Educação

Por Beatriz Herminio, com edição de Nathalie Provoste

O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) registrou a participação de quase 2,8 milhões de pessoas em 2023. Entre elas, está Maria Eduarda da Silva Nascimento, de 18 anos, que sonha em cursar medicina. Agora ex-aluna bolsista de um colégio particular em São Paulo, ela conseguiu tirar a nota máxima na seção de Matemática e suas Tecnologias.

“Não estava difícil, mas como é uma prova bem extensa, acaba sendo muito cansativo; é muito fácil se perder no meio dos cálculos. E você tem que considerar também as outras matérias que está fazendo”, ela comenta em entrevista a GALILEU.

Os resultados do Enem foram divulgados no último dia 16 e já podem ser utilizados nas inscrições para o processo seletivo de 2024 do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que abriram nesta segunda-feira (22) e vão até o dia 25 de janeiro.

Em 2023, a maior nota de matemática na prova correspondeu a 958,6 pontos, ao passo que a nota média da disciplina ficou em 534,9, conforme dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira (Inep).

No exame, é possível obter nota máxima mesmo sem gabaritar uma prova – ou seja, sem acertar todas as questões. Ao contrário da redação, que sempre vale mil, as notas mínimas e máximas das disciplinas variam a cada ano. Isso ocorre devido à Teoria de Resposta ao Item (TRI), uma metodologia que avalia o desempenho em um teste tanto pela habilidade do avaliado quanto por atributos das questões.

No caso, são levadas em conta três pontos de cada pergunta (ou “item”): o grau de dificuldade dela, a possibilidade de acerto ao acaso (o famoso "chute") e o poder de discriminação, que o Ministério da Educação (MEC) define como "a capacidade de uma questão distinguir os estudantes que têm a proficiência requisitada daqueles quem não a têm".

"Essas características permitem estimar as habilidades de um candidato avaliado e de garantir que elas, medidas a partir de um conjunto de itens, sejam comparadas com outro conjunto na mesma escala, ainda que eles não sejam os mesmos e que haja quantidades diferentes de itens usados para o cálculo", explica o MEC.

Ao corrigir suas respostas antes mesmo da divulgação dos resultados, Maria percebeu que havia errado uma questão de matemática. Assim, ficou na dúvida quanto à sua pontuação total. “O TRI é um pouco imprevisível; então eu sabia que talvez iria bem, mas não esperava tirar nota máxima. Até porque imaginei que muita gente teria gabaritado", declara.

Preparo para o Enem

Maria presta o exame nacional desde 2020 como treineiro. Formada no ensino médio no ano passado, ela entrou em um colégio da rede particular Objetivo durante o 8º ano do ensino fundamental. O ingresso ocorreu com ajuda do Instituto Social para Motivar Reconhecer Talentos (Ismart), uma instituição sem fins lucrativos que oferece bolsas para jovens de baixa renda de 12 a 15 anos em escolas particulares.

A entrada no programa acontece por meio de um processo seletivo que inclui provas e entrevistas. “Além da bolsa, a gente tem um analista para ajudar nas nossas dificuldades na escola, além de participarmos de reuniões e rodas de conversa para desenvolver outros pontos que não abordamos no colégio”, explica a estudante. “Agora, na hora do vestibular, eles também estão apoiando a gente para decisão de curso e estratégia principalmente para o Sisu.”

Para a jovem, a mudança de escola impactou positivamente os seus esforços para estudar medicina, que está entre os cursos mais concorridos do país. “Antes disso, o sonho parecia distante e impossível, pois eu sabia que, para obter uma vaga na faculdade, eu precisaria de uma boa preparação”, ela diz.

A estudante, que chegou a ficar sem aulas de matemática por um período no colégio anterior, considerava que não tinha uma base muito boa na disciplina ao iniciar o 8º ano. “Quando entrei no Objetivo, comecei a tentar recuperar o que não tive antes e corri atrás desse prejuízo. No geral, no ensino médio, [matemática] era uma área em que eu estava ok, mas não era no que eu me destacava mais.”

Maria acredita que sua maior dificuldade no passado era pensar em soluções rapidamente. Ela acabou descobrindo que a melhor forma de melhorar seu desempenho era corrigir as provas que estava fazendo na escola, conferir simulados e revisitar os testes que ela havia feito em anos anteriores.

