Olá, pessoal. O artigo de hoje é inspirado por um capítulo do livro “A Psicologia Financeira��, de Morgan Housel. Eu gosto muito de me inspirar em outros escritores/professores/pensadores com o intuito de trazer para vocês ideias e conceitos que julgo interessantes e relevantes, sempre dando minhas pitadas e construindo em cima do texto original.
Aliás, o livro supracitado é simplesmente sensacional, principalmente para iniciantes em educação financeira. Para mim e para muitos de vocês, que já estudaram bastante finanças comportamentais e educação financeira, seria exagero dizer que ele traz algum novo conceito ou ponto revolucionário no tema. No entanto, o livro traz excelentes perspectivas e ótimos exemplos ilustrativos. No meu caso em específico, a leitura serviu para me dar, além dos pontos citados, a devida convicção de que muitas ideias e conceitos da boa educação financeira que fui construindo ao longo da minha vida são igualmente compartilhados por pessoas como o Morgan.
O título deste artigo é instigante, não? O que será que você e eu (aqui, suponho que você também seja parte da esmagadora maioria da população mundial, que não é bilionária) podemos ter que muitos bilionários (a maioria deles, eu diria) não conseguem ter? Com o dinheiro de um bilionário, decerto ele ou ela pode possuir iates, jatinhos e até ilhas que eu e você não conseguiremos comprar. Mas, por outro lado, muitas vezes algum efeito comportamental explica um padrão. E para ser bilionário, existe um certo padrão (em que pese não todos os bilionários do mundo necessariamente o seguirem). E este padrão comportamental é sabotador...
Segundo conta Morgan Housel em seu livro, numa festa de pessoas abastadas financeiramente, alguém perguntou a um conhecido escritor: “Você sabia que aquele homem ali ganhou mais dinheiro em um único dia de Wall Street do que você em toda a sua vida com o seu livro mais famoso?” Foi quando o escritor respondeu: “Certo, mas eu tenho uma coisa que ele jamais vai ter: o suficiente”.
Para mim, essa resposta foi absolutamente genial. Perceberam a nuance? O que o escritor quis dizer é que o bilionário de Wall Street jamais se satisfaria com qualquer fortuna (porque, caso se satisfizesse, já teria parado de se arriscar). Esse é um padrão que leva a grande parte dos bilionários a serem bilionários (e, claro, muitos ao total fracasso financeiro). Por não se satisfazerem com nenhum dinheiro no mundo, eles querem sempre mais. E algumas vezes conseguem, mas em muitas outras, arriscam tudo por esse objetivo e... se dão mal.
Essa história, para mim, tem dois pontos extremamente relevantes e que considero fundamentais. E provavelmente você já deve ter reparado neles. Mas antes de trazê-los à tona, permita-me compartilhar com você a minha premissa fundamental em tudo que faço e, portanto, também no cerne do que penso a respeito da boa educação financeira: o maior e, quiçá único, objetivo desta vida é ser feliz. Não importa o que te faz feliz, mas para mim essa regra é (ou deveria ser) universal. Desde ser feliz ao ver um lindo amanhecer do Sol até ser feliz ao fazer as pessoas que você ama mais felizes. Então, minha premissa fundamental é que a boa educação financeira não deve fazer você conseguir comprar iates ou jatinhos, mas sim te levar à felicidade. Tendo definido esta forma de pensar, vamos aos dois pontos.
A primeira grande aprendizagem que tiramos da resposta do nosso escritor acima é que, muitas vezes, a felicidade não está naquilo que você possui, mas sim em como você se sente em relação ao que possui. Eu não tenho nenhuma dúvida de que você ter a paz de espírito de possuir dinheiro suficiente para atingir os seus objetivos é algo maravilhoso e, digamos, meio passo para a felicidade. Isso significa dizer que você não tem frustrações ou expectativas que venham a te frustrar em relação à sua vida financeira. A sensação de plenitude e realização (neste caso, financeira) é simplesmente maravilhosa!
Quando você não tem limites e quer sempre “ajustar a sua meta de patrimônio” para cima, isso torna-se perigosíssimo. Morgan Housel é absolutamente preciso: “Ao lidar com dinheiro, a coisa mais difícil a fazer é parar de reajustar as metas para cima o tempo todo”. E, ele continua, dizendo que além de a mais difícil, é também uma das mais importantes: “se as expectativas aumentam graças aos resultados positivos, não há lógica em correr atrás de mais, porque, no fim das contas, você vai acabar sempre com o mesmo sentimento.
