Um estudo com gamers em Portugal surpreendeu cientistas ao mostrar que os jogadores mais engajados mantêm estilos de vida saudáveis, apesar de gastarem bastante tempo nas telas. Os resultados foram registrados em nova edição da revista Computers in Human Behavior.
Os pesquisadores queriam avaliar nos jogadores mais assíduos a prevalência de problemas de saúde, incluindo Transtorno do Jogo pela Internet (TJI), relatado na 5ª edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, na sigla em inglês). O distúrbio consiste no uso excessivo de jogos online, que leva ao desestímulo em outras áreas da vida e causa sintomas de abstinência.
No início de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu o vício em videogames e jogos eletrônicos como uma doença. Para o diagnóstico, deve haver prejuízo significativo ao funcionamento de uma pessoa em áreas pessoais, familiares, sociais, educacionais, ocupacionais ou outras por, pelo menos, 12 meses.
No novo estudo, os especialistas avaliaram a questão em 235 jogadores (83,3% do sexo masculino) recrutados online, que responderam a questionáriospara avaliar dados sociodemográficos, hábitos de jogo, saúde física, nutrição, atividade física, sono e saúde mental. A faixa etária dos gamers ia de 18 a 60 anos e todos haviam pelo menos sete horas por semana no mês anterior.
Os jogadores amadores representavam 81,3% da amostra. Em comparação, 18,7% eram semiprofissionais (jogadores que são pagos para jogar, mas não o suficiente para viverem disso) ou profissionais (jogadores que ganham a vida jogando). Os jogos mais populares incluíram FIFA, Counter-Strike e League of Legends, seguidos por Call of Duty, Valorant, Rocket League, GTA e Fortnite.
Os jogadores altamente engajados apresentaram um tempo médio de 3,5 horas por dia jogando e 5,5 horas gastas em outras atividades relacionadas a telas. A maioria relatou não consumir guloseimas enquanto jogava e sofreu de má qualidade de sono com hábitos mais vespertinos (60,4%).
No entanto, havia apenas três casos de TJI e metade dos jogadores relatou bem-estar psicológico. A prática de atividade física também era ótima, sendo observada em 63,8% dos jogadores. As principais modalidades eram esportes coletivos (futebol, futsal, handebol, basquete, vôlei e remo), exercícios de resistência, esportes individuais (como corrida, ciclismo, atletismo e natação) e esportes de combate.
Poucos participantes relataram consumir bebidas energéticas ou ultraprocessados enquanto jogavam, mantendo dietas saudáveis. A maioria (60,4%), porém, tomava café — alguns até quatro xícaras por dia, o que pode atrapalhar padrões de sono.
“O jogo pode ser um passatempo e nem todos os jogadores são viciados nele”, dizem Joana Cardoso, psicóloga clínica e doutoranda na Universidade da Maia, em Portugal, e Catarina Matias, da Universidade Lusófona, coautoras do estudo, em comunicado enviado ao site PsyPost.
Segundo as pesquisadoras, a maioria das suposições sobre os hábitos dos jogadores em relação a sono, consumo de lanches e padrões de atividade física não são verdadeiras, pelo menos para os gamers portugueses.
“Portanto, especialmente considerando que nosso estudo se concentra em jogadores altamente engajados, uma mensagem muito simples para levar para casa é: os jogadores parecem levar um estilo de vida saudável e equilibrado”, elas concluem.
Mas os cientistas ainda querem aprofundar sua investigação levando em conta alguns dos resultados desfavoráveis observados nos jogadores. “Há muito mais em que trabalhar”, afirmaram Cardoso e Matias. “Principalmente para entender algumas questões mentais que não conseguimos explicar."