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Por , Valor — São Paulo

O acordo mútuo assinado pela Rússia e Coreia do Norte na última quarta-feira (19) intensifica as relações bilaterais dos países principalmente na defesa militar em caso de um ataque estrangeiro. O acordo, chamado de pacto abrangente, é firmado em um momento delicado na diplomacia mundial, dizem especialistas ouvidos pelo Valor.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, definiram o documento como uma parceria estratégica de longo prazo, que visa estabelecer tarefas políticas, comerciais e de investimentos entre russos e norte-coreanos.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, além do apoio militar, foram discutidos entre os dois líderes cooperações nas áreas de saúde, educação médica, infraestrutura e ciência.

O que chamou mais atenção no acordo, cujo texto na íntegra não foi divulgado publicamente, foi a cooperação militar entre os dois países. Segundo o governo russo, o tratado assinado prevê que, se um dos dois países for atacado, o outro em guerra.

Em outras palavras, conforme o tratado, se a Rússia for diretamente atacada por um terceiro estado ou se for atacada por uma coalizão de estados, a Coreia do Norte teria por obrigação, por conta do pacto, auxiliar a Rússia militarmente. Da mesma forma com a Coreia do Norte, caso ela seja atacada, os russos devem prestar apoio bélico.

O pacto entre Rússia e Coreia do Norte acontece em um momento de tensão entre russos e países ligados à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Segundo as agências russas de notícias Tass e RIA Novosti, Putin chamou atenção para as declarações dos Estados Unidos e países da Otan sobre o fornecimento de munições e armamentos para um eventual ataque ao solo russo.

"Isto é uma violação grosseira das restrições assumidas pelos países ocidentais no âmbito de vários tipos de obrigações internacionais”, disse o presidente russo.

Segundo o The Guardian, em conferência de imprensa realizada também na quarta com o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que a aproximação dos dois países gera preocupação.

"É claro que também estamos preocupados com o apoio potencial que a Rússia presta à Coreia do Norte no que diz respeito ao apoio aos seus programas nucleares e de mísseis", diz.

Essa não é a primeira vez que os russos assinam pactos com a Coreia do Norte: quando os soviéticos passavam pela Guerra Fria, tratados de assistência técnico-militar foram feitos com os norte-coreanos, vietnamitas e países do Leste Europeu, para fornecimento de armas e munições.

Além da China

Com a Rússia sancionada pelas potências ocidentais devido à guerra contra Ucrânia e os norte-coreanos isolados de outros países por conta do regime político, ambos os países buscam novos parceiros para realizar trocas militares, tecnológicas e investimentos, segundo analistas ouvidos pelo Valor.

O novo documento firmado entre os países acontece pouco tempo depois de dois eventos importantes para as relações diplomáticas mundiais: a Conferência de Paz da Suíça, organizada para discutir a guerra na Ucrânia, e a cúpula do G7, que debateu apoio internacional aos ucranianos.

Por parte da Rússia, o pacto pode ser uma resposta às medidas do Ocidente, que apoia a Ucrânia militarmente, explica Valdir da Silva Bezerra, mestre em Relações Internacionais pela Universidade de São Petersburgo.

Bezerra diz que o pacto com a Coreia do Norte é estratégico, pois o país é fortemente militarizado e Putin vem buscando mais assistência nesta área porque as autoridades russas entendem que a guerra contra a Ucrânia, que começou em 24 de fevereiro de 2024, pode durar mais tempo.

Já por parte da Coreia do Norte, o acordo pode ser importante por abrir uma nova porta comercial além da China, segundo Laerte Apolinário Júnior, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.

A Coreia do Norte tem sido um dos países mais isolados e sancionados do mundo desde 2006, quando os coreanos realizaram seu primeiro teste nuclear, diz Laerte.

“Para a Coreia do Norte, essa parceria entre os dois países poderia facilitar as transferências de tecnologia, em especial de cunho militar, além do acesso a outros recursos em troca de fornecimento de armas e munições [para os russos]”, destaca.

Para Apolinário Júnior, a aliança de russos e norte-coreanos não é ideológica, mas sim um acordo tático estratégico de cada regime. Segundo ele, no momento, o pacto concretiza uma maior aproximação que ocorre ao longo dos últimos meses, desde que os russos deram apoio para a Coreia no Conselho de Segurança da ONU contra as sanções comerciais impostas pelo Sistema Internacional.

Relações históricas entre os dois países

Laerte, que estuda as relações na Ásia, explica que as ligações entre os dois países datam da Segunda Guerra Mundial, quando os soviéticos apoiaram os coreanos contra os japoneses na península da Coreia.

Segundo o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, a aliança com a Coreia do Norte começou a partir de outubro de 1948, na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A URSS foi a primeira a reconhecer e estabelecer relações diplomáticas com a Coreia do Norte.

Os norte-coreanos foram um dos primeiros, também, a reconhecer a Federação Russa como sucessora legal da URSS na década de 1990, após a dissolução dos socialistas. Entre 1950 e 1953, período da Guerra da Coreia, a URSS forneceu armamentos para os norte-coreanos.

“Após o colapso da URSS, embora alguns acordos e declarações tenham sido firmados entre os dois países no começo dos anos 2000, o contexto geopolítico global era distinto. Naquele momento, a Rússia era membro do G8 e a Coreia do Norte ainda estava a alguns anos de realizar o seu primeiro teste nuclear. De lá para cá, o clima geopolítico se alterou significativamente, em especial, após o início da Guerra na Ucrânia em 2022”, destaca Apolinário Júnior.

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