É perigoso quando o desejo de ter mais (mais dinheiro, mais poder, mais prestígio) faz a ambição crescer a uma velocidade maior que a satisfação. Nesse caso, um passo adiante empurra a meta dois passos à frente. Apesar do avanço, a sensação é de estar ficando para trás e a única forma de alcançar a meta (e não se frustrar, meu adendo) passa a ser correr riscos cada vez maiores.” Brilhante.
E aí vem a segunda grande lição que podemos tirar da nossa historinha real: Housel cita os casos de Bernie Madoff (famoso empresário muito bem-sucedido até então) e de Rajat Gupta (ex-CEO da McKinsey, a mais prestigiada firma de consultoria do mundo). Por aqui, poderíamos citar diversos exemplos, mas ficarei com o de Eike Batista. Os três citados alcançaram o sucesso, a reputação e uma fortuna que não conseguiriam gastar em vida. Mas por não se contentarem com o que tinham, correram riscos enormes e, em certo momento, tiveram de fazer coisas ilegais para sustentar os seus sonhos e metas.
Resultado: todos eles foram presos e suas reputações arruinadas. Do meu lado, eu sempre comento com amigos e familiares sobre certas personalidades famosas e riquíssimas no Brasil que arriscam muito alto – o que acaba soando até repetitivo para quem convive bastante comigo: “mas por que será que esse cara não para por aí e vai ser feliz? Ele fica correndo riscos à toa, principalmente no que concerne a sua reputação!”. Eu não consigo entender pelo prisma da racionalidade. Entendo, claro, sob a ótica de aspectos comportamentais que, claro, nos sabotam.
Aliás, precisamente sobre isto, Warren Buffet certa vez comentou algo mais ou menos assim:
“Para ganhar o dinheiro que não têm e não precisam, muitos milionários arriscam aquilo que têm e de que precisam. Isso é estupidez. É estupidez, pura e simplesmente. Arriscar algo que é importante para você em troca de algo que não é importante para você não faz sentido algum.”
Morgan interpretaria essa fala de Buffet assim:
“Nada justifica arriscar algo que você já tem e do qual precisa por algo que você não tem e do qual não precisa.”
E, infelizmente, vejo muitas pessoas abastadas administrando suas vidas financeiras e profissionais totalmente desta maneira. E percebam que aqui não estou falando de arriscar apenas o dinheiro que você já tem, mas algo tão ou até mais valioso quanto: sua reputação e, em última instância, o bem mais precioso que podemos sonhar ter nesta vida – a sua FELICIDADE.
PORTANTO, O MAIOR ENSINAMENTO QUE QUERO TRAZER COM ESTE TEXTO É QUE VOCÊ FAÇA DOIS EXERCÍCIOS FUNDAMENTAIS PARA A SUA FELICIDADE - DE ACORDO COM A BOA EDUCAÇÃO FINANCEIRA QUE EU PREGO!
O primeiro deles é traçar a sua meta de padrão de vida, entendendo que é muito bom ter um iate, mas há um custo, muito sacrifício e, principalmente, enorme risco de você não conseguir e viver toda uma vida frustrada por isso - afinal, como você lidaria com o fato de não ter “atingido a sua meta”? Em outras palavras, nada é de graça e você precisa ponderar o custo, o sacrifício e o risco: isso equivale a ser consciente e ter os pés no chão.
O segundo exercício é traçar a sua meta financeira, ou seja, aquela que é capaz de financiar o padrão de vida definido e que te fará realizado. Assim, o montante acumulado (e suas rendas recorrentes) serão capazes de comprar o que você mais gosta e te fazer verdadeiramente ter uma vida feliz e equilibrada. Diante desta meta, entenda a hora de parar de correr riscos que possam ameaçar tudo o que você construiu de bom até então. E, neste momento, seja MUITO FELIZ sabendo que você tem exatamente O SUFICIENTE.
* Carlos Heitor Campani é PhD em Finanças, Diretor Acadêmico da iluminus - Academia de Finanças, Sócio da CHC Treinamento e Consultoria e Pesquisador da ENS – Escola de Negócios e Seguros.
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