Hoje, a jovem recomenda que estudantes se prepararem para o Enem corrigindo todos os exercícios que fazem, assim como buscando videoaulas com explicações e tirando dúvidas com professores e plantonistas.

“Só comecei a pegar o jeito dos exercícios e a perceber qual fórmula eu tinha que aplicar na hora [das provas] depois que comecei a ir atrás das explicações e a entender o que estava errando”, diz. Além disso, ela destaca a necessidade de reservar um tempo para o descanso e evitar estudar até muito tarde.

Maria Eduarda da Silva Nascimento, aluna bolsista que obteve nota máxima no Enem 2023 — Foto: Arquivo pessoal
Maria Eduarda da Silva Nascimento, aluna bolsista que obteve nota máxima no Enem 2023 — Foto: Arquivo pessoal

Maria não só obteve nota máxima da seção de matemática do Enem como também se destacou na redação do exame: conseguiu nota 960. O tema deste ano foi Desafios para o enfrentamento da invisibilidade do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil.

Ela conta que ter dado atenção à escrita ainda no ensino fundamental a ajudou a ter uma base para a dissertação em 2023. “Eu já havia conseguido bons resultados antes. Inclusive, caí um pouquinho [no desempenho] esse ano, o que me deixou um pouco triste. Mas fiquei feliz pela nota de matemática”, conta.

Maria ainda não tem certeza do futuro, mas está otimista com os seus resultados. Além de fazer o Enem, ela prestou vestibulares de algumas das principais universidades de medicina do seu estado. “Não sei direito o que vai acontecer, estou esperando o Sisu. Acho que consigo passar em alguma faculdade; porém, queria ficar em São Paulo”, confessa. “Talvez eu acabe tendo que fazer cursinho para ver se consigo passar aqui nas faculdades paulistas. Mas estou com expectativas boas.”

Mais recente Próxima Como a educação pode ser aliada contra desastres ambientais no Brasil
Mais de Galileu

Ainda não se sabe ao certo por que a estrutura abandonada explodiu, mas a hipótese mais plausível envolve um acidente com combustível

Satélite russo explode em 180 pedaços e obriga astronautas da ISS a se esconder

Pesquisa de arqueólogos tchecos que investigou 69 ossadas indica que principais marcas apareciam nas juntas, sobretudo em partes como a cintura, mandíbulas e dedão

Escribas egípcios sofriam com lesões causadas pela má postura no trabalho

Em entrevista à GALILEU, Kamilla Souza fala sobre o trabalho de extrair cérebros de cetáceos - e como eles podem ser modelos para entender, também, o cérebro humano

Brasileira é dona da maior coleção de cérebros de golfinho da América Latina

Experiência imersiva pela famosa paisagem especial foi possível a partir da combinação de imagens dos dois telescópios espaciais mais poderosos do mundo, Hubble e James Webb

Nasa desenvolve visualização 3D dos "Pilares da Criação"; veja

Dados de 390 mil adultos, coletados ao longo de 20 anos, sugerem que a ingestão de suplementos alimentares não é sinônimo de maior longevidade, ou mesmo menor risco de doenças cardíacas e câncer

Tomar multivitamínicos todo dia não ajuda você a viver mais, diz estudo

Arqueólogos acreditam que sobrevivência de criança com a síndrome para além do período de amamentação dependeu de cuidados da comunidade neandertal em que vivia

Descoberta primeira criança neandertal com síndrome de Down

Estimativas de pesquisadores podem ter implicações nos estudos sobre a estabilidade das plataformas de gelo e no aumento do nível do mar

Geleiras da Antártida guardam duas vezes mais água do que se imaginava

Novo imposto, que passa a valer a partir de 2030, visa reduzir emissões de gases de efeito estufa na atmosfera e, ao mesmo tempo, apoiar a transição verde do país

Pum de vaca faz governo da Dinamarca propor taxa de R$ 500 por animal

Análise química de estalagmites realizada em caverna do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, em Minas Gerais, demonstra que o aquecimento global tem gerado um distúrbio hidrológico na região central do país, fazendo com que parte significativa da água da chuva evapore antes mesmo de se infiltrar no terreno

Seca no Cerrado brasileiro é a pior há sete séculos, diz estudo

Naufrágio Kyrenia foi descoberto em 1965, mas, devido a problemas de conservação, não pôde ter sua idade determinada com precisão. Isso mudou com um novo estudo

Cientistas confirmam quando navio grego naufragou usando... amêndoas