Colunas de Hudson Bessa

Por Hudson Bessa

Professor universitário e especialista em fundos de investimento

São Paulo


O artigo da semana passada teve como subtítulo a frase “Olhar para a rentabilidade dos produtos e comparar umas contra as outras não traz nenhuma informação realmente importante para a sua vida”, e o mês de abril foi uma bela demonstração sobre como é perigoso se orientar pelas rentabilidades passadas.

Como não é possível adivinhar o futuro tentamos insistentemente projetar o futuro. Nesta saga procuramos informações nos mais variados meios e das mais diferentes formas, tudo para tentar estimar como os mercados deverão se comportar. Porém, o máximo que conseguimos é estimar alguns valores para alguns indicadores, tais como o Ibovespa e a cotação do dólar, que não passam de probabilidades, ou suposições que julgamos mais prováveis. Continuamos na incerteza, mas agora mais confiantes, ou talvez esperançosos.

A partir destas projeções tomamos nossas decisões e então é aguardar o futuro. Se der tudo certo é celebrar, mas se as coisas evoluírem para pior é sofrer. Neste caso, para os mais emotivos ou aqueles que foram com mais sede ao pote do que deveriam o sofrimento pode até causar uns arranhões na autoestima.

Como fazer projeções não é fácil, para muitos o passado costuma ser o melhor indicativo sobre o futuro. Para estes, as apostas, muitas vezes, é que aos produtos e fundos de investimento que foram vencedores conseguirão manter seus desempenhos superiores. Costumamos brincar que essa é a estratégia de investir pelo retrovisor, mas ela costuma ser ineficiente. A seguir alguns exemplos.

No primeiro trimestre do ano a classe de multimercado foi dominada pelos fundos de criptoativos. De uma amostra de quase 1.000 fundos praticamente todos os vinte mais rentáveis eram dedicados as criptos.

Mas o mês de abril chegou trazendo aumento das tensões entre Irã e Israel, o medo de que o conflito escalasse pelo Oriente Médio e com os bons números da economia americana, que renovaram as preocupações até com um possível, mas improvável, aumento da taxa de juros pelo FED.

Sinais exteriores de mais incertezas pelo mundo e o aumento de volatilidade provocado pelo halving do Bitcoin, derrubaram a cotação das criptos fazendo o índice da Nasdaq NCID despencar quase 17% em abril. Resultado, em uma inversão radical, os fundos de cripto dominaram a lista dos vinte piores desempenhos do mês. O príncipe virou um sapo.

Em meio a este contexto de mais medo e aumento da volatilidade, quem voltou a frequentar a lista dos multimercados mais rentáveis foram os fundos dedicados a comprar metais, como ouro e prata. Aliás, a forte valorização ocorrida não deixa dúvida que estes ativos ainda são considerados a melhor reserva de valor para momentos de aguda elevação da incerteza.

Fundos de cripto ainda estão entre os mais rentáveis do ano, mas devolveram uma boa parte dos ganhos.

Entre os fundos de renda fixa, também percebemos a tal inversão.

Os fundos de debêntures incentivadas que até março dominavam de forma acachapante a lista dos campeões de rentabilidade do ano, passaram a ocupar as piores posições no mês de abril, acompanhados pelos fundos de inflação, cuja estratégia costuma ser adquirir títulos indexados ao IPCA de longo prazo. Vale destacar que esta é uma característica similar entre ambos.

Não bastassem as tensões externas, o Governo resolveu reduzir a meta de superávit fiscal do próximo ano, de 0,5% para 0%, logo em seguida a uma autorização do Congresso para expansão de gastos ainda este ano. Abordei neste artigo.

Em resumo, um trabalho bem-feito para desacreditar o Arcabouço Fiscal.

Como resultado, as taxas de juros para prazos mais longos subiram (abriram) o que jogou os preços dos títulos para baixo. A desvalorização ocorreu em praticamente todas as curvas de juros, mas ela foi bem pior naquelas de prazos mais longos. Para se ter uma ideia, a cotação do índice ANBIMA para papéis do Tesouro indexados aos IPCA de prazo acima de 5 anos (IMA B 5+) caiu quase 3% em abril. Para muitos talvez seja um espanto ler que um título de renda fixa pode perder tudo isso em um único mês.

