da sua mesada em moedas digitais. Esse aprendeu sobre risco e volatilidade bem cedo.

Além da diversificação ousada do jovem, ele passou também a comparar mais na escolha de compra, visando extrair o máximo do seu poder de consumo. Ele compara marcas e qualidade, mas disso também surgiu um sintoma a se observar, que é a excessiva valorização de coisas de maior valor.

Por essa eu não esperava, ou seja, pode-se sim educar uma criança tão nova a entender qualquer categoria de ativo – até bitcoin – e isso pode ser uma forma importante de aprendizado. Melhor entender de ativos de alto risco do que tentar o “Jogo do Tigrinho”.

Já a filha mais nova da minha sócia, que tem a idade da minha (6 para 7 anos), tem a mesma visão do dinheiro, o gasto é sentimento: quero ou não uma pulseira, um doce, se tenho dinheiro suficiente, atinjo essa meta e fico feliz.

Pulando agora para a adolescência, fui tentar entender o comportamento de meus jovens sobrinhos. Descobri que um deles, na faixa entre 13 e 16 anos, nunca pediu dinheiro para nada, nem ligou para compra qualquer ou consumo. Mas, que no primeiro colegial, começou a fazer um curso de matemática financeira e ficou impressionado com os juros compostos. Consequência? Passou a não querer gastar mais nada, encantado com essa “mágica” da multiplicação do dinheiro. Esse tem uma conta no banco onde o dinheiro só entra, e nunca sai. Pelo visto... teremos um grande rentista na família.

Minha conclusão então dos 8 aos 18 anos. Temos uma primeira fase feliz, que vai do zero aos 6 anos, em que somos muito ricos, pois são poucas as restrições de consumo que realmente nos incomodam. A partir dos 6 anos, começamos a perceber que nossos pais não são um cofre ilimitado de recursos, e isso gera uma frustração.

Dessa frustração temos de aprender estratégias de poupança. E, tudo aqui é sempre voltado para renunciar a um prazer de curto prazo, para um consumo de médio prazo. Isso vai de uns 6 a 10, 12 anos.

A partir daí, na adolescência, tenho certeza de que nem todos têm a sorte de minha irmã, que tem um filho desapegado ao consumo e encantado pelos juros compostos! Mas certamente esta é a fase crucial de introduzir conceitos de planejamento financeiro, orçamento e estratégias de longo prazo.

Bom saber que meu sobrinho, por uma grande coincidência, sustentou minha tese de que talvez tenhamos de ter jovens conservadores para termos idosos agressivos em investimentos. No fundo, minha recomendação nesse sentido é de aprendizado, de ter profundo conhecimento do que se está fazendo, antes de se fazer.

E você? Tem uma experiência diferente sobre crianças e jovens e dinheiro? Mande sua mensagem para mim. Afinal, a intenção é manter a corrente de artigos sobre o tema, em futuras edições.

O e-mail do José Brazuna é: jbrazuna@iaasbr.com

José Brazuna — Foto: Arte sobre foto Divulgação
José Brazuna — Foto: Arte sobre foto Divulgação
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