A Anbima divulgou recentemente a 5ª edição da pesquisa Finfluence, revelando a consolidação do papel dos influenciadores digitais na difusão de informações e educação financeira no Brasil. Impressionantes 176 milhões de seguidores usaram o conteúdo gerado por esses novos atores da cena financeira no final do segundo semestre de 2023. Que ferramentas e recursos esses profissionais utilizam na busca por seguidores, curtidas e, em última instância, poder de influenciar decisões de consumo e investimento?
Os influenciadores das redes sociais rapidamente se tornaram uma ferramenta de marketing. Esse tipo de “propaganda” funciona porque as pessoas podem ser influenciadas a fazer coisas que normalmente não fariam ou comprar produtos e serviços que não pretendiam adquirir. O marketing de mídia social de hoje nem sempre é um impulso consciente. Muitas vezes envolve uma persuasão mais dissimulada.
Enquanto uma influenciadora está aplicando maquiagem e fazendo vlogs sobre fim de relacionamentos ou separações, ela pode mencionar casualmente uma marca de cosmético que está aplicando. É uma espécie de propaganda velada.
Hoje, espera-se que as vendas de produtos aumentem com a popularidade do influenciador, o qual recorre à princípios de persuasão diretos e indiretos. Esses formadores de opinião, consciente ou inconscientemente, usam a persuasão psicológica para ganhar curtidas, seguidores consistentes, recompartilhamentos e vendas.
Robert Cialdini (2016) identificou e estudou os “6 Princípios de Influência”, incluindo reciprocidade, familiaridade, prova social, autoridade, afiliação e escassez. Esses princípios se alinham com as principais heurísticas psicológicas, ou atalhos mentais, envolvidos na tomada de decisões.
Como consumidores e investidores, é importante saber que estes princípios estão em jogo para que possamos fazer escolhas informadas e conscientes sobre o que gostamos, assistimos, seguimos e, em última análise, compramos e investimos.
Os principais recursos psicológicos usados por influenciadores digitais são:
- Reciprocidade: Os seguidores muitas vezes sentem que os relacionamentos nas redes sociais são, ou têm potencial, para serem recíprocos. À medida que o influenciador se torna mais sincero e consistente com as postagens, a familiaridade e a confiança aumentam. Sentimos que os conhecemos e podemos sentir que eles são “amigos”. Suponha que o influenciador nos dê algo (conselhos, tutoriais, músicas, etc). Então, sentimos a necessidade de responder na mesma moeda (viés de reciprocidade), dando-lhes curtidas, seguidores, apoio monetário ou simplesmente comprando e investindo no que recomendam.
- Autoridade: Trata-se da tendência de atribuir credibilidade a indivíduos que consideramos terem conhecimento, especialização ou experiência em uma determinada área. É mais provável que aceitemos as recomendações daqueles que acreditamos ter autoridade. Muitas vezes assistimos a resultados ou testemunhos e presumimos que um influenciador tem autoridade sobre um assunto simplesmente por causa de experiências relatadas.
- Familiaridade e viés de repetição: Postagens consistentes e frequentes nas redes sociais dentro do nicho de um influenciador criam seguidores que provavelmente se tornarão compradores. Uma mensagem consistente gera reconhecimento. O efeito de familiaridade e o viés de repetição confirmam que as pessoas preferem e valorizam informações repetidas e coisas familiares, em detrimento de novidades.
- Prova Social: Segundo a teoria da prova social, se a grande maioria das pessoas estão fazendo, comprando ou usando algo, deve haver uma boa razão para tanto. Muitas vezes imitamos o comportamento dos outros, especialmente em situações desconhecidas. Se vários influenciadores digitais usarem ou promoverem um produto ou serviço, o desejo de considerar a compra provavelmente aumentará. Influenciar depende da necessidade humana de pertencer e sentir-se “parte do clube”. Nos sentimos seguros sabendo que estamos fazendo ou comprando algo popular e apreciado por muitos.
- Afiliação: Muitos influenciadores são “curtidos” e seguidos se forem amigáveis, acessíveis, relacionáveis e aparentemente “reais”. Os influenciadores muitas vezes destacam seus problemas, compartilhando suas mazelas, seguidas obviamente de soluções. Os influenciadores compartilham suas lutas contra acne, saúde mental, peso, descontrole financeiro e muito mais. A confiança é reforçada quando os seguidores consideram as revelações realistas e relacionáveis.
- Heurística da Escassez: Criar uma necessidade com base na escassez é uma ferramenta de marketing bem utilizada. Se sentirmos que não conseguiremos algo a menos que compremos, nos inscrevamos ou sintonizemos imediatamente, é mais provável que ajamos de acordo com essa urgência e façamos o que o influenciador sugere.
Você acredita que molda seu conteúdo de mídia social e é dono de suas decisões de compra? Embora algoritmos e influenciadores nos conectem a conteúdos que confirmam nossos interesses, nós temos escolhas e controle. O consumidor e o investidor conscientes e bem informados devem estar atentos e reconhecer os princípios da persuasão descritos anteriormente para, dessa forma, evitar ser influenciado negativamente.
Aquiles Mosca é responsável por Comercial, Marketing & Digital no BNP Paribas Asset Management. É professor de finanças comportamentais e gestão de ativos. Autor dos livros “Investimentos sob medida” e “Finanças Comportamentais”, preside do Grupo Consultivo de Educação de Investidores da Anbima. E-mail: aquiles.mosca@br.bnpparibas.com