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Por Andre Rocha, Valor Investe — São Paulo


Reportagens creditam o sucesso esportivo recente de Flamengo e Palmeiras à boa gestão dos dois clubes. Contudo, não mencionam os recursos extras obtidos apenas por essas duas agremiações (a outra é o Corinthians, com Direitos de TV) no início de suas reestruturações. Sem esse aporte financeiro, provavelmente, os dois clubes teriam dificuldades de honrar suas dívidas e concomitantemente investir em elencos vitoriosos tal como acontece com os demais clubes grandes.

Não é novidade que a maior parte dos clubes de maior torcida do futebol brasileiro possui elevado endividamento, o que vem comprometendo sua capacidade de serem competitivos esportivamente.

Os clubes são associações civis. Esse tipo societário impede que sejam adotadas medidas ao alcance das sociedades anônimas para redução do alto grau de alavancagem.

Por exemplo, companhias podem emitir novas ações (oferta primária), vendê-las ao público e com os recursos arrecadados pagar seus credores. Outra alternativa é a recuperação judicial, em que o vencimento das dívidas é suspenso e o montante devido é renegociado com os credores com a obtenção de substanciais descontos.

Sem esses mecanismos, o serviço da dívida, bem como o pagamento do principal, vem corroendo a capacidade operacional dos clubes. Mesmo reduzindo suas despesas, o total da dívida teima em crescer. Entra-se em um espiral descendente, pois times modestos não conseguem engajar sua torcida, o que compromete receitas derivadas de premiações, venda de camisas, bilheteria e patrocínios.

Dois clubes conseguiram sair desse círculo vicioso: Flamengo e Palmeiras. Este último devido ao aporte feito por um dos seus presidentes de forma a reescalonar a dívida em um prazo dilatado, e a custo baixo, gerando fôlego financeiro de curto prazo.

Já o clube carioca teve seus direitos de transmissão de TV majorados, com valores significativamente superiores aos de seus pares entre 2014 e 2018. O Corinthians também teve a mesma benesse, mas não conseguiu se acertar em decorrência da dívida relacionada ao novo estádio e da má administração.

Nesses 5 anos, o Flamengo arrecadou R$ 961 milhões com direitos de transmissão de TV. Enquanto isso, o São Paulo ganhou R$ 550 milhões. Essa diferença de R$ 411 milhões foi em relação ao clube com a 3ª maior torcida do país, imagine em relação às demais associações.

Esse diferencial ao redor de R$ 400 milhões resolveria boa parte do endividamento de qualquer dos 12 grandes clubes brasileiros listados acima. Contudo, apenas dois – Flamengo e Corinthians – tiveram essa oportunidade com a receita de TV. Sem essa alternativa, e sem os mecanismos ao alcance das sociedades anônimas e sem um mecenas, os grandes clubes não conseguem reduzir seu endividamento para se tornarem novamente competitivos.

A explicação para o rateio desproporcional das cotas de TV no quinquênio 2014-18 era a de que os clubes com as duas maiores torcidas mereciam valores mais robustos. Se à época essa distribuição era considerada justa sob esse argumento, posteriormente mudou-se de opinião. O contrato negociado de 2019 a 2023 foi revisto, tornando-a mais equânime. Contudo, o desequilíbrio já havia se consolidado. Agora, 40% é distribuído de forma igual entre os clubes, 30% de acordo com a aparição nas transmissões e 30% relacionada a colocação no campeonato.

O grande mérito da administração do clube carioca foi utilizar esses recursos adicionais para reduzir seu endividamento, fugindo da tentação de montar esquadrões até 2018. Manteve times competitivos, mas gastando apenas as cotas que também eram direcionadas aos demais clubes.

Em 2019, já com a dívida reduzida (se o montante atual é adequado para uma atividade, cuja receita oscila bastante é tema para outro artigo), a administração ganhou capacidade para investir no elenco o que gerou um círculo virtuoso, no qual vitórias e conquistas atraem patrocinadores, elevam a venda de camisas, bilheteria e premiações. Além disso, permite que o clube venda em melhores condições seus jogadores da base, pois não tem buracos de caixa para cobrir. Com isso, a diferença na geração de receitas entre o Flamengo e as demais agremiações se expandiu ainda mais.

Os dirigentes dos outros clubes, talvez por não quererem passar a imagem de incompetentes ou serem acusados de vitimismo, tentam passar a imagem que continuam competitivos, o que o resultado das competições tem desmentido.

A realidade é que a diferença orçamentária oriunda de aspectos singulares – direitos de transmissão de TV ou a existência de um mecenas – não esteve ao alcance dos demais para redução da alavancagem. O investimento posterior nas equipes trouxe novas receitas aos dois clubes, elevando ainda mais o desequilíbrio.

Esse abismo técnico e financeiro tende a comprometer a qualidade do futebol praticado no país e gerar desinteresse por parte das demais torcidas (cerca de 70% do total), reduzindo o apelo comercial dos campeonatos no médio prazo. Isso deveria ser uma fonte de preocupação para a CBF, patrocinadores e detentores dos direitos de TV.

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Andre Rocha — Foto: Arte sobre foto de divulgação
Andre Rocha — Foto: Arte sobre foto de divulgação

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