Só para fechar esta história, vale à pena falar de Petrobras que em abril, após o Conselho da empresa deliberar pelo pagamento de 50% dos dividendos extraordinários, reverteu toda perda ocorrida em março. Com isso a cotação que havia descido a ladeira, recuperou toda perda em abril. Claro que os fundos que compram Petrobras dançaram ao som dessa música dissonante.

Esses são alguns exemplos que mostram que a estratégia de dirigir olhando pelo retrovisor não leva a lugar nenhum. Inclusive, ela pode ampliar em muito as perdas quando se tenta implementar em períodos curtos.

O investidor deve ter em mente que se o futuro fosse repetição do passado, todos tentariam comprar os mesmos títulos, o que elevaria absurdamente seus preços e eliminaria qualquer chance de valorização à frente. Não existe ativo que valorize infinitamente.

Por fim, não existe investimento bom ou ruim, tudo é relativo. Tudo depende do que você, investidor, quer para sua vida em cada momento.

Agradeço ao Fernando Santana pelos insights e apoio nas análises.

Dados fornecidos pela Comdinheiro com elaboração dos relatórios pela FCBO Consultoria.

Hudson Bessa - Economista e sócio da HB Escola de Negócios
hudson@hbescoladenegocios.com
www.hbescoladenegocios.com

Hudson Bessa — Foto: Arte sobre foto/Divulgação
Hudson Bessa — Foto: Arte sobre foto/Divulgação
Mais recente Próxima O investidor deve pensar suas aplicações como uma jornada para alcançar seus objetivos
Mais do Valor Investe

Já o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, tem reunião com representantes do BTG Pactual

Agenda: Campos Neto participa de evento do BCE e Haddad se reúne com presidente do BB

As urnas fecharam às 20h locais (15h em Brasília) e as primeiras estimativas de participação no primeiro turno das eleições legislativas francesas indicam a menor abstenção dos últimos 40 anos

Primeiro turno de eleição legislativa na França deve impor novo castigo a Macron

Revogação foi determinada pela 10ª Vara Federal Criminal, do Rio de Janeiro, de onde foram expedidos os mandados de prisão preventiva, na ocasião da deflagração da Operação Disclosure, deflagrada na última quinta-feira (27)

Justiça do Rio revoga prisão de ex-diretora da Americanas

147 apostas chegaram bem perto e acertaram cinco dezenas. Para cada uma delas a Caixa vai pagar R$ 40.291,15

Ninguém acerta as seis dezenas da Mega-Sena 2743, e prêmio vai a R$ 120 milhões; veja números sorteados

Em nota, a defesa de Miguel Gutierrez afirma que o executivo compareceu espontaneamente ante as autoridades policiais e jurisdicionais com o fim de prestar os esclarecimentos solicitados

Ex-CEO da Americanas é solto e já está em casa em Madri

Desde que a SoutRock, antiga máster franqueadora, entrou com um pedido de recuperação judicial há alguns meses, a matriz americana da Subway havia retomado o controle da marca no Brasil

Zamp (ZAMP3) confirma que está avaliando compra de operações da Subway no Brasil

Apostas para a Mega-Sena podem ser feitas até às 19h (horário de Brasília) do dia do sorteio e o valor de um jogo simples é de R$ 5

Mega-Sena 2743 sorteia prêmio estimado em R$ 110 milhões hoje; veja como apostar e fazer bolão

Apenas em junho, os contratos futuros das commodities valorizaram até 6,53%

Petróleo sobe até 13,80% no semestre com expectativa de mais demanda

Junho foi o auge de uma trajetória de alta das taxas que começou em abril desse ano; relembre os seis primeiros meses dos papéis

Tesouro Direto: títulos atrelados à inflação são os queridinhos do 1º semestre

'Quem não arrisca, não petisca', já dizia o ditado. Este ano, ativos arriscados como as criptomoedas vêm trazendo retornos invejáveis enquanto o mercado de ações fica para trás

Quais os investimentos com melhores rendimentos no 1° semestre de 2024? Veja